Entendendo a impulsividade

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Em alguns casos, eu prefiro andar pela cidade para encontrar uma bebida que tanto gosto, do que ir para a academia malhar. Isso sempre me intrigou como nossos impulsos podem ditar o rumo das nossas ações, mesmo quando a razão grita para irmos na direção contrária. Ou seja, eu andar por toda a cidade para tentar achar uma bebida do que ir na academia que seria muito mais proveitoso para minha saúde não tem muita lógica, não é? A psicologia e a neurociência têm mergulhado fundo nesse tema, tentando desvendar o que nos leva a agir impulsivamente. Desde aquela vontade incontrolável de comer um pedaço de bolo até decisões mais sérias, nossos impulsos estão por toda parte, moldando nossas escolhas e influenciando nosso comportamento. Mas afinal, o que são esses impulsos e de onde eles vêm?

Os impulsos são reações automáticas que surgem sem um planejamento consciente. Eles aparecem como respostas rápidas a estímulos externos ou internos e, muitas vezes, nos pegam desprevenidos. Quando nos sentimos ameaçados, o impulso de lutar ou fugir pode nos dominar. Já em situações prazerosas, o desejo de repetir aquela sensação boa aparece sem avisar. O interessante é que esses impulsos não surgem do nada, eles são resultados de processos complexos que acontecem no nosso cérebro, envolvendo emoções, memória, e expectativas.

O exemplo de buscar uma bebida e da academia pode nos mostrar isso. É como se houvesse uma batalha constante dentro de nós: de um lado, os impulsos nos empurrando para ações imediatas; do outro, o controle tentando colocar o pé no freio. A diferença entre os dois é que o impulso é automático, rápido e muitas vezes irracional, enquanto o controle exige reflexão, análise e, principalmente, resistência. E quem nunca se sentiu dividido entre seguir um impulso ou exercer autocontrole? É uma luta interna que todos nós conhecemos bem.

Quando falamos de decisões, os impulsos desempenham um papel importante. Eles podem ser benéficos em algumas situações, como agir rapidamente em uma emergência, mas também podem nos levar a escolhas das quais podemos nos arrepender. Tomar decisões com base apenas no impulso pode ser arriscado — e muitas vezes podem nos levar a situações que não gostaríamos —, porque deixamos de considerar todas as variáveis envolvidas. É por isso que muitas técnicas de tomada de decisão incluem momentos de pausa e reflexão, para que o impulso inicial não seja o único fator a influenciar nossas escolhas.

Neurocientificamente falando, os impulsos estão profundamente ligados à nossa estrutura cerebral. Eles são principalmente regulados pelo sistema límbico, que controla nossas emoções, enquanto o córtex pré-frontal — a parte do cérebro responsável pelo pensamento racional e controle — tenta moderá-los. Em pessoas com um funcionamento normal, há um equilíbrio saudável entre essas duas áreas. No entanto, quando o córtex pré-frontal não consegue exercer seu papel adequadamente, os impulsos tomam a dianteira.

Existem algumas condições de saúde mental em que o controle dos impulsos se torna especialmente desafiador. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um exemplo, onde a dificuldade de manter o foco e controlar impulsos é um sintoma predominante. Outros transtornos, como cleptomania (impulso incontrolável de roubar), piromania (impulso de provocar incêndios) e transtorno explosivo intermitente (explosões de raiva desproporcionais), são classificados especificamente como transtornos de controle dos impulsos, cada um com suas particularidades e desafios únicos.

No TDAH, o controle dos impulsos é uma luta diária. Indivíduos com TDAH frequentemente agem antes de pensar, interrompem conversas, e têm dificuldades em resistir a estímulos distrativos. Já nos Transtornos de Controle dos Impulsos, o problema não é a distração, mas a incapacidade de resistir a um impulso que, muitas vezes, pode ser destrutivo para si e para os outros. Ambos os casos exigem intervenções específicas e um entendimento profundo das nuances de cada transtorno.

A ciência do comportamento, por sua vez, enxerga os impulsos como respostas reforçadas ao longo do tempo. Se uma ação impulsiva é recompensada (mesmo que de forma indireta), a tendência é que ela se repita. Da mesma forma, se um impulso é sempre suprimido com punição, a resposta impulsiva pode se tornar cada vez mais intensa. Esse campo do conhecimento tenta entender como moldar o comportamento para minimizar respostas impulsivas prejudiciais e maximizar as benéficas.

Dentro da abordagem comportamental, como o reforço positivo e negativo, são amplamente utilizadas para o controle de impulsos. Essas terapias se concentram em substituir comportamentos impulsivos por respostas mais pensadas, utilizando recompensas e punições estratégicas. A ideia é criar um ambiente em que os comportamentos impulsivos sejam menos frequentes, reforçando aqueles que são mais benéficos e desejáveis.

Por outro lado, nem todos os impulsos são ruins. Na verdade, eles podem ser essenciais para a criatividade e a produtividade. Muitos artistas, escritores e inovadores relatam que seus melhores trabalhos surgiram de impulsos espontâneos. A diferença aqui está na habilidade de direcionar esses impulsos para atividades criativas ou produtivas, transformando o que poderia ser uma distração em um momento de inspiração.

Ao final, entender nossos impulsos é reconhecer uma parte fundamental de quem somos. E de fato, ele pode ser um problema para todos nós quando se torna uma patologia. Mas também ele pode proporcionar um conhecimento para compreender nosso cérebro. E claro, se ele for aproveitado pode gerar uma boa criatividade também. Afinal, é nessa dança entre razão e emoção que se encontra a riqueza da experiência humana.


Referências:

Impulsividade: https://pt.wikipedia.org/wiki/Impulsividade

Insights recentes sobre a neurobiologia da impulsividade: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4242429/

Distúrbios de controle de impulso: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK562279/

Tratamento cognitivo-comportamental para transtornos de controle de impulsos:  https://www.scielo.br/j/rbp/a/65S7wLHCWQVbBS9QBkMHsqq/?lang=en

Outro olhar sobre a impulsividade: o comportamento impulsivo poderia ser estratégico: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8168538/

 A estrutura da cognição criativa no cérebro humano: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3703539/

A criatividade artística impulsiva como apresentação de alterações cognitivas transitórias: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/1878614/

Criatividade no TDAH: direcionada a metas Motivação e especificidade de domínio: https://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/1087054717727352

Avaliação Comportamental da Impulsividade: Uma comparação de crianças com e sem transtorno de déficit de atenção e hiperatividade: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1224407/

ABA no tratamento do transtorno de comportamento agressivo e falta de controle de impulsos: https://www.appliedbehavioranalysisedu.org/aggression-and-impulse-control/

Isolamento social

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Uma das consequências mais marcantes da resposta da sociedade à COVID-19 foi a comprovação de que nossa necessidade de interações sociais é tão fundamental quanto a de uma boa alimentação e sono. A pandemia trouxe algumas questões de o quanto precisamos estar perto das pessoas, mesmo que só percebemos isso quando esse contato é tirado.

O distanciamento físico, as quarentenas e os lockdowns aumentaram bastante os casos de depressão, tanto em adultos quanto em adolescentes. Em alguns estudos sobre a importância de interações sociais anteriores já mostravam que pessoas que passam por isolamento social prolongado, como órfãos e idosos que vivem sozinhos, correm um risco maior de desenvolver depressão e problemas para dormir. A pandemia só nos mostrou e relembrou essa ideia, tornando mais evidente o impacto negativo do isolamento em nossa saúde mental.

Se olharmos para o reino animal, vemos algo semelhante. Macacos criados em isolamento parcial ou total desde o nascimento, mostraram comportamentos hostis e dificuldades em formar laços sociais adequados na adolescência ou na fase adulta. E o grau de dano social era diretamente proporcional ao tempo ficado isolados. Em estudos de neuroimagem feitos tanto em humanos quanto em macacos, revelaram alterações estruturais em áreas críticas do cérebro, como o córtex pré-frontal e a amígdala, essenciais para interações sociais normais e controle das emoções. Em menor grau, também foram observadas mudanças no hipocampo. A amígdala, em particular, apresentou um aumento de volume em resposta ao isolamento social, o que pode explicar muitos dos problemas emocionais profundos que surgiram.

As mudanças celulares foram observadas, como alterações significativas no desenvolvimento dos oligodendrócitos, responsáveis pela formação da mielina, o que chamamos de substância branca. A mielina é muito importante para a comunicação entre os neurônios no cérebro. Os estudos também apontaram anormalidades nessas partes, como a redução do volume total de substância cinzenta e branca no córtex pré-frontal e no hipocampo. A perda de substância branca explica provavelmente os padrões anormais de atividade cerebral observados em crianças que cresceram em isolamento social, conforme relatado por análises de eletroencefalografia.

Essas mudanças na atividade neural refletem um atraso significativo na maturação do córtex cerebral. Crianças que passaram por isolamento social precoce, como em orfanatos, mostraram uma integridade reduzida da substância branca, especialmente nas vias neurais que conectam os lobos frontal e temporal, onde o pensamento e as memórias são processados. As mudanças na conectividade entre regiões do cérebro estavam associadas a um aumento nos problemas comportamentais. Um exemplo específico é a perda de conexão entre o córtex pré-frontal e a amígdala, áreas críticas para a regulação das emoções e aprendizado do medo, sendo apontada como a principal responsável pelos comportamentos imaturos e problemas sociais que persistem após um longo período de isolamento.

Já nos adultos, após o isolamento social, os sistemas neurais de dopamina se tornaram seletivamente ativados ao ver imagens de atividades sociais, algo parecido com o que acontece quando vemos comida depois de um jejum prolongado. Um estudo recente mostrou que a redução das interações sociais durante a pandemia resultou em aumento de volume na amígdala, putâmen e córtex temporal anterior em ambos os hemisférios do cérebro.

O mais interessante é que as mudanças na amígdala começaram a diminuir com o passar do tempo, após o fim dos lockdowns. Isso sugere que, pelo menos nos adultos, as alterações cerebrais causadas pelo isolamento social prolongado devido à pandemia são reversíveis. Essa é uma boa notícia e um lembrete de que, apesar dos impactos negativos, o nosso cérebro tem uma incrível capacidade de se adaptar e se recuperar.

 


Referências

 Pandemia de COVID-19 desencadeia aumento de 25% na prevalência de ansiedade e depressão em todo o mundo: https://www.paho.org/pt/noticias/2-3-2022-pandemia-covid-19-desencadeia-aumento-25-na-prevalencia-ansiedade-e-depressao-em

Isolamento social e o cérebro: efeitos e mecanismos: https://www.nature.com/articles/s41380-022-01835-w

Neurociência Afetiva da Solidão: Mecanismos Potenciais Subjacentes à Associação entre Isolamento Social Percebido, Saúde e Bem-Estar: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9910279/

A empatia e a neurociência

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Ouça o artigo:


Empatia é uma das coisas, se não for a mais fascinantes que nós, seres humanos, sentimos. Talvez seja algo que realmente nos faz sermos humanos. Mas você já parou para pensar sobre o que significa realmente "sentir" a dor de outra pessoa? Ela é frequentemente usada no nosso cotidiano, mas o que a ciência moderna nos diz sobre isso? Recentemente, a neurociência começou a tentar desvendar os verdadeiros mistérios por trás dessa capacidade humana. Vamos explorar como nosso cérebro processa essas emoções compartilhadas e como isso pode ter um impacto em nossas ações.

Você já se preocupou com alguma pessoa em sua volta, dela está triste ou desanimada e isso te incomodou? A maioria das vezes é a "empatia" agindo em seus processos cerebrais, tentando criar um sentimento pela outra pessoa, ou tentando entender o sentimento dela. Mais do que uma simples reação emocional, ela envolve uma série de processos cerebrais complexos, todos eles interrelacionando. Quando observamos alguém em sofrimento, certas regiões do nosso cérebro são ativadas de forma semelhante à quando estamos sofrendo também. Isso significa que, em um nível neurológico, nós realmente "sentimos" o que a outra pessoa está passando.

A empatia não é um fenômeno uniforme, ela varia de acordo com fatores como o contexto, o tipo de relacionamento com a pessoa que está sofrendo e até a emoção que estamos sentindo na hora. Você pode sentir uma empatia mais forte por uma pessoa e ter uma mais moderada por outra e isso varia também até do momento. Embora a empatia pareça ser uma resposta automática e mecânica, é, na verdade, um fenômeno flexível e moldado por diferentes influências que estamos sentindo.

Em estudos de neuroimagem, como a ressonância magnética funcional, foi mostrado que a empatia envolve a ativação de várias regiões cerebrais, alguma delas como a ínsula anterior e o córtex cingulado anterior. Estas áreas estão envolvidas na experiência direta de emoções e na percepção da dor. Quando vemos alguém se machucar, ou precisando de ajuda, não apenas imaginamos a dor, mas também ativamos os circuitos cerebrais associados à dor, ou seja, sentimos também a dor de outra pessoa em nosso próprio corpo.

Ela também envolve um processamento cognitivo, como a capacidade de imaginar a perspectiva da outra pessoa diante a situação. Isso permite que ajustemos nossa resposta empática naquele dado momento e dependendo de quem é o alvo ou do contexto em que se ocorre. Assim, o cérebro funciona coordenando diferentes sistemas para gerar uma resposta empática adequada​.

Um dos maiores interesses na pesquisa sobre empatia é entender como ela se relaciona com o comportamento social. Afinal, sentir a dor do outro é apenas o primeiro passo. A empatia, muitas vezes, leva ao que é conhecido como "preocupação empática" ou "compaixão", que é um sentimento orientado para ajudar o outro. Alguns estudos têm mostrado que há uma conexão clara entre a preocupação empática e comportamentos pró-sociais, como ajudar ou confortar alguém em necessidade. E isso pode ter um benefício social.

No entanto, essa conexão não é sempre direta. Um excesso de empatia pode, paradoxalmente, levar a uma resposta de angústia pessoal, onde o indivíduo se sente tão angustiado com o sofrimento do outro que prefere se afastar para aliviar seu próprio desconforto. Nem sempre a empatia resulta em ações altruístas, às vezes, pode levar ao egoísmo e à fuga do sofrimento percebido​.

Um campo de pesquisa especialmente interessante é a investigação sobre as diferenças individuais na capacidade de sentir empatia. Por que algumas pessoas parecem ser naturalmente mais empáticas do que outras? A neurociência sugere que essas variações podem estar ligadas a diversos fatores, como a genética, os níveis hormonais, as experiências e crenças vividas ao longo da vida. Também há indícios de que certas características de personalidade, como a extroversão ou o estilo de apego, possa desempenhar um papel importante em como as pessoas percebem e reagem às emoções dos outros. Exemplificando, pessoas mais extrovertidas tendem a demonstrar maior empatia, possivelmente porque têm uma habilidade mais desenvolvida para se conectar socialmente e se colocar no lugar do outro. Em outros casos semelhantes, indivíduos com estilos de apegos mais fortes, geralmente mostram uma resposta mais forte e consistente em ajudar.


Dado o papel central da empatia na vida social, muitos pesquisadores estão interessados em saber se é possível treinar a empatia. Alguns sugerem que sim, mas o tipo de treinamento que poderia ser mais eficaz continua a ser debatido. Treinamentos que focam em aumentar a consciência sensorial e o compartilhamento afetivo entre as pessoas, ou que desenvolvem sentimentos compassivos positivos para reduzir a angústia pessoal, parecem mostrar ser promissores. Contudo, esses treinamentos podem variar muito conforme a idade, personalidade e experiência do indivíduo e não dá para saber totalmente a eficácia ou o melhor treinamento.

A empatia é um fenômeno fascinante e no mesmo tempo bem complexo para entendermos, ela é moldada por fatores biológicos, psicológicos e sociais. Os avançamos na nossa compreensão deste fascinante aspecto da natureza humana, podemos começar a explorar formas de cultivá-la para construir sociedades mais conectadas. Esse foi apenas um resumo das pesquisas, e novas vão surgir, e nosso entendimento de cada mecanismo não foi bem estabelecido. Afinal, a empatia não é apenas sobre sentir a dor do outro, mas também sobre agir para aliviar essa dor e promover o bem-estar coletivo.



Referências

Sinto como você se sente, mas nem sempre: o cérebro empático e sua modulação: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18692571/

O substrato neural da empatia humana: efeitos da tomada de perspectiva e da avaliação cognitiva: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17214562/

A questão do altruísmo: Rumo a uma resposta sócio-psicológica: https://psycnet.apa.org/record/1991-98405-000

A questão do altruísmo: Rumo a uma resposta sócio-psicológica: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16998603/

A base neural da empatia: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22715878/

Entendendo o papel de grupos sociais.

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Já parou para pensar em como nossas interações dentro de grupos moldam quem somos e como agimos? Eu sempre achei interessante como os grupos funcionam, como influenciam nossos comportamentos e como, muitas vezes, nós nem percebemos o quanto somos afetados. Em muitos estudos de sociologia têm investigado essa dinâmica há décadas, e com o tempo, muitas coisas interessantes foram descobertas.

Vamos começar pelo básico: o que exatamente é um grupo? Parece óbvio, mas nem sempre é tão simples. Um grupo é, essencialmente, um conjunto de pessoas que se juntam com um propósito comum. Pode ser um grupo de amigos, colegas de trabalho, ou até mesmo um time esportivo. O mais interessante é que, para essa coletividade ser realmente um grupo, seus membros precisam se ver como parte de algo maior, compartilhar objetivos e respeitar certas normas.

Em alguns estudos é mostrado que pequenos grupos são os mais comuns. Esses grupos que são pesquisados dentro da sociologia, se tornam mais fácil de observar e analisar seus comportamentos e, geralmente, nos dão uma ideia mais clara de como funciona a dinâmica social.

Um ponto que sempre me chamou atenção é como as normas de um grupo — aquelas regras que dizem o que é ou não é aceitável — podem moldar nosso comportamento. Por exemplo, eu sempre participei de grupos de bate-papo, e muito deles tem regras para manter um diálogo produtivo e para começar o debate. Essas normas guiam as atitudes dos membros e ajudam a manter a coesão do grupo. Se você quer continuar fazendo parte do grupo, você segue as normas, caso contrário, pode ser excluído. Isso na internet, e até mesmo em um ambiente social.

Em grupos sociais, a forma é um pouco mais ampla, mas não diferente muito dos da internet — desde que tenha um pouco de respeito entre ambos. É comum perceber que nos comportamos de maneira diferente quando estamos sozinhos em comparação quando estamos em grupo. Eu mesmo já me peguei agindo de maneiras diferentes dependendo da companhia. E, curiosamente, isso é mais observado em membros que estão num nível intermediário dentro do grupo — aqueles que seguem as regras tanto no grupo quanto fora dele, talvez para garantir sua posição.

O mais interessante é que nem sempre seguir as normas é o melhor caminho dentro de grupos. Em algumas situações, desviar-se das normas pode trazer resultados interessantes. Em alguns casos, a pessoa pode quebrar regras caso elas estão prejudicando o grupo. Pois é, às vezes, um pouco de rebeldia pode impulsionar a uma mudança ou alcançar algumas outras possibilidades para o grupo.

Outro ponto que não sai da minha cabeça é como os grupos conseguem influenciar tanto a nossa atitude quanto a nosso comportamento. Quando nossas atitudes estão alinhadas com as normas do grupo, elas tendem a se fortalecer. Mas, se nossas atitudes vão contra essas normas, logo surge uma pressão para mudar.

Por exemplo, eu já trabalhei em equipes de desenvolvimento de software e senti na pele como a presença de outras pessoas pode tanto aumentar a minha motivação para o desenvolvimento quanto criar uma tensão que me faz ficar um pouco com medo de errar. Dependendo das minhas predisposições naturais — se eu tenho tendência a acertar ou errar — o ambiente de grupo pode amplificar esses comportamentos. E aqui entra aquele fenômeno interessante: a "preguiça social", quando a gente faz menos esforço em grupo do que faria sozinho. Ou seja, em grupos você faz muito menos esforço em tarefas do que precisaria fazer sozinhos.

Falando em grupos, não dá para não mencionar os papéis e a liderança. Cada pessoa assume um papel específico, moldado pelas necessidades e preferências do grupo. Eu já vi isso acontecer muitas vezes: sempre tem aquele que é o "líder natural", o "conselheiro", o "criador de caso"... E cada um desses papéis é fundamental para o equilíbrio do grupo. Parece até engraçado, mas é o que acontece.

A liderança, em particular, pode variar muito. Em alguns grupos, a liderança é mais situacional em outros, é uma questão de quem é mais carismático ou quem se alinha melhor com as normas do grupo. E parece que, quando o líder está mais em sintonia com as regras e os valores do grupo, a confiança entre os membros tende a ser maior.

Nós vivemos em um mundo onde as interações entre grupos são constantes — desde times de futebol até departamentos em uma empresa. O conflito entre grupos é quase inevitável. Segundo teorias, a competição por recursos limitados é uma das principais causas desses conflitos. É fácil de entender: quanto maior a competição, maior o conflito. Nós como seres humanos, temos, talvez um instinto para uma competição, e isto muitas vezes podem impulsionar o grupo.

Eu mesmo já vi isso acontecer várias vezes. Em uma equipe de desenvolvimento de software onde trabalhei, havia uma disputa constante, e isso gerou muita tensão. Mas também aprendi que, apesar de parecer negativo, o conflito pode trazer alguns benefícios, como aumentar a solidariedade dentro do próprio grupo. Organizações acabam aprendendo muito com esses conflitos, e muitas vezes, o diálogo é a chave para resolver as diferenças.

Trabalhar em grupo é quase inevitável em qualquer ambiente profissional. E sabe por quê? Porque os grupos são essenciais para resolver problemas, aumentar a criatividade, melhorar a comunicação e até mesmo aumentar a satisfação no trabalho. E, aliás, ter mais cabeças em observar, analisar, e debater é fundamental para se ter um melhor conhecimento da situação. Cada um pode contribuir para melhor desenvolvimento e conhecimento. Tenho visto, na prática, como o trabalho em equipe pode fazer a diferença na produtividade e na moral de todos.

Quando as condições são favoráveis e o grupo funciona em uma boa energia de desenvolvimento, a diferença entre o esforço de um grupo e de um indivíduo fica clara: juntos, trabalhamos mais e melhor. Isso é um trunfo importante para qualquer organização que busca se destacar no mercado.

Agora para concluir essa postagem, o benefício de se manter em grupo é variado. Refletir sobre a dinâmica de grupos é, no fundo, refletir sobre nós mesmos. Cada um contribuindo do jeito que pode, de acordo com suas crenças, valores e capacidade. Eu acredito que acada um tem uma importância para impulsionar um grupo e melhorar ele e trazer coisas novas, e compartilhar. É entender como nossas interações, tanto no trabalho quanto na vida pessoal, moldam nossas atitudes e comportamentos. E, com as mudanças constantes no mundo de hoje, essa reflexão se torna cada vez mais relevante. 



Referências:

Dinâmica de grupos: https://en.wikipedia.org/wiki/Group_dynamics

Estabelecendo e Mantendo Normas de Grupo: https://pressbooks.pub/smallgroup/chapter/norms/

Como aprendemos as normas sociais: um modelo de três estágios para a aprendizagem das normas sociais: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10272593/

Influência social: https://en.wikipedia.org/wiki/Social_influence


Sinestesia

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Quando ouvimos falar de sinestesia, geralmente pensamos em algo exótico ou totalmente diferente no qual estamos acostumados, uma experiência rara de misturar sentidos que, para muitos de nós, parece quase como poderes sobrenaturais. Mas, do ponto de vista da neurociência, a sinestesia é um fenômeno fascinante que revela muito sobre como o nosso cérebro funciona. Basicamente, a sinestesia ocorre quando a estimulação de um sentido provoca uma resposta automática em outro. Uma pessoa pode ouvir uma nota musical e “ver” uma cor associada a ela, ou provar um sabor ao olhar para um número. Para entender como isso é possível, precisamos mergulhar um pouco mais fundo no funcionamento cerebral e nas complexas redes de neurônios que compõem toda sua estrutura.

Existem diferentes tipos de sinestesia, e cada uma delas tem suas próprias características e fundamentos biológicos. Entre as mais comuns estão a sinestesia grafema-cor, onde letras ou números evocam cores específicas; a sinestesia de som-cor, em que sons provocam sensações visuais coloridas; e a sinestesia de sabor-palavra, em que palavras específicas podem gerar sensações gustativas. Mas o que causa essas ligações entre os sentidos? A base biológica por trás da sinestesia parece estar na conectividade neural aumentada ou atípica entre regiões do cérebro que normalmente não interagem tão diretamente. Essas conexões extras ou cruzadas criam "atalhos" no cérebro, permitindo que a informação de um sentido "escape" para o domínio de outro, resultando na experiência sinestésica.

A conectividade neural da sinestesia é um dos campos de estudo mais intrigantes e, ao mesmo tempo, fascinantes dentro da neurociência. Pesquisas com neuroimagem, como ressonância magnética funcional (fMRI), mostraram que, em cérebros sinestésicos, há uma ativação simultânea em áreas que, normalmente, seriam independentes. Quando uma pessoa sinestésica ouve uma nota musical, não só a região auditiva do cérebro se ativa, mas também as áreas associadas à visão de cores. Isso sugere que há conexões neuronais adicionais, ou talvez um "vazamento" de informações entre os sentidos. Em alguns estudos têm sugerido que essas conexões extras são vestígios de uma hiperconectividade que todos nós possuímos durante a infância, mas que a maioria das pessoas perde ao longo do desenvolvimento. No caso dos sinestetas, essas conexões permanecem, moldando como percebem o mundo.

A neuroplasticidade, ou a capacidade do cérebro de reorganizar suas conexões neuronais, desempenha um papel essencial na compreensão da sinestesia. Essa capacidade de reorganização é o que nos permite aprender novas habilidades, como tocar um instrumento musical ou aprender um novo idioma, e, no caso dos sinestetas, pode ser o que mantém as conexões entre os sentidos ativas. O que é fascinante é que a neuroplasticidade pode não só explicar a sinestesia como também como essa habilidade pode ser treinada ou ampliada. Existem alguns relatos de pessoas que, com prática e treinamento específico, conseguem desenvolver alguma forma de sinestesia adquirida, o que indica que nossos cérebros são muito mais maleáveis do que imaginamos.

Há também um fator genético envolvido. Estudos com famílias e gêmeos sugerem que a sinestesia pode ter um componente hereditário. Embora o gene ou os genes específicos ainda não tenham sido identificados, há uma forte evidência de que a sinestesia tende a ocorrer em famílias, o que sugere uma predisposição genética. No entanto, é importante destacar que a genética da sinestesia é provavelmente complexa e poligênica, o que significa que vários genes podem estar envolvidos, cada um contribuindo de forma sutil para o desenvolvimento dessa característica única. Além disso, esses genes podem interagir com o ambiente de maneiras que ainda estamos começando a entender.

A sinestesia adquirida é um campo particularmente curioso de analisar. Diferente da sinestesia "natural", que é percebida desde a infância, a sinestesia adquirida pode surgir após experiências específicas, como lesões cerebrais, uso de drogas psicodélicas, ou mesmo através de práticas meditativas intensas. Em muitos casos, essas formas adquiridas de sinestesia sugerem que o cérebro é capaz de criar novas conexões ou reativar antigas de maneira inesperada. Isso levanta perguntas sobre a flexibilidade do cérebro humano e a possibilidade de que todos nós possamos, potencialmente, experimentar alguma forma de sinestesia se determinadas condições forem atendidas.

Falando em impacto, a sinestesia tem um efeito significativo na memória. Muitos sinestetas relatam que suas memórias são mais vivas e detalhadas devido às associações sensoriais cruzadas. Isso faz sentido do ponto de vista da neurociência, pois a interconectividade entre diferentes regiões cerebrais pode criar múltiplos "pontos de acesso" para a recuperação de uma lembrança. Um sinesteta que vê cores ao ouvir músicas pode ter uma memória mais rica de uma experiência musical porque seu cérebro está processando a informação em várias dimensões sensoriais ao mesmo tempo. Essa "memória multimodal" pode ser uma vantagem cognitiva, proporcionando uma maneira única de armazenar e acessar informações.

No final, o estudo da sinestesia oferece uma importante e fascinante compreensão do cérebro humano e das complexas maneiras como ele processa informações. Ao explorar as bases neurais, a conectividade cerebral, a neuroplasticidade, a genética, e os efeitos da sinestesia na memória, aprendemos que o cérebro é uma estrutura extremamente adaptável e criativa. E, talvez, ao entender melhor como e por que a sinestesia ocorre, possamos também aprender mais sobre o potencial inexplorado de sua estrutura.




Referências:

Uma breve história de 200 anos da sinestesia: https://thereader.mitpress.mit.edu/a-brief-200-year-history-of-synesthesia/

Tipos de sinestesia: https://www.betterhelp.com/advice/synesthesia/the-many-types-of-synesthesia-explained/

Como os diferentes tipos de sinestesia se agrupam? Implicações para mecanismos causais:  https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8811335/

Transmissão de sinais de cima para baixo e hiperconectividade global na sinestesia auditivo-visual: Evidências de um estudo funcional de EEG em estado de repouso:  https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6866463/

Ouvir cores: um exemplo de plasticidade cerebral - https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4396351/

A Sobrevivência do Gene da Sinestesia: Por que Algumas Pessoas Ouvem Cores e Sentem o Sabor das Palavras? : https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3222625/

Adultos Podem Ser Treinados para Adquirir Experiências Sinestésicas: https://www.nature.com/articles/srep07089

Relato de Caso de Sinestesia Adquirida e Aumento da Criatividade em um Músico Após Lesão Cerebral Traumática: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37149895/

 Os sinestetas têm melhor memória? : https://www.news-medical.net/health/Do-Synesthetes-Have-Better-Memory.aspx

Aprendizagem, memória e sinestesia: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3648671/

Reflexões sobre o cérebro

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Ouça o artigo: 

É um fato que a nossa capacidade de pensar, raciocinar e ter consciência está totalmente ligada ao cérebro e ao seu desenvolvimento ao longo da evolução. O cérebro humano é uma estrutura extremamente complexa, cheia de neurônios interligados, que formam redes responsáveis por tudo que envolve nossa cognição, emoções e até movimentos. Mas o que isso realmente significa?

O cérebro é o responsável pelas funções mais avançadas que temos, como pensar, falar, lembrar, criar e até ter consciência de nós mesmos e do mundo à nossa volta. Existem áreas específicas, como o córtex pré-frontal, que lidam diretamente com o pensamento abstrato, decisões, resolução de problemas e a nossa capacidade de planejar o futuro. Tudo que percebemos — o que sentimos, pensamos e vemos — depende de uma integração muito bem feita de informações por várias partes do cérebro.

Se não tivéssemos um cérebro, ou se ele não tivesse evoluído do jeito que aconteceu, não conseguiríamos raciocinar, refletir ou ter consciência da forma como conhecemos hoje. Nossa consciência e a capacidade de pensar de forma complexa são frutos de processos neurológicos emaranhados que só acontecem por causa dessa máquina fantástica que é o cérebro.

Agora, para entender essa complexidade, vamos comparar com seres bem mais simples, como bactérias e vírus. Eles não têm sistema nervoso, muito menos um cérebro. Bactérias são seres unicelulares que seguem o básico para sobreviver e se reproduzir, tudo guiado pelas instruções do seu DNA. Elas reagem ao ambiente, mas é tudo bem instintivo, nada de pensamentos ou decisões conscientes.

Vírus, então, são ainda mais simples. Basicamente, são pacotes de material genético (DNA ou RNA) envoltos por uma proteína. Não têm células, metabolismo próprio e dependem de invadir células hospedeiras para se reproduzir. O "comportamento" de um vírus é totalmente determinado pelas informações contidas no seu material genético.

Esses organismos, como bactérias e vírus, funcionam de um jeito muito reativo. Tudo é feito para garantir a sobrevivência e reprodução, mas sem nenhuma forma de raciocínio, planejamento ou autoconsciência. Eles respondem ao ambiente de maneira automática, quase como um reflexo.

A grande diferença entre seres como nós e esses organismos mais simples é a complexidade neurológica. Ao longo da evolução, o cérebro humano desenvolveu uma estrutura extremamente sofisticada que permite o surgimento de habilidades cognitivas avançadas. Partes como o córtex cerebral, o hipocampo e a amígdala cuidam da nossa memória, do raciocínio, do controle emocional e da consciência de quem somos. É graças a essas partes que conseguimos criar arte, ciência, cultura, desenvolver moralidade e ter conversas complexas.

Se não tivéssemos um cérebro, ou se ele fosse tão simples quanto os mecanismos bioquímicos de uma bactéria ou vírus, não seríamos capazes de pensar, planejar ou ter emoções complexas. Tudo seria feito de maneira instintiva e automática, sem nenhuma reflexão ou consciência.

No fim das contas, a consciência e o pensamento são produtos da atividade neural do nosso cérebro. Dependem da forma como ele é estruturado e funciona, especialmente do córtex cerebral e das conexões com outras partes do cérebro. Se o cérebro fosse menos complexo, nosso comportamento seria bem parecido com o de organismos simples — tudo reflexo e resposta automática.

Então, a grande conclusão aqui é que nossa capacidade de raciocinar, pensar e ter consciência do mundo ao nosso redor depende completamente de um cérebro complexo. Sem ele, seríamos como bactérias ou vírus, reagindo ao mundo de forma automática, sem a riqueza da experiência humana que conhecemos. O cérebro é, sem dúvida, a base de tudo o que nos torna quem somos.

A natureza subjetiva do tempo e a vida após a morte

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 Ouça o artigo:

Sempre ouvimos falar que o tempo é constante, objetivo, que passa igual para todo mundo. Mas, ultimamente, tenho visto umas ideias interessante que mexem com essa noção. Parece que o tempo é bem mais subjetivo do que possamos imaginar, especialmente quando se fala sobre consciência e experiências de quase morte.

A teoria é a seguinte: no momento da morte, a percepção do tempo pode se esticar até parecer uma eternidade. Isso acontece devido a uma enxurrada de DMT(dimetiltriptamina), um neurotransmissor natural de nosso cérebro, e de outros neuroquímicos. Esse coquetel químico pode criar uma experiência de "vida após a morte" que parece infinita para quem está passando por ela, mesmo que o mundo lá fora continue no seu ritmo normal.

Primeiro, tem o conceito da dilatação do tempo. A ideia é que, quando estamos morrendo, o cérebro libera quantidades de DMT, conhecido por causar alucinações intensas e alterar a percepção do tempo. Essa liberação massiva faz com que a experiência de tempo se alongue, se estique de uma forma que possa parecer que dura eternamente.

Esses neuroquímicos, como o DMT, criam experiências vívidas, quase como sonhos. Quando a percepção de tempo se distorce e se mistura com essas vivências intensas, a sensação pode ser de que a estamos vivendo uma eternidade ali, naquele último suspiro.

Agora, o interessante é essa diferença entre percepção e realidade. Para quem está passando por esse momento, parece uma vida eterna. Mas, do lado de fora, para quem observa, tudo isso acontece em frações de segundos. A pessoa pode estar ali, em seus últimos momentos, mas a sensação interna é de um infinito.

Tem algumas evidências que apoiam essa teoria. A primeira é o próprio DMT. Nós sabemos que ele é um psicodélico natural que o cérebro produz e que é capaz de causar alucinações poderosas e alterar como percebemos o tempo. Em alguns estudos é mostrado que, em altas doses, como poderia acontecer na hora da morte, ele cria experiências que parecem durar muito mais do que realmente duram.

Outro ponto é o que já se sabe sobre a dilatação do tempo em situações extremas. Gente que passou por experiências de quase morte ou estresse extremo muitas vezes relata que o tempo pareceu se alongar ou comprimir. Isso encaixa bem com a ideia de que, nos últimos momentos de vida, a percepção de tempo pode se estender.

E, por fim, existe o fato do cérebro continuar ativo por um tempo depois da morte clínica. Isso sugere que ainda pode haver uma experiência subjetiva prolongada nesse final de vida.




Referências:

Maleabilidade e fluidez da percepção do tempo: A percepção do tempo é, por natureza, subjetiva e maleável. Vivenciamos uma ampla variedade de escalas temporais, que vão de menos de um segundo a décadas. Além disso, nossa percepção do tempo pode ser afetada por nossos estados de atenção e emoção. Estudos anteriores em psicologia e neuroimagem utilizaram diversos paradigmas e métodos para investigar os fatores que influenciam a percepção do tempo. Considerar esses fatores facilita abordagens para melhorar a gestão do tempo e enriquecer as experiências sensoriais. Esta coleção de estudos sobre a percepção do tempo inclui pesquisas que focam em propriedades dos estímulos, estados fisiológicos, interações entre diferentes sentidos, atenção, aprendizado, idade e ambiente. Esses achados ajudam a esclarecer os complexos mecanismos da percepção do tempo.  https://www.nature.com/articles/s41598-024-62189-7

DMT Modela a Experiência de Quase Morte: Experiências de quase morte (EQMs) são experiências subjetivas complexas, que anteriormente foram associadas à experiência psicodélica, especialmente àquela induzida pelo potente serotonérgico N,N-Dimetiltriptamina (DMT). Já foram observadas semelhanças potenciais entre esses estados subjetivos, incluindo a sensação de transcender o próprio corpo e entrar em um reino alternativo, a percepção e comunicação com ‘entidades’ conscientes e temas relacionados à morte e ao morrer. Neste estudo controlado por placebo e com o mesmo grupo de participantes, nosso objetivo foi testar as semelhanças entre o estado induzido por DMT e as EQMs, administrando DMT e placebo a 13 participantes saudáveis, que posteriormente completaram uma medida validada e amplamente utilizada de EQMs. Os resultados revelaram aumentos significativos nas características fenomenológicas associadas à EQM após a administração de DMT, em comparação com o placebo. Também encontramos relações significativas entre os escores de EQM e a dissolução do ego induzida pelo DMT, bem como experiências de tipo místico. Além disso, houve uma associação significativa entre os escores de EQM e o traço de ‘absorção’ e ideação delirante medidos na linha de base. Por fim, encontramos uma sobreposição significativa em quase todas as características fenomenológicas de EQM ao comparar EQMs induzidas por DMT com um grupo correspondente de pessoas que passaram por ‘experiências reais’ de EQM. Esses resultados revelam uma notável semelhança entre esses estados, o que justifica uma investigação mais aprofundada. https://www.frontiersin.org/journals/psychology/articles/10.3389/fpsyg.2018.01424/full 

O que acontece no cérebro quando morremos? Decifrando a neurofisiologia dos momentos finais da vida: Quando morremos e o que acontece no cérebro nesse momento? O mistério em torno dessas questões tem intrigado a humanidade por séculos. Apesar dos desafios em obter registros do cérebro em processo de morte, estudos recentes têm contribuído para uma melhor compreensão dos processos que ocorrem nos últimos momentos de vida. Nesta revisão, resumimos a literatura sobre as mudanças neurofisiológicas que acontecem em torno do momento da morte. Talvez a única descrição subjetiva da morte venha de sobreviventes de experiências de quase morte (EQMs). As marcas registradas das EQMs incluem a recordação de memórias, experiências fora do corpo, sonhos e estados meditativos. Examinamos as evidências que investigam as mudanças neurofisiológicas dessas experiências em indivíduos saudáveis e tentamos integrar esse conhecimento à literatura existente que investiga o cérebro em processo de morte, para oferecer uma avaliação sobre a marca neurofisiológica e o cronograma da morte. Nosso objetivo é identificar as razões que explicam as variações de dados entre os estudos nesse campo e oferecer sugestões para padronizar a pesquisa e reduzir a variabilidade dos dados. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10203241/