Eu já li muito sobre dieta cetogênica, jejum e metabolismo. Mas o que eu li nesse estudo me pegou de surpresa. Foi como se alguém tivesse revelado um "atalho bioquímico" que nosso corpo usa, escondido embaixo do nosso nariz, e isso é, para controlar o apetite e o peso. E tudo gira em torno de uma molécula que você talvez já tenha ouvido falar: o famoso β-hidroxibutirato, ou BHB.
Mas calma que a história vai além do que a maioria das pessoas sabe sobre cetose. Vamos entender como esse mecanismo funciona.
Você provavelmente já ouviu falar que o BHB é um dos principais corpos cetônicos produzidos quando jejua ou segue uma dieta cetogênica. O fígado transforma gordura em energia, e o BHB vira combustível para o cérebro, músculos e até o coração.
Só que o que esse novo estudo mostrou é que o BHB não serve apenas como “comida para cérebro”. Ele também pode se unir a aminoácidos e formar novas moléculas que ajudam a frear a fome e reduzir o ganho de peso. Isso mesmo. Ele não só alimenta como manda recado para o corpo parar de comer. É tipo um sinal químico natural do nosso organismo dizendo: “já temos energia o suficiente, pode dar uma pausa”.
Os cientistas descobriram uma rota nova, chamada de “shunt do BHB”. É como se fosse um desvio na estrada principal do metabolismo. Normalmente, o BHB é usado direto como combustível. Mas nesse caminho alternativo, ele se liga a aminoácidos — como a fenilalanina — para formar compostos inéditos, que estavam passando batidos até agora.
O principal deles é o BHB-Phe (β-hidroxibutirato conjugado com fenilalanina). Esse composto sozinho, quando injetado em camundongos obesos, fez os bichinhos comerem menos e perderem peso, mesmo sem mudar mais nada na dieta deles.
Por trás dessa rota está uma enzima que quase ninguém conhece: a CNDP2. Ela é a responsável por unir o BHB aos aminoácidos. E o mais surpreendente: quando os cientistas desligaram essa enzima nos camundongos, os bichos pararam de produzir o BHB-Phe e adivinha? Engordaram, mesmo comendo a mesma coisa e mesmo com altos níveis de corpos cetônicos circulando. Ou seja: não é só o BHB sozinho que importa. É o que o corpo faz com ele.
Os pesquisadores foram além. Testaram humanos, encontraram os mesmos compostos no sangue de pessoas que beberam uma dose de ésteres de cetona (aqueles suplementos de corpos cetônicos que viraram febre entre biohackers).
Ou seja, esse atalho metabólico não é só uma curiosidade de laboratório. Ele tá acontecendo aí dentro de você, agora mesmo, se você estiver em jejum ou em cetose. E isso abre um leque de possibilidades que vão muito além da dieta. Se você pensou: “Ah, então é só tomar BHB com fenilalanina e pronto, vou emagrecer!”, calma, vamos entender melhor.
Os cientistas testaram isso. Eles deram BHB sozinho, fenilalanina sozinha, e outras combinações parecidas. Nada funcionou tão bem quanto a molécula BHB-Phe pronta. Ela tem uma estrutura específica, e só a presença dela ativa certas áreas do cérebro responsáveis por regular o apetite.
Inclusive, eles mostraram que o BHB-Phe ativa neurônios do hipotálamo e do tronco cerebral, regiões-chave para a sensação de saciedade. Mas curiosamente, não são os mesmos neurônios ativados por outros hormônios como GLP-1 ou leptina. É uma via nova, independente.
Além da fenilalanina, o BHB também se liga à leucina, valina e metionina, aminoácidos bem conhecidos, inclusive por quem treina. Esses conjugados, chamados de BHB-Leu, BHB-Val e BHB-Met, também mostraram efeitos de redução de peso nos testes com animais.
Mas nem todos funcionaram. Conjugados com lisina, por exemplo, não deram o mesmo resultado. Então tem um padrão aí. Parece que a combinação com aminoácidos hidrofóbicos (os que não gostam de água) é a chave.
A parte mais chocante foi quando os cientistas mostraram que camundongos sem a enzima CNDP2 não só engordavam mais em cetose, como não conseguiam produzir os tais compostos mágicos.
Isso sugere que, talvez, em humanos também existam variações genéticas que afetam essa enzima. Imagina só: tem gente que entra em cetose, faz tudo “certo”, mas não tem os mesmos benefícios metabólicos porque não consegue fazer esse desvio do BHB acontecer. Isso explicaria por que nem todo mundo responde igual à dieta cetogênica. Os próprios autores do estudo levantam essa bola: e se o papel do BHB no corpo for muito maior do que imaginamos?
Porque até hoje pensávamos nele como um simples combustível alternativo, tipo a lenha que queima quando o gás acaba. Mas agora estamos vendo que ele pode agir como sinalizador, mensageiro e até regulador de fome e peso corporal.
É como se o BHB dissesse: “Ei, temos energia, podemos dar um tempo na busca por comida”. E ele faz isso não gritando, mas sussurrando nos ouvidos dos nossos neurônios, com compostos como o BHB-Phe.
Hoje, a maior parte dos tratamentos foca em cortar calorias, reduzir gordura ou usar medicamentos que imitam hormônios da saciedade. Mas essa nova linha aponta pra algo mais sutil: mexer no “idioma químico” do corpo. Falar com o cérebro usando moléculas que ele mesmo reconhece e produz naturalmente em certos contextos, como o jejum, a cetose, o exercício.
Talvez o futuro do controle de peso esteja mais ligado a ajustar o “fluxo metabólico” do que apenas contar calorias. A chave não seja tirar comida, mas ensinar o corpo a se autorregular de novo, como fazia antes da era dos ultraprocessados e da fome eterna induzida pelo marketing alimentar.
Essa pesquisa me deixou com a sensação de que o corpo humano tem uma sabedoria que a vivemos subestimando. Nós tentamos controlar tudo com números, macros, apps, mas esquecemos que existem rotas silenciosas, moléculas discretas e enzimas escondidas fazendo o trabalho duro por trás das cortinas.
Nos momentos de escassez, como durante o jejum ou a cetose, o corpo cria mensagens bioquímicas que dizem: “está tudo sob controle, não precisa comer agora”. E ele faz isso não com desespero, mas com elegância. Com moléculas como o BHB-Phe.
Eu, pessoalmente, fiquei com vontade de respeitar mais esses ciclos naturais. De usar o jejum não como punição, mas como um ritual que ativa sabedorias internas. De olhar pra cetose como algo mais profundo do que uma simples queima de gordura.
E quem sabe, no futuro, a ciência consiga desenvolver versões dessas moléculas pra tratar obesidade de forma mais humana, mais inteligente e menos agressiva. Já pensou um suplemento que imita o BHB-Phe? Ou melhor: um estilo de vida que ensina seu corpo a produzi-lo de forma natural?
Por enquanto, o que eu posso fazer é continuar explorando. Experimentando jejum intermitente. Ajustando minha alimentação pra estados metabólicos mais eficientes. E, acima de tudo, ouvindo meu corpo. Porque ele tá falando, só precisamos aprender a escutar.