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Sempre ouvimos falar que o tempo é constante, objetivo, que passa igual para todo mundo. Mas, ultimamente, tenho visto umas ideias interessante que mexem com essa noção. Parece que o tempo é bem mais subjetivo do que possamos imaginar, especialmente quando se fala sobre consciência e experiências de quase morte.
A teoria é a seguinte: no momento da morte, a percepção do tempo pode se esticar até parecer uma eternidade. Isso acontece devido a uma enxurrada de DMT(dimetiltriptamina), um neurotransmissor natural de nosso cérebro, e de outros neuroquímicos. Esse coquetel químico pode criar uma experiência de "vida após a morte" que parece infinita para quem está passando por ela, mesmo que o mundo lá fora continue no seu ritmo normal.
Primeiro, tem o conceito da dilatação do tempo. A ideia é que, quando estamos morrendo, o cérebro libera quantidades de DMT, conhecido por causar alucinações intensas e alterar a percepção do tempo. Essa liberação massiva faz com que a experiência de tempo se alongue, se estique de uma forma que possa parecer que dura eternamente.
Esses neuroquímicos, como o DMT, criam experiências vívidas, quase como sonhos. Quando a percepção de tempo se distorce e se mistura com essas vivências intensas, a sensação pode ser de que a estamos vivendo uma eternidade ali, naquele último suspiro.
Agora, o interessante é essa diferença entre percepção e realidade. Para quem está passando por esse momento, parece uma vida eterna. Mas, do lado de fora, para quem observa, tudo isso acontece em frações de segundos. A pessoa pode estar ali, em seus últimos momentos, mas a sensação interna é de um infinito.
Tem algumas evidências que apoiam essa teoria. A primeira é o próprio DMT. Nós sabemos que ele é um psicodélico natural que o cérebro produz e que é capaz de causar alucinações poderosas e alterar como percebemos o tempo. Em alguns estudos é mostrado que, em altas doses, como poderia acontecer na hora da morte, ele cria experiências que parecem durar muito mais do que realmente duram.
Outro ponto é o que já se sabe sobre a dilatação do tempo em situações extremas. Gente que passou por experiências de quase morte ou estresse extremo muitas vezes relata que o tempo pareceu se alongar ou comprimir. Isso encaixa bem com a ideia de que, nos últimos momentos de vida, a percepção de tempo pode se estender.
E, por fim, existe o fato do cérebro continuar ativo por um tempo depois da morte clínica. Isso sugere que ainda pode haver uma experiência subjetiva prolongada nesse final de vida.
Referências:
Maleabilidade e fluidez da percepção do tempo: A percepção do tempo é, por natureza, subjetiva e maleável. Vivenciamos uma ampla variedade de escalas temporais, que vão de menos de um segundo a décadas. Além disso, nossa percepção do tempo pode ser afetada por nossos estados de atenção e emoção. Estudos anteriores em psicologia e neuroimagem utilizaram diversos paradigmas e métodos para investigar os fatores que influenciam a percepção do tempo. Considerar esses fatores facilita abordagens para melhorar a gestão do tempo e enriquecer as experiências sensoriais. Esta coleção de estudos sobre a percepção do tempo inclui pesquisas que focam em propriedades dos estímulos, estados fisiológicos, interações entre diferentes sentidos, atenção, aprendizado, idade e ambiente. Esses achados ajudam a esclarecer os complexos mecanismos da percepção do tempo. https://www.nature.com/articles/s41598-024-62189-7
DMT Modela a Experiência de Quase Morte: Experiências de quase morte (EQMs) são experiências subjetivas complexas, que anteriormente foram associadas à experiência psicodélica, especialmente àquela induzida pelo potente serotonérgico N,N-Dimetiltriptamina (DMT). Já foram observadas semelhanças potenciais entre esses estados subjetivos, incluindo a sensação de transcender o próprio corpo e entrar em um reino alternativo, a percepção e comunicação com ‘entidades’ conscientes e temas relacionados à morte e ao morrer. Neste estudo controlado por placebo e com o mesmo grupo de participantes, nosso objetivo foi testar as semelhanças entre o estado induzido por DMT e as EQMs, administrando DMT e placebo a 13 participantes saudáveis, que posteriormente completaram uma medida validada e amplamente utilizada de EQMs. Os resultados revelaram aumentos significativos nas características fenomenológicas associadas à EQM após a administração de DMT, em comparação com o placebo. Também encontramos relações significativas entre os escores de EQM e a dissolução do ego induzida pelo DMT, bem como experiências de tipo místico. Além disso, houve uma associação significativa entre os escores de EQM e o traço de ‘absorção’ e ideação delirante medidos na linha de base. Por fim, encontramos uma sobreposição significativa em quase todas as características fenomenológicas de EQM ao comparar EQMs induzidas por DMT com um grupo correspondente de pessoas que passaram por ‘experiências reais’ de EQM. Esses resultados revelam uma notável semelhança entre esses estados, o que justifica uma investigação mais aprofundada. https://www.frontiersin.org/journals/psychology/articles/10.3389/fpsyg.2018.01424/full
O que acontece no cérebro quando morremos? Decifrando a neurofisiologia dos momentos finais da vida: Quando morremos e o que acontece no cérebro nesse momento? O mistério em torno dessas questões tem intrigado a humanidade por séculos. Apesar dos desafios em obter registros do cérebro em processo de morte, estudos recentes têm contribuído para uma melhor compreensão dos processos que ocorrem nos últimos momentos de vida. Nesta revisão, resumimos a literatura sobre as mudanças neurofisiológicas que acontecem em torno do momento da morte. Talvez a única descrição subjetiva da morte venha de sobreviventes de experiências de quase morte (EQMs). As marcas registradas das EQMs incluem a recordação de memórias, experiências fora do corpo, sonhos e estados meditativos. Examinamos as evidências que investigam as mudanças neurofisiológicas dessas experiências em indivíduos saudáveis e tentamos integrar esse conhecimento à literatura existente que investiga o cérebro em processo de morte, para oferecer uma avaliação sobre a marca neurofisiológica e o cronograma da morte. Nosso objetivo é identificar as razões que explicam as variações de dados entre os estudos nesse campo e oferecer sugestões para padronizar a pesquisa e reduzir a variabilidade dos dados. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10203241/