Sinestesia

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Quando ouvimos falar de sinestesia, geralmente pensamos em algo exótico ou totalmente diferente no qual estamos acostumados, uma experiência rara de misturar sentidos que, para muitos de nós, parece quase como poderes sobrenaturais. Mas, do ponto de vista da neurociência, a sinestesia é um fenômeno fascinante que revela muito sobre como o nosso cérebro funciona. Basicamente, a sinestesia ocorre quando a estimulação de um sentido provoca uma resposta automática em outro. Uma pessoa pode ouvir uma nota musical e “ver” uma cor associada a ela, ou provar um sabor ao olhar para um número. Para entender como isso é possível, precisamos mergulhar um pouco mais fundo no funcionamento cerebral e nas complexas redes de neurônios que compõem toda sua estrutura.

Existem diferentes tipos de sinestesia, e cada uma delas tem suas próprias características e fundamentos biológicos. Entre as mais comuns estão a sinestesia grafema-cor, onde letras ou números evocam cores específicas; a sinestesia de som-cor, em que sons provocam sensações visuais coloridas; e a sinestesia de sabor-palavra, em que palavras específicas podem gerar sensações gustativas. Mas o que causa essas ligações entre os sentidos? A base biológica por trás da sinestesia parece estar na conectividade neural aumentada ou atípica entre regiões do cérebro que normalmente não interagem tão diretamente. Essas conexões extras ou cruzadas criam "atalhos" no cérebro, permitindo que a informação de um sentido "escape" para o domínio de outro, resultando na experiência sinestésica.

A conectividade neural da sinestesia é um dos campos de estudo mais intrigantes e, ao mesmo tempo, fascinantes dentro da neurociência. Pesquisas com neuroimagem, como ressonância magnética funcional (fMRI), mostraram que, em cérebros sinestésicos, há uma ativação simultânea em áreas que, normalmente, seriam independentes. Quando uma pessoa sinestésica ouve uma nota musical, não só a região auditiva do cérebro se ativa, mas também as áreas associadas à visão de cores. Isso sugere que há conexões neuronais adicionais, ou talvez um "vazamento" de informações entre os sentidos. Em alguns estudos têm sugerido que essas conexões extras são vestígios de uma hiperconectividade que todos nós possuímos durante a infância, mas que a maioria das pessoas perde ao longo do desenvolvimento. No caso dos sinestetas, essas conexões permanecem, moldando como percebem o mundo.

A neuroplasticidade, ou a capacidade do cérebro de reorganizar suas conexões neuronais, desempenha um papel essencial na compreensão da sinestesia. Essa capacidade de reorganização é o que nos permite aprender novas habilidades, como tocar um instrumento musical ou aprender um novo idioma, e, no caso dos sinestetas, pode ser o que mantém as conexões entre os sentidos ativas. O que é fascinante é que a neuroplasticidade pode não só explicar a sinestesia como também como essa habilidade pode ser treinada ou ampliada. Existem alguns relatos de pessoas que, com prática e treinamento específico, conseguem desenvolver alguma forma de sinestesia adquirida, o que indica que nossos cérebros são muito mais maleáveis do que imaginamos.

Há também um fator genético envolvido. Estudos com famílias e gêmeos sugerem que a sinestesia pode ter um componente hereditário. Embora o gene ou os genes específicos ainda não tenham sido identificados, há uma forte evidência de que a sinestesia tende a ocorrer em famílias, o que sugere uma predisposição genética. No entanto, é importante destacar que a genética da sinestesia é provavelmente complexa e poligênica, o que significa que vários genes podem estar envolvidos, cada um contribuindo de forma sutil para o desenvolvimento dessa característica única. Além disso, esses genes podem interagir com o ambiente de maneiras que ainda estamos começando a entender.

A sinestesia adquirida é um campo particularmente curioso de analisar. Diferente da sinestesia "natural", que é percebida desde a infância, a sinestesia adquirida pode surgir após experiências específicas, como lesões cerebrais, uso de drogas psicodélicas, ou mesmo através de práticas meditativas intensas. Em muitos casos, essas formas adquiridas de sinestesia sugerem que o cérebro é capaz de criar novas conexões ou reativar antigas de maneira inesperada. Isso levanta perguntas sobre a flexibilidade do cérebro humano e a possibilidade de que todos nós possamos, potencialmente, experimentar alguma forma de sinestesia se determinadas condições forem atendidas.

Falando em impacto, a sinestesia tem um efeito significativo na memória. Muitos sinestetas relatam que suas memórias são mais vivas e detalhadas devido às associações sensoriais cruzadas. Isso faz sentido do ponto de vista da neurociência, pois a interconectividade entre diferentes regiões cerebrais pode criar múltiplos "pontos de acesso" para a recuperação de uma lembrança. Um sinesteta que vê cores ao ouvir músicas pode ter uma memória mais rica de uma experiência musical porque seu cérebro está processando a informação em várias dimensões sensoriais ao mesmo tempo. Essa "memória multimodal" pode ser uma vantagem cognitiva, proporcionando uma maneira única de armazenar e acessar informações.

No final, o estudo da sinestesia oferece uma importante e fascinante compreensão do cérebro humano e das complexas maneiras como ele processa informações. Ao explorar as bases neurais, a conectividade cerebral, a neuroplasticidade, a genética, e os efeitos da sinestesia na memória, aprendemos que o cérebro é uma estrutura extremamente adaptável e criativa. E, talvez, ao entender melhor como e por que a sinestesia ocorre, possamos também aprender mais sobre o potencial inexplorado de sua estrutura.




Referências:

Uma breve história de 200 anos da sinestesia: https://thereader.mitpress.mit.edu/a-brief-200-year-history-of-synesthesia/

Tipos de sinestesia: https://www.betterhelp.com/advice/synesthesia/the-many-types-of-synesthesia-explained/

Como os diferentes tipos de sinestesia se agrupam? Implicações para mecanismos causais:  https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8811335/

Transmissão de sinais de cima para baixo e hiperconectividade global na sinestesia auditivo-visual: Evidências de um estudo funcional de EEG em estado de repouso:  https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6866463/

Ouvir cores: um exemplo de plasticidade cerebral - https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4396351/

A Sobrevivência do Gene da Sinestesia: Por que Algumas Pessoas Ouvem Cores e Sentem o Sabor das Palavras? : https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3222625/

Adultos Podem Ser Treinados para Adquirir Experiências Sinestésicas: https://www.nature.com/articles/srep07089

Relato de Caso de Sinestesia Adquirida e Aumento da Criatividade em um Músico Após Lesão Cerebral Traumática: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37149895/

 Os sinestetas têm melhor memória? : https://www.news-medical.net/health/Do-Synesthetes-Have-Better-Memory.aspx

Aprendizagem, memória e sinestesia: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3648671/

Reflexões sobre o cérebro

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É um fato que a nossa capacidade de pensar, raciocinar e ter consciência está totalmente ligada ao cérebro e ao seu desenvolvimento ao longo da evolução. O cérebro humano é uma estrutura extremamente complexa, cheia de neurônios interligados, que formam redes responsáveis por tudo que envolve nossa cognição, emoções e até movimentos. Mas o que isso realmente significa?

O cérebro é o responsável pelas funções mais avançadas que temos, como pensar, falar, lembrar, criar e até ter consciência de nós mesmos e do mundo à nossa volta. Existem áreas específicas, como o córtex pré-frontal, que lidam diretamente com o pensamento abstrato, decisões, resolução de problemas e a nossa capacidade de planejar o futuro. Tudo que percebemos — o que sentimos, pensamos e vemos — depende de uma integração muito bem feita de informações por várias partes do cérebro.

Se não tivéssemos um cérebro, ou se ele não tivesse evoluído do jeito que aconteceu, não conseguiríamos raciocinar, refletir ou ter consciência da forma como conhecemos hoje. Nossa consciência e a capacidade de pensar de forma complexa são frutos de processos neurológicos emaranhados que só acontecem por causa dessa máquina fantástica que é o cérebro.

Agora, para entender essa complexidade, vamos comparar com seres bem mais simples, como bactérias e vírus. Eles não têm sistema nervoso, muito menos um cérebro. Bactérias são seres unicelulares que seguem o básico para sobreviver e se reproduzir, tudo guiado pelas instruções do seu DNA. Elas reagem ao ambiente, mas é tudo bem instintivo, nada de pensamentos ou decisões conscientes.

Vírus, então, são ainda mais simples. Basicamente, são pacotes de material genético (DNA ou RNA) envoltos por uma proteína. Não têm células, metabolismo próprio e dependem de invadir células hospedeiras para se reproduzir. O "comportamento" de um vírus é totalmente determinado pelas informações contidas no seu material genético.

Esses organismos, como bactérias e vírus, funcionam de um jeito muito reativo. Tudo é feito para garantir a sobrevivência e reprodução, mas sem nenhuma forma de raciocínio, planejamento ou autoconsciência. Eles respondem ao ambiente de maneira automática, quase como um reflexo.

A grande diferença entre seres como nós e esses organismos mais simples é a complexidade neurológica. Ao longo da evolução, o cérebro humano desenvolveu uma estrutura extremamente sofisticada que permite o surgimento de habilidades cognitivas avançadas. Partes como o córtex cerebral, o hipocampo e a amígdala cuidam da nossa memória, do raciocínio, do controle emocional e da consciência de quem somos. É graças a essas partes que conseguimos criar arte, ciência, cultura, desenvolver moralidade e ter conversas complexas.

Se não tivéssemos um cérebro, ou se ele fosse tão simples quanto os mecanismos bioquímicos de uma bactéria ou vírus, não seríamos capazes de pensar, planejar ou ter emoções complexas. Tudo seria feito de maneira instintiva e automática, sem nenhuma reflexão ou consciência.

No fim das contas, a consciência e o pensamento são produtos da atividade neural do nosso cérebro. Dependem da forma como ele é estruturado e funciona, especialmente do córtex cerebral e das conexões com outras partes do cérebro. Se o cérebro fosse menos complexo, nosso comportamento seria bem parecido com o de organismos simples — tudo reflexo e resposta automática.

Então, a grande conclusão aqui é que nossa capacidade de raciocinar, pensar e ter consciência do mundo ao nosso redor depende completamente de um cérebro complexo. Sem ele, seríamos como bactérias ou vírus, reagindo ao mundo de forma automática, sem a riqueza da experiência humana que conhecemos. O cérebro é, sem dúvida, a base de tudo o que nos torna quem somos.

A natureza subjetiva do tempo e a vida após a morte

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Sempre ouvimos falar que o tempo é constante, objetivo, que passa igual para todo mundo. Mas, ultimamente, tenho visto umas ideias interessante que mexem com essa noção. Parece que o tempo é bem mais subjetivo do que possamos imaginar, especialmente quando se fala sobre consciência e experiências de quase morte.

A teoria é a seguinte: no momento da morte, a percepção do tempo pode se esticar até parecer uma eternidade. Isso acontece devido a uma enxurrada de DMT(dimetiltriptamina), um neurotransmissor natural de nosso cérebro, e de outros neuroquímicos. Esse coquetel químico pode criar uma experiência de "vida após a morte" que parece infinita para quem está passando por ela, mesmo que o mundo lá fora continue no seu ritmo normal.

Primeiro, tem o conceito da dilatação do tempo. A ideia é que, quando estamos morrendo, o cérebro libera quantidades de DMT, conhecido por causar alucinações intensas e alterar a percepção do tempo. Essa liberação massiva faz com que a experiência de tempo se alongue, se estique de uma forma que possa parecer que dura eternamente.

Esses neuroquímicos, como o DMT, criam experiências vívidas, quase como sonhos. Quando a percepção de tempo se distorce e se mistura com essas vivências intensas, a sensação pode ser de que a estamos vivendo uma eternidade ali, naquele último suspiro.

Agora, o interessante é essa diferença entre percepção e realidade. Para quem está passando por esse momento, parece uma vida eterna. Mas, do lado de fora, para quem observa, tudo isso acontece em frações de segundos. A pessoa pode estar ali, em seus últimos momentos, mas a sensação interna é de um infinito.

Tem algumas evidências que apoiam essa teoria. A primeira é o próprio DMT. Nós sabemos que ele é um psicodélico natural que o cérebro produz e que é capaz de causar alucinações poderosas e alterar como percebemos o tempo. Em alguns estudos é mostrado que, em altas doses, como poderia acontecer na hora da morte, ele cria experiências que parecem durar muito mais do que realmente duram.

Outro ponto é o que já se sabe sobre a dilatação do tempo em situações extremas. Gente que passou por experiências de quase morte ou estresse extremo muitas vezes relata que o tempo pareceu se alongar ou comprimir. Isso encaixa bem com a ideia de que, nos últimos momentos de vida, a percepção de tempo pode se estender.

E, por fim, existe o fato do cérebro continuar ativo por um tempo depois da morte clínica. Isso sugere que ainda pode haver uma experiência subjetiva prolongada nesse final de vida.




Referências:

Maleabilidade e fluidez da percepção do tempo: A percepção do tempo é, por natureza, subjetiva e maleável. Vivenciamos uma ampla variedade de escalas temporais, que vão de menos de um segundo a décadas. Além disso, nossa percepção do tempo pode ser afetada por nossos estados de atenção e emoção. Estudos anteriores em psicologia e neuroimagem utilizaram diversos paradigmas e métodos para investigar os fatores que influenciam a percepção do tempo. Considerar esses fatores facilita abordagens para melhorar a gestão do tempo e enriquecer as experiências sensoriais. Esta coleção de estudos sobre a percepção do tempo inclui pesquisas que focam em propriedades dos estímulos, estados fisiológicos, interações entre diferentes sentidos, atenção, aprendizado, idade e ambiente. Esses achados ajudam a esclarecer os complexos mecanismos da percepção do tempo.  https://www.nature.com/articles/s41598-024-62189-7

DMT Modela a Experiência de Quase Morte: Experiências de quase morte (EQMs) são experiências subjetivas complexas, que anteriormente foram associadas à experiência psicodélica, especialmente àquela induzida pelo potente serotonérgico N,N-Dimetiltriptamina (DMT). Já foram observadas semelhanças potenciais entre esses estados subjetivos, incluindo a sensação de transcender o próprio corpo e entrar em um reino alternativo, a percepção e comunicação com ‘entidades’ conscientes e temas relacionados à morte e ao morrer. Neste estudo controlado por placebo e com o mesmo grupo de participantes, nosso objetivo foi testar as semelhanças entre o estado induzido por DMT e as EQMs, administrando DMT e placebo a 13 participantes saudáveis, que posteriormente completaram uma medida validada e amplamente utilizada de EQMs. Os resultados revelaram aumentos significativos nas características fenomenológicas associadas à EQM após a administração de DMT, em comparação com o placebo. Também encontramos relações significativas entre os escores de EQM e a dissolução do ego induzida pelo DMT, bem como experiências de tipo místico. Além disso, houve uma associação significativa entre os escores de EQM e o traço de ‘absorção’ e ideação delirante medidos na linha de base. Por fim, encontramos uma sobreposição significativa em quase todas as características fenomenológicas de EQM ao comparar EQMs induzidas por DMT com um grupo correspondente de pessoas que passaram por ‘experiências reais’ de EQM. Esses resultados revelam uma notável semelhança entre esses estados, o que justifica uma investigação mais aprofundada. https://www.frontiersin.org/journals/psychology/articles/10.3389/fpsyg.2018.01424/full 

O que acontece no cérebro quando morremos? Decifrando a neurofisiologia dos momentos finais da vida: Quando morremos e o que acontece no cérebro nesse momento? O mistério em torno dessas questões tem intrigado a humanidade por séculos. Apesar dos desafios em obter registros do cérebro em processo de morte, estudos recentes têm contribuído para uma melhor compreensão dos processos que ocorrem nos últimos momentos de vida. Nesta revisão, resumimos a literatura sobre as mudanças neurofisiológicas que acontecem em torno do momento da morte. Talvez a única descrição subjetiva da morte venha de sobreviventes de experiências de quase morte (EQMs). As marcas registradas das EQMs incluem a recordação de memórias, experiências fora do corpo, sonhos e estados meditativos. Examinamos as evidências que investigam as mudanças neurofisiológicas dessas experiências em indivíduos saudáveis e tentamos integrar esse conhecimento à literatura existente que investiga o cérebro em processo de morte, para oferecer uma avaliação sobre a marca neurofisiológica e o cronograma da morte. Nosso objetivo é identificar as razões que explicam as variações de dados entre os estudos nesse campo e oferecer sugestões para padronizar a pesquisa e reduzir a variabilidade dos dados. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10203241/

Cérebro e Inteligência

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Quando pensamos em pessoas com inteligência excepcional, é comum associarmos a eles com cérebros mais desenvolvidos ou especiais. Mas o que realmente ocorre no cérebro de indivíduos com altas habilidades, também chamados de superdotados? Será que têm cérebros maiores? Algum mecanismo que possa ajudá-los a terem um melhor desempenho em tarefas? Conexões sinápticas mais eficientes? Ou um processamento cerebral diferente? Vamos analisar melhor o que realmente pode acontecer.

No geral, associamos inteligência a obtenção de conhecimento e a habilidades como raciocínio lógico, cálculo matemático, e pensamentos abstratos e até uma grande criatividade. Essas habilidades não se manifestam da mesma maneira em todos. Algumas pessoas têm facilidade em certas áreas, enquanto enfrentam desafios em outras. A grande questão é: o que torna o cérebro de alguém com altas habilidades diferentes de uma pessoa comum?

O cérebro, assim como qualquer outra parte do corpo, precisa de energia para funcionar, usando principalmente glicose (ou cetonas) e oxigênio. No entanto, esses recursos podem ser limitados e variam de pessoa para pessoa. Algumas pessoas têm uma "reserva mental" maior, ou seja, mais energia disponível para o pensamento, e processamento de informação. Outras, mesmo com uma quantidade menor de recursos de "reserva mental", conseguem usar essa energia de maneira mais eficiente, como se fossem capazes de percorrer uma distância maior com a mesma quantidade de "combustível".

Uma das coisas que mais acho interessante é o potencial que algumas dietas podem nos proporcionar e se tratando do cérebro. Em alguns estudos foram demonstrados que a cetose pode otimizar a função cerebral, fornecendo uma reserva de energia que pode sustentar períodos prolongados de concentração e criatividade. Em um mundo atual onde a tomada de decisões e a inovação são essenciais, ter acesso a essa "turbinada" mental pode ser um diferencial, mostrando que os corpos cetônicos são mais do que um simples combustível: são a faísca para a genialidade.

A dieta cetogênica, famosa hoje por seus benefícios na perda de peso e saúde metabólica, na verdade, tem raízes muito mais profundas que se possa imaginar. Originalmente desenvolvida na década de 1920, a dieta foi criada como uma intervenção terapêutica para crianças com epilepsia refratária, quando os medicamentos anticonvulsivantes não ofereciam alívio. Pesquisadores descobriram que, ao forçar o corpo a entrar em cetose, o estado metabólico onde a gordura é convertida em corpos cetônicos para energia, era possível reduzir drasticamente o número de convulsões.

Com o passar do tempo, cientistas começaram a perceber que os benefícios da cetose iam além do controle da epilepsia. E observaram que os corpos cetônicos não apenas protegem o cérebro contra danos neurológicos, mas também têm um efeito neuroprotetor, promovendo a regeneração de neurônios e a melhoria da função mitocondrial. Isso chamou a atenção de pesquisadores interessados no impacto da dieta cetogênica em doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson, mostrando potencial para melhorar a cognição e desacelerar o declínio cognitivo.

Agora, existem muitas hipóteses para a eficiência cerebral no qual possa melhorar o desempenho para tarefas cognitivas. Muitas delas abrange aspectos neurológicos, fisiológicos e até psicológicos comportamentais.

A hipótese da reserva cognitiva sugere que algumas pessoas têm uma "reserva mental" maior, influenciada por fatores como educação, atividades intelectualmente estimulantes e um estilo de vida ativo. Já a hipótese da plasticidade cerebral destaca a capacidade do cérebro de reorganizar e ajustar suas conexões em resposta a novas informações, permitindo uma adaptação contínua para otimizar o processamento das tarefas. E por fim, a hipótese da conectividade, por sua vez, sugere que cérebros mais eficientes possuem conexões neurais mais fortes e bem integradas, o que facilita uma melhor cognição e um processamento de informações mais eficaz.

Mas nem tudo são flores com pessoas com hiperfoco, flexibilidade cognitiva, grande capacidade de adaptação e mais. Em muitos casos, isso pode gerar grandes transtornos mentais como depressão e ansiedade, e também dificuldades sociais e com uma tendência ao isolamento.

E sempre é bom lembrar que crianças superdotadas de grande inteligência podem ser diagnosticadas com transtornos como especto autista, que podem ser um desafio para a vida social. Enfim, ter um cérebro realmente poderoso pode ter alguns problemas para se enfrentar.

Decisões futuras baseadas no passado

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Já reparou como algumas das suas escolhas parecem seguir um padrão? Talvez você sempre opte por fazer uma caminhada pela manhã ou acabe procrastinando em um projeto importante, mesmo sabendo que deveria começar logo. Mas por que isso acontece? A resposta pode estar no impacto que nossas ações passadas têm sobre nossas decisões futuras.

Acredite ou não, a psicologia tem estudado profundamente como o que fazemos em um momento da nossa vida pode afetar o que faremos depois. Essa influência não é apenas sobre grandes escolhas de vida, ela permeia desde a decisão de tomar um café extra durante o dia até como você lida com situações sociais complexas.

Muitas vezes, o comportamento passado age como um guia invisível para nossas futuras ações. Muitos estudos vêm sendo desenvolvidos com base nesta pesquisa e tem demonstrado que quando as pessoas realizam uma determinada ação, como votar em uma eleição ou expressar apoio a uma política, elas tendem a repetir esse comportamento, mesmo que de forma inconsciente. Esse fenômeno ocorre porque o ato de realizar uma ação cria uma espécie de "memória comportamental" que influencia nossas decisões futuras.

Imagine que você foi convencido, talvez sem perceber, de que já apoiou uma determinada política em algum momento. Mesmo que essa informação não seja totalmente precisa ou que você nem se lembre de ter feito isso, a crença de que você agiu dessa forma no passado pode moldar suas futuras opiniões e ações. Isso acontece porque, muitas vezes, nosso cérebro usa o comportamento passado como uma referência, uma espécie de atalho mental, para decidir o que fazer em seguida.

A repetição de comportamentos está ligada a diversos fatores, entre eles, a consistência e a redução da dissonância cognitiva. Quando agimos de uma determinada maneira, tendemos a justificar essa ação para manter uma coerência interna. Essa coerência é uma forma de aliviar o desconforto que sentimos quando nossas ações não estão alinhadas com nossas crenças ou atitudes.

A dissonância cognitiva é uma das teorias mais conhecidas quando falamos de comportamentos e decisões. Ela ocorre quando há um conflito entre nossas ações e nossas crenças. Esse desconforto é tão incômodo que buscamos formas de reduzi-lo, seja mudando nossas crenças, seja alterando nossos comportamentos futuros para alinhar tudo em um sistema mais coerente.

Vamos exemplificar um pouco, se alguém se vê como uma pessoa saudável, mas percebe que tem hábitos alimentares ruins, essa dissonância gera desconforto. Para aliviar esse incômodo, a pessoa pode tentar mudar seus hábitos ou, de forma mais comum, justificar suas ações de uma maneira que faça sentido para ela. Esse processo de ajuste mental é uma tentativa de alinhar comportamento e crenças, criando um ciclo que fortalece certos comportamentos ao longo do tempo.

Outro exemplo é, imagine que você acredita ser uma pessoa preocupada com o bem-estar animal e adota uma postura de consumo consciente ou se torna vegetariano, mas ainda sente vontade de comer carne ou come carne em algumas ocasiões, como festa que é convidado. Esse conflito entre sua ação (comer carne) e sua crença (preocupação com o bem-estar animal) cria uma dissonância. Para reduzir esse desconforto, você pode começar a justificar o consumo de várias formas, como dizendo para si que precisa de proteína animal ou que compensa comendo menos carne ou optando por produtos de origem animal de fontes mais sustentáveis.

Quando confrontados com uma escolha, nosso cérebro muitas vezes pensa: “Já fiz isso antes, então é provavelmente a coisa certa a fazer novamente.” Essa tendência economiza esforço cognitivo e nos ajuda a lidar com decisões diárias sem precisar repensar cada detalhe.

Usar o comportamento passado como um atalho para decisões futuras pode ser uma faca de dois gumes. Por um lado, simplifica a vida e reduz o esforço mental necessário para tomar decisões e por outro, pode levar à repetição de comportamentos prejudiciais ou desatualizados, simplesmente porque parecem ser a coisa certa a se fazer.

Quando tomamos decisões com base em comportamentos passados, nem sempre avaliamos se as condições que levaram àquela escolha. Uma pessoa pode continuar a frequentar um restaurante que gosta, sem perceber que a qualidade dos pratos caiu com o tempo. A memória de boas experiências anteriores serve como um atalho que evita uma reavaliação da situação atual.

Uma das descobertas mais curiosas na psicologia do comportamento é a ideia de que a percepção do passado pode ser moldada, e isso, por sua vez, altera nossas decisões futuras. Em estudos experimentais, foi mostrado que, ao fazer com que as pessoas acreditem que tomaram certas decisões no passado (mesmo que não tenham), é possível influenciar significativamente suas escolhas futuras.

Esse tipo de moldagem da memória comportamental explora uma falha em como lidamos com nossas lembranças: nem sempre elas são precisas. Ao criar uma percepção alterada do que aconteceu, as futuras decisões das pessoas são moldadas de acordo com esse passado fabricado. Essa é uma técnica que, embora utilizada de forma ética em pesquisas, levanta questões sobre como nossa memória pode ser vulnerável a influências externas.

No final das contas, entender como o comportamento passado influencia nossas decisões futuras é um passo essencial para termos mais controle sobre nossas escolhas. Muitas vezes, agimos sem perceber que estamos apenas repetindo padrões que, embora familiares, nem sempre são os melhores. A próxima vez que você se pegar repetindo um comportamento, pare e se pergunte: estou agindo assim porque é o melhor para mim agora ou porque já fiz isso antes? Essa simples reflexão pode ser o primeiro passo para escolhas mais conscientes e alinhadas com quem você deseja se tornar.

A melatonina e sua importância

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A melatonina é um dos hormônios naturais mais importantes para o corpo. Ela é, de fato, famosa por sua relação com o sono, mas o papel desse hormônio vai muito além de simplesmente nos ajudar a dormir. Vamos explorar o que é a melatonina, como ela funciona, e por que ela é tão importante para nossa saúde.

Esse hormônio é produzido principalmente pela glândula pineal, uma pequena glândula localizada no centro do nosso cérebro. Embora sua produção seja mais conhecida por ocorrer à noite, quando estamos nos preparando para dormir, ela também desempenha várias outras funções importantes no corpo.

A produção de melatonina é estimulada pela escuridão e inibida pela luz. Isso faz dela um dos principais reguladores do nosso ciclo circadiano, o famoso "relógio biológico". Esse ciclo é o responsável por nos fazer sentir sono à noite e nos manter alerta durante o dia. Quando anoitece, nossos olhos percebem a diminuição da luz, e essa informação é enviada ao cérebro, que então começa a liberar melatonina. Esse processo nos prepara para o sono, diminuindo a temperatura corporal, reduzindo a atividade metabólica e induzindo uma sensação de relaxamento.

Sua principal função é regular o sono, ela nos ajuda a adormecer mais facilmente e a manter um sono profundo e reparador durante a noite. No entanto, a quantidade de melatonina que produzimos pode variar de pessoa para pessoa e também ao longo da vida. Por exemplo, bebês e crianças pequenas produzem abundância de melatonina, o que explica porque elas dormem tão profundamente. Já em adultos e idosos, a produção tende a diminuir, o que pode levar a problemas como insônia ou dificuldades para manter um sono contínuo. À medida que envelhecemos, a produção de melatonina naturalmente diminui. Essa redução está associada a vários aspectos do envelhecimento, incluindo distúrbios do sono, redução da função imunológica e aumento do estresse oxidativo no corpo.

Diversos fatores externos podem afetar a produção, como a exposição à luz artificial à noite, o uso de eletrônicos antes de dormir e até mesmo o estresse. Esses fatores podem "enganar" o cérebro, fazendo-o pensar que ainda é dia, o que inibe a produção de melatonina e dificulta o início do sono.

Devido ao seu papel importante no sono, não é surpresa que ela seja frequentemente usada como um suplemento para combater a insônia e outros distúrbios do sono. A melatonina sintética, disponível em forma de comprimidos, cápsulas e líquidos, é amplamente utilizada para regular o sono, especialmente em casos de jet lag (quando viajamos para diferentes fusos horários) ou em trabalhadores noturnos que precisam dormir durante o dia.

No entanto, o uso de melatonina em capsulas tem várias controvérsias científicas, ela pode funcionar bem para algumas pessoas, ajudando no sono e na regulação do ciclo circadiano, mas há uma grande variabilidade na resposta. Para algumas pessoas, a melatonina em capsulas não parece ter efeitos significativos. Alguns especialistas argumentam que o uso regular delas pode interferir na produção natural do hormônio pelo corpo, desregulando o ciclo circadiano a longo prazo.

Agora, um dos aspectos mais intrigantes da melatonina é sua relação com o câncer. Estudos preliminares indicam que a melatonina pode ter um efeito protetor contra certos tipos de câncer, como o câncer de mama, próstata e cólon. Acredita-se que ela possa inibir o crescimento de células cancerígenas, além de melhorar a eficácia de tratamentos como a quimioterapia.

Por exemplo, em casos de câncer de mama, a melatonina pode ajudar a regular os níveis de estrogênio, um hormônio que, em excesso, pode aumentar o risco de desenvolvimento de câncer. Ela também pode interferir na produção de novos vasos sanguíneos em tumores, um processo conhecido como angiogênese, fundamental para o crescimento e disseminação do câncer.

Em outros estudos ela têm mostrado possuir propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, o que significa que pode ajudar a proteger as células do corpo contra danos e reduzir a inflamação. Sua ação antioxidante pode ajudar a proteger a pele contra os danos causados pela radiação ultravioleta (UV) e outros agressores ambientais, como a poluição. Inclusive ela pode ajudar a manter a elasticidade e a hidratação da pele, retardando o aparecimento de rugas e outros sinais de envelhecimento.

A melatonina é mais do que simplesmente o "hormônio do sono". Ela desempenha um papel na regulação do ciclo circadiano, na proteção das nossas células, no fortalecimento do sistema imunológico e até na prevenção de algumas doenças. Estudos contínuos estão nos ajudando a entender melhor esse hormônio tão importante e outros que também desempenham papéis essenciais em nossa saúde. E estes aqui foram apenas um de muitos que estão sendo desenvolvidos.



Referências:

Melatonina: https://pt.wikipedia.org/wiki/Melatonina

Alterações nos níveis de melatonina relacionadas à idade em humanos e suas possíveis consequências para distúrbios do sono: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0531556598000540

Melatoninas em capsulas, tudo que você precisa saber: https://www.nccih.nih.gov/health/melatonin-what-you-need-to-know

Melatonina no Tratamento do Câncer: Conhecimento Atual e Oportunidades Futuras: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8123278/


Uma história entre behaviorismo e neurociência

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Nos últimos anos, o diálogo entre behaviorismo(ciência do comportamento) e neurociência tem ganhado espaço significativo. Essas duas abordagens, que já foram vistas como opostas, hoje se encontram em uma interseção intrigante, especialmente quando se trata do estudo da aprendizagem e cérebro. Vamos explorar como o behaviorismo influenciou as neurociências e como essa relação evoluiu ao longo do tempo.

O behaviorismo, com sua ênfase em comportamentos observáveis e mensuráveis, moldou profundamente o estudo dos mecanismos cerebrais subjacentes ao comportamento animal. Quando pensamos em experimentos clássicos como os de Pavlov, que exploravam reflexos condicionados, estamos entrando no cerne de como o behaviorismo abriu portas para a neurociência. A ideia era simples: se podemos entender como animais aprendem por associações, podemos começar a mapear os circuitos cerebrais que suportam esse comportamento.

Essa abordagem, focada em experimentação rigorosa e controle cuidadoso, lançou as bases para o que hoje chamamos de psicologia fisiológica. Essa área se dedica a entender como o cérebro, enquanto órgão físico, gera comportamentos complexos, como a aprendizagem e a memória. Foi um avanço e tanto para uma ciência que, até então, se concentrava quase exclusivamente na observação externa do comportamento e muitas vezes aspectos mentalistas que não se podia estudar precisamente.

Na neurociência, um dos principais objetivos dos primeiros neurocientistas foi entender como o cérebro armazena e processa as memórias. Influenciados pelo behaviorismo, esses pesquisadores se dedicaram a localizar as áreas específicas do cérebro relacionadas a diferentes tipos de aprendizado e memória. Esse trabalho foi muito importante para dar impulso à neurociência e surgiu diretamente das teorias behavioristas sobre como os seres vivos aprendem e recordam informações.

Com o tempo, essa busca se tornou mais sofisticada e a neurociência moderna fez progressos significativos ao identificar circuitos cerebrais e mecanismos envolvidos na memória em diferentes espécies, desde invertebrados até mamíferos. Algumas descobertas revelaram que o cerebelo é fundamental para o condicionamento clássico de respostas motoras discretas, enquanto a amígdala é central para o medo condicionado. Essas descobertas ilustram como a abordagem behaviorista, focada na relação entre estímulo e resposta, contribuiu para mapear os complexos circuitos do cérebro envolvidos no aprendizado.

Uma característica marcante do behaviorismo é sua insistência na testabilidade das hipóteses, que se torna muito importante para comprovar por experimentos. Isso significa que qualquer teoria ou modelo deve ser passível de verificação empírica por experimentos bem controlados. No campo da neurociência, essa ênfase na testabilidade é igualmente importante e quando consideramos teorias sobre como o cérebro processa informações ou armazena memórias, devemos ser capazes de projetar experimentos que confirmem ou refutem essas teorias.

No entanto, à medida que a neurociência avançava, ficou claro que a visão do behaviorismo tinha suas limitações, especialmente ao explicar fenômenos mais complexos, como pensamentos e consciência. A psicologia cognitiva surgiu, em parte, como uma resposta a essas limitações. Enquanto o behaviorismo se concentrava quase exclusivamente no comportamento observável, a psicologia cognitiva começou a explorar os processos internos do cérebro – aqueles não diretamente observáveis, como percepção, memória e raciocínio.

O interessante aqui é que, mesmo com essas novas abordagens, a influência do behaviorismo não desapareceu. Pelo contrário, as descobertas da psicologia cognitiva muitas vezes foram construídas sobre a base sólida estabelecida por métodos behavioristas. Medir o tempo de reação, por exemplo, tornou-se uma ferramenta importante na psicologia cognitiva para entender como o cérebro processa informações, um método que deriva diretamente das técnicas de medição rigorosa do behaviorismo.

Um dos temas mais intrigantes que surgiu no diálogo entre behaviorismo e neurociência é a questão da consciência. Nos primórdios da psicologia, a consciência era muitas vezes vista como um conceito nebuloso, difícil de definir e ainda mais difícil de estudar cientificamente. John B. Watson, um dos fundadores do behaviorismo, argumentava que a consciência não poderia ser estudada de maneira objetiva e, portanto, deveria ser deixada de lado em favor de métodos mais rigorosos e observáveis.

Hoje, porém, a neurociência está começando a desvendar os mistérios da consciência, explorando como diferentes regiões cerebrais contribuem para a experiência consciente. Embora ainda estejamos longe de ter uma compreensão completa, o progresso feito até agora desafia a ideia behaviorista original de que a consciência não é acessível à investigação científica. Em vez disso, muitos neurocientistas agora veem a consciência como um fenômeno importante, que surge da complexa rede de interações entre diferentes partes do cérebro.

Essa visão da consciência é fascinante porque combina a rigidez metodológica do behaviorismo com a flexibilidade teórica da psicologia cognitiva. Ao mesmo tempo, em que reconhece que a consciência é difícil de estudar diretamente, ela também abre a porta para novas formas de investigação que podem um dia nos dar uma compreensão mais profunda de como nossos cérebros criam a experiência consciente.

Diante de todos esses desenvolvimentos, pode ser tentador pensar que o behaviorismo se tornou obsoleto. No entanto, essa visão seria um erro. O behaviorismo ainda oferece uma estrutura muito importante para a investigação científica, especialmente quando se trata de estudar comportamentos simples e seus correlatos neurais. Em muitas áreas da neurociência, as técnicas e métodos behavioristas continuam a ser fundamentais, seja no estudo do condicionamento clássico, no desenvolvimento de novas terapias comportamentais ou na investigação dos mecanismos neurais subjacentes ao aprendizado.

O que o futuro reserva para a relação entre behaviorismo e neurociência? Uma coisa é certa: essa relação continuará a evoluir. Conforme nossa compreensão do cérebro se aprofunda, é provável que vejamos uma integração ainda maior entre essas duas abordagens e outras. O behaviorismo, com sua ênfase em métodos rigorosos e observáveis, continuará a fornecer uma base muito sólida para a investigação científica, enquanto a neurociência e a psicologia cognitiva expandem nosso entendimento dos processos cerebrais e de seus mecanismos.

O que aprendemos dessa relação entre behaviorismo e neurociência é que a ciência é, em sua essência, um diálogo contínuo. Nenhuma abordagem ou teoria tem todas as respostas, e é através da integração de diferentes perspectivas que fazemos os maiores avanços. O behaviorismo, com sua ênfase na observação e na medição, lançou as bases para muito do que sabemos sobre o cérebro e comportamento hoje. Mas, conforme nosso conhecimento sobre o cérebro avança, devemos estar abertos a novas ideias e abordagens que nos ajudem a explorar e entender o ser humano.