Decisões futuras baseadas no passado

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Já reparou como algumas das suas escolhas parecem seguir um padrão? Talvez você sempre opte por fazer uma caminhada pela manhã ou acabe procrastinando em um projeto importante, mesmo sabendo que deveria começar logo. Mas por que isso acontece? A resposta pode estar no impacto que nossas ações passadas têm sobre nossas decisões futuras.

Acredite ou não, a psicologia tem estudado profundamente como o que fazemos em um momento da nossa vida pode afetar o que faremos depois. Essa influência não é apenas sobre grandes escolhas de vida, ela permeia desde a decisão de tomar um café extra durante o dia até como você lida com situações sociais complexas.

Muitas vezes, o comportamento passado age como um guia invisível para nossas futuras ações. Muitos estudos vêm sendo desenvolvidos com base nesta pesquisa e tem demonstrado que quando as pessoas realizam uma determinada ação, como votar em uma eleição ou expressar apoio a uma política, elas tendem a repetir esse comportamento, mesmo que de forma inconsciente. Esse fenômeno ocorre porque o ato de realizar uma ação cria uma espécie de "memória comportamental" que influencia nossas decisões futuras.

Imagine que você foi convencido, talvez sem perceber, de que já apoiou uma determinada política em algum momento. Mesmo que essa informação não seja totalmente precisa ou que você nem se lembre de ter feito isso, a crença de que você agiu dessa forma no passado pode moldar suas futuras opiniões e ações. Isso acontece porque, muitas vezes, nosso cérebro usa o comportamento passado como uma referência, uma espécie de atalho mental, para decidir o que fazer em seguida.

A repetição de comportamentos está ligada a diversos fatores, entre eles, a consistência e a redução da dissonância cognitiva. Quando agimos de uma determinada maneira, tendemos a justificar essa ação para manter uma coerência interna. Essa coerência é uma forma de aliviar o desconforto que sentimos quando nossas ações não estão alinhadas com nossas crenças ou atitudes.

A dissonância cognitiva é uma das teorias mais conhecidas quando falamos de comportamentos e decisões. Ela ocorre quando há um conflito entre nossas ações e nossas crenças. Esse desconforto é tão incômodo que buscamos formas de reduzi-lo, seja mudando nossas crenças, seja alterando nossos comportamentos futuros para alinhar tudo em um sistema mais coerente.

Vamos exemplificar um pouco, se alguém se vê como uma pessoa saudável, mas percebe que tem hábitos alimentares ruins, essa dissonância gera desconforto. Para aliviar esse incômodo, a pessoa pode tentar mudar seus hábitos ou, de forma mais comum, justificar suas ações de uma maneira que faça sentido para ela. Esse processo de ajuste mental é uma tentativa de alinhar comportamento e crenças, criando um ciclo que fortalece certos comportamentos ao longo do tempo.

Outro exemplo é, imagine que você acredita ser uma pessoa preocupada com o bem-estar animal e adota uma postura de consumo consciente ou se torna vegetariano, mas ainda sente vontade de comer carne ou come carne em algumas ocasiões, como festa que é convidado. Esse conflito entre sua ação (comer carne) e sua crença (preocupação com o bem-estar animal) cria uma dissonância. Para reduzir esse desconforto, você pode começar a justificar o consumo de várias formas, como dizendo para si que precisa de proteína animal ou que compensa comendo menos carne ou optando por produtos de origem animal de fontes mais sustentáveis.

Quando confrontados com uma escolha, nosso cérebro muitas vezes pensa: “Já fiz isso antes, então é provavelmente a coisa certa a fazer novamente.” Essa tendência economiza esforço cognitivo e nos ajuda a lidar com decisões diárias sem precisar repensar cada detalhe.

Usar o comportamento passado como um atalho para decisões futuras pode ser uma faca de dois gumes. Por um lado, simplifica a vida e reduz o esforço mental necessário para tomar decisões e por outro, pode levar à repetição de comportamentos prejudiciais ou desatualizados, simplesmente porque parecem ser a coisa certa a se fazer.

Quando tomamos decisões com base em comportamentos passados, nem sempre avaliamos se as condições que levaram àquela escolha. Uma pessoa pode continuar a frequentar um restaurante que gosta, sem perceber que a qualidade dos pratos caiu com o tempo. A memória de boas experiências anteriores serve como um atalho que evita uma reavaliação da situação atual.

Uma das descobertas mais curiosas na psicologia do comportamento é a ideia de que a percepção do passado pode ser moldada, e isso, por sua vez, altera nossas decisões futuras. Em estudos experimentais, foi mostrado que, ao fazer com que as pessoas acreditem que tomaram certas decisões no passado (mesmo que não tenham), é possível influenciar significativamente suas escolhas futuras.

Esse tipo de moldagem da memória comportamental explora uma falha em como lidamos com nossas lembranças: nem sempre elas são precisas. Ao criar uma percepção alterada do que aconteceu, as futuras decisões das pessoas são moldadas de acordo com esse passado fabricado. Essa é uma técnica que, embora utilizada de forma ética em pesquisas, levanta questões sobre como nossa memória pode ser vulnerável a influências externas.

No final das contas, entender como o comportamento passado influencia nossas decisões futuras é um passo essencial para termos mais controle sobre nossas escolhas. Muitas vezes, agimos sem perceber que estamos apenas repetindo padrões que, embora familiares, nem sempre são os melhores. A próxima vez que você se pegar repetindo um comportamento, pare e se pergunte: estou agindo assim porque é o melhor para mim agora ou porque já fiz isso antes? Essa simples reflexão pode ser o primeiro passo para escolhas mais conscientes e alinhadas com quem você deseja se tornar.

A melatonina e sua importância

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A melatonina é um dos hormônios naturais mais importantes para o corpo. Ela é, de fato, famosa por sua relação com o sono, mas o papel desse hormônio vai muito além de simplesmente nos ajudar a dormir. Vamos explorar o que é a melatonina, como ela funciona, e por que ela é tão importante para nossa saúde.

Esse hormônio é produzido principalmente pela glândula pineal, uma pequena glândula localizada no centro do nosso cérebro. Embora sua produção seja mais conhecida por ocorrer à noite, quando estamos nos preparando para dormir, ela também desempenha várias outras funções importantes no corpo.

A produção de melatonina é estimulada pela escuridão e inibida pela luz. Isso faz dela um dos principais reguladores do nosso ciclo circadiano, o famoso "relógio biológico". Esse ciclo é o responsável por nos fazer sentir sono à noite e nos manter alerta durante o dia. Quando anoitece, nossos olhos percebem a diminuição da luz, e essa informação é enviada ao cérebro, que então começa a liberar melatonina. Esse processo nos prepara para o sono, diminuindo a temperatura corporal, reduzindo a atividade metabólica e induzindo uma sensação de relaxamento.

Sua principal função é regular o sono, ela nos ajuda a adormecer mais facilmente e a manter um sono profundo e reparador durante a noite. No entanto, a quantidade de melatonina que produzimos pode variar de pessoa para pessoa e também ao longo da vida. Por exemplo, bebês e crianças pequenas produzem abundância de melatonina, o que explica porque elas dormem tão profundamente. Já em adultos e idosos, a produção tende a diminuir, o que pode levar a problemas como insônia ou dificuldades para manter um sono contínuo. À medida que envelhecemos, a produção de melatonina naturalmente diminui. Essa redução está associada a vários aspectos do envelhecimento, incluindo distúrbios do sono, redução da função imunológica e aumento do estresse oxidativo no corpo.

Diversos fatores externos podem afetar a produção, como a exposição à luz artificial à noite, o uso de eletrônicos antes de dormir e até mesmo o estresse. Esses fatores podem "enganar" o cérebro, fazendo-o pensar que ainda é dia, o que inibe a produção de melatonina e dificulta o início do sono.

Devido ao seu papel importante no sono, não é surpresa que ela seja frequentemente usada como um suplemento para combater a insônia e outros distúrbios do sono. A melatonina sintética, disponível em forma de comprimidos, cápsulas e líquidos, é amplamente utilizada para regular o sono, especialmente em casos de jet lag (quando viajamos para diferentes fusos horários) ou em trabalhadores noturnos que precisam dormir durante o dia.

No entanto, o uso de melatonina em capsulas tem várias controvérsias científicas, ela pode funcionar bem para algumas pessoas, ajudando no sono e na regulação do ciclo circadiano, mas há uma grande variabilidade na resposta. Para algumas pessoas, a melatonina em capsulas não parece ter efeitos significativos. Alguns especialistas argumentam que o uso regular delas pode interferir na produção natural do hormônio pelo corpo, desregulando o ciclo circadiano a longo prazo.

Agora, um dos aspectos mais intrigantes da melatonina é sua relação com o câncer. Estudos preliminares indicam que a melatonina pode ter um efeito protetor contra certos tipos de câncer, como o câncer de mama, próstata e cólon. Acredita-se que ela possa inibir o crescimento de células cancerígenas, além de melhorar a eficácia de tratamentos como a quimioterapia.

Por exemplo, em casos de câncer de mama, a melatonina pode ajudar a regular os níveis de estrogênio, um hormônio que, em excesso, pode aumentar o risco de desenvolvimento de câncer. Ela também pode interferir na produção de novos vasos sanguíneos em tumores, um processo conhecido como angiogênese, fundamental para o crescimento e disseminação do câncer.

Em outros estudos ela têm mostrado possuir propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, o que significa que pode ajudar a proteger as células do corpo contra danos e reduzir a inflamação. Sua ação antioxidante pode ajudar a proteger a pele contra os danos causados pela radiação ultravioleta (UV) e outros agressores ambientais, como a poluição. Inclusive ela pode ajudar a manter a elasticidade e a hidratação da pele, retardando o aparecimento de rugas e outros sinais de envelhecimento.

A melatonina é mais do que simplesmente o "hormônio do sono". Ela desempenha um papel na regulação do ciclo circadiano, na proteção das nossas células, no fortalecimento do sistema imunológico e até na prevenção de algumas doenças. Estudos contínuos estão nos ajudando a entender melhor esse hormônio tão importante e outros que também desempenham papéis essenciais em nossa saúde. E estes aqui foram apenas um de muitos que estão sendo desenvolvidos.



Referências:

Melatonina: https://pt.wikipedia.org/wiki/Melatonina

Alterações nos níveis de melatonina relacionadas à idade em humanos e suas possíveis consequências para distúrbios do sono: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0531556598000540

Melatoninas em capsulas, tudo que você precisa saber: https://www.nccih.nih.gov/health/melatonin-what-you-need-to-know

Melatonina no Tratamento do Câncer: Conhecimento Atual e Oportunidades Futuras: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8123278/


Uma história entre behaviorismo e neurociência

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Nos últimos anos, o diálogo entre behaviorismo(ciência do comportamento) e neurociência tem ganhado espaço significativo. Essas duas abordagens, que já foram vistas como opostas, hoje se encontram em uma interseção intrigante, especialmente quando se trata do estudo da aprendizagem e cérebro. Vamos explorar como o behaviorismo influenciou as neurociências e como essa relação evoluiu ao longo do tempo.

O behaviorismo, com sua ênfase em comportamentos observáveis e mensuráveis, moldou profundamente o estudo dos mecanismos cerebrais subjacentes ao comportamento animal. Quando pensamos em experimentos clássicos como os de Pavlov, que exploravam reflexos condicionados, estamos entrando no cerne de como o behaviorismo abriu portas para a neurociência. A ideia era simples: se podemos entender como animais aprendem por associações, podemos começar a mapear os circuitos cerebrais que suportam esse comportamento.

Essa abordagem, focada em experimentação rigorosa e controle cuidadoso, lançou as bases para o que hoje chamamos de psicologia fisiológica. Essa área se dedica a entender como o cérebro, enquanto órgão físico, gera comportamentos complexos, como a aprendizagem e a memória. Foi um avanço e tanto para uma ciência que, até então, se concentrava quase exclusivamente na observação externa do comportamento e muitas vezes aspectos mentalistas que não se podia estudar precisamente.

Na neurociência, um dos principais objetivos dos primeiros neurocientistas foi entender como o cérebro armazena e processa as memórias. Influenciados pelo behaviorismo, esses pesquisadores se dedicaram a localizar as áreas específicas do cérebro relacionadas a diferentes tipos de aprendizado e memória. Esse trabalho foi muito importante para dar impulso à neurociência e surgiu diretamente das teorias behavioristas sobre como os seres vivos aprendem e recordam informações.

Com o tempo, essa busca se tornou mais sofisticada e a neurociência moderna fez progressos significativos ao identificar circuitos cerebrais e mecanismos envolvidos na memória em diferentes espécies, desde invertebrados até mamíferos. Algumas descobertas revelaram que o cerebelo é fundamental para o condicionamento clássico de respostas motoras discretas, enquanto a amígdala é central para o medo condicionado. Essas descobertas ilustram como a abordagem behaviorista, focada na relação entre estímulo e resposta, contribuiu para mapear os complexos circuitos do cérebro envolvidos no aprendizado.

Uma característica marcante do behaviorismo é sua insistência na testabilidade das hipóteses, que se torna muito importante para comprovar por experimentos. Isso significa que qualquer teoria ou modelo deve ser passível de verificação empírica por experimentos bem controlados. No campo da neurociência, essa ênfase na testabilidade é igualmente importante e quando consideramos teorias sobre como o cérebro processa informações ou armazena memórias, devemos ser capazes de projetar experimentos que confirmem ou refutem essas teorias.

No entanto, à medida que a neurociência avançava, ficou claro que a visão do behaviorismo tinha suas limitações, especialmente ao explicar fenômenos mais complexos, como pensamentos e consciência. A psicologia cognitiva surgiu, em parte, como uma resposta a essas limitações. Enquanto o behaviorismo se concentrava quase exclusivamente no comportamento observável, a psicologia cognitiva começou a explorar os processos internos do cérebro – aqueles não diretamente observáveis, como percepção, memória e raciocínio.

O interessante aqui é que, mesmo com essas novas abordagens, a influência do behaviorismo não desapareceu. Pelo contrário, as descobertas da psicologia cognitiva muitas vezes foram construídas sobre a base sólida estabelecida por métodos behavioristas. Medir o tempo de reação, por exemplo, tornou-se uma ferramenta importante na psicologia cognitiva para entender como o cérebro processa informações, um método que deriva diretamente das técnicas de medição rigorosa do behaviorismo.

Um dos temas mais intrigantes que surgiu no diálogo entre behaviorismo e neurociência é a questão da consciência. Nos primórdios da psicologia, a consciência era muitas vezes vista como um conceito nebuloso, difícil de definir e ainda mais difícil de estudar cientificamente. John B. Watson, um dos fundadores do behaviorismo, argumentava que a consciência não poderia ser estudada de maneira objetiva e, portanto, deveria ser deixada de lado em favor de métodos mais rigorosos e observáveis.

Hoje, porém, a neurociência está começando a desvendar os mistérios da consciência, explorando como diferentes regiões cerebrais contribuem para a experiência consciente. Embora ainda estejamos longe de ter uma compreensão completa, o progresso feito até agora desafia a ideia behaviorista original de que a consciência não é acessível à investigação científica. Em vez disso, muitos neurocientistas agora veem a consciência como um fenômeno importante, que surge da complexa rede de interações entre diferentes partes do cérebro.

Essa visão da consciência é fascinante porque combina a rigidez metodológica do behaviorismo com a flexibilidade teórica da psicologia cognitiva. Ao mesmo tempo, em que reconhece que a consciência é difícil de estudar diretamente, ela também abre a porta para novas formas de investigação que podem um dia nos dar uma compreensão mais profunda de como nossos cérebros criam a experiência consciente.

Diante de todos esses desenvolvimentos, pode ser tentador pensar que o behaviorismo se tornou obsoleto. No entanto, essa visão seria um erro. O behaviorismo ainda oferece uma estrutura muito importante para a investigação científica, especialmente quando se trata de estudar comportamentos simples e seus correlatos neurais. Em muitas áreas da neurociência, as técnicas e métodos behavioristas continuam a ser fundamentais, seja no estudo do condicionamento clássico, no desenvolvimento de novas terapias comportamentais ou na investigação dos mecanismos neurais subjacentes ao aprendizado.

O que o futuro reserva para a relação entre behaviorismo e neurociência? Uma coisa é certa: essa relação continuará a evoluir. Conforme nossa compreensão do cérebro se aprofunda, é provável que vejamos uma integração ainda maior entre essas duas abordagens e outras. O behaviorismo, com sua ênfase em métodos rigorosos e observáveis, continuará a fornecer uma base muito sólida para a investigação científica, enquanto a neurociência e a psicologia cognitiva expandem nosso entendimento dos processos cerebrais e de seus mecanismos.

O que aprendemos dessa relação entre behaviorismo e neurociência é que a ciência é, em sua essência, um diálogo contínuo. Nenhuma abordagem ou teoria tem todas as respostas, e é através da integração de diferentes perspectivas que fazemos os maiores avanços. O behaviorismo, com sua ênfase na observação e na medição, lançou as bases para muito do que sabemos sobre o cérebro e comportamento hoje. Mas, conforme nosso conhecimento sobre o cérebro avança, devemos estar abertos a novas ideias e abordagens que nos ajudem a explorar e entender o ser humano.

Entendendo os hormônios

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Quando falamos em hormônios, o que vem na sua cabeça? Espinhas? Aquela mudança de humor repentina? Ou talvez aqueles momentos desconfortáveis em que ficamos nervosos e suando descontroladamente sem aviso? Os hormônios estão envolvidos em tudo isso, mas o papel deles vai muito além dessas simples mudanças que temos.

Os hormônios são como pequenos mensageiros químicos liberados pelo nosso corpo no sangue, e eles têm um impacto enorme em várias funções. Eles estão por trás de como lidamos com o estresse, ajudam a ativar o sistema imunológico, e até mesmo influenciam a produção de esteroides.

Esses mensageiros são parte de um sistema chamado sistema endócrino, que basicamente é o jeito do nosso corpo enviar mensagens para diferentes partes, mesmo que estejam longe umas das outras. E a variedade de funções dos hormônios é impressionante. Eles podem estimular o crescimento, controlar o metabolismo, fortalecer o sistema imunológico, entre tantas outras coisas.

O que eu acho fascinante é que muitos hormônios não fazem só uma coisa no corpo. Por exemplo, o hormônio da tireoide é essencial para o desenvolvimento quando estamos no útero da mãe, mas também é super importante para manter nosso metabolismo funcionando quando já somos adultos. Os vários hormônios podem trabalhar em conjunto para realizar a mesma tarefa, como no controle do açúcar no sangue, que depende não só da insulina, mas também de outros hormônios como glucagon, cortisol, e o hormônio do crescimento.

O sistema endócrino é uma rede complexa, e não funciona de forma simples, isso porque ele opera por ciclos de feedback, mecanismos em que a mudança de um elemento pode aumentar ou diminuir outro, dependendo do contexto. Esses ciclos podem ser de feedback positivo ou negativo. No feedback positivo, um fator estimula outro, que por sua vez aumenta o primeiro, criando um ciclo contínuo. Um exemplo disso é o processo do parto, onde o corpo libera ocitocina para aumentar as contrações, e mais ocitocina é liberada conforme as contrações aumentam, até o bebê nascer.

Mas, geralmente, nossos hormônios são regulados por ciclos de feedback negativo, onde o aumento de uma substância leva à redução dela mesma. Isso mantém tudo equilibrado. Quando o corpo percebe que o sangue está desidratado, ele ajusta alguns hormônios para reter mais água. Um desses hormônios é a vasopressina, que faz os rins reterem água para normalizar os níveis no sangue.

O exemplo mais importante de se entender é o cortisol, conhecido como o hormônio do estresse. Ele é liberado quando estamos sob pressão e ajuda o corpo a lidar com o desafio, aumentando o metabolismo do açúcar e fortalecendo o sistema imunológico. No mundo em que vivemos hoje, com tanto estresse diário, nosso corpo está constantemente produzindo cortisol.

Agora, falando sobre como os hormônios são feitos, eles podem ser produzidos de várias maneiras: a partir de proteínas, peptídeos, fosfolipídios e até colesterol. Por exemplo, o cortisol é derivado do colesterol, o que o classifica como um esteroide.

Esteroides como o cortisol desempenham funções essenciais no corpo, mas quando ouvimos falar de esteroides, normalmente pensamos nos anabolizantes usados para aumentar a massa muscular. Esses esteroides funcionam dentro das células musculares, se ligando a receptores específicos e estimulando a produção de proteínas, o que resulta em músculos maiores. Apesar de alguns abusos no passado, o grupo mais amplo dos esteroides, como os corticosteroides, tem um papel importante na medicina.

Os corticosteroides, que imitam o cortisol, são hormônios poderosos que ajudam a controlar a resposta ao estresse e a regular o sistema imunológico. Eles são eficazes porque conseguem inibir genes que provocam inflamação, o que os torna úteis no tratamento de condições como artrite e alergias. Aqueles inaladores para asma, por exemplo, contêm esteroides que reduzem a inflamação nos pulmões. E também esses hormônios podem ser usados como imunossupressores, medicamentos que enfraquecem intencionalmente o sistema imunológico. Isso é necessário em situações como doenças autoimunes, onde o corpo ataca a si, ou após um transplante de órgão, para evitar que o corpo rejeite o novo órgão.

No fim das contas, os hormônios são fundamentais para manter nosso corpo funcionando bem. É incrível como essas pequenas moléculas têm um impacto tão grande na nossa saúde e na nossa vida diária.

O "Cosmos"

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Eu gosto muito dos livros de Carl Sagan, já vi todos os episódios de "Cosmos", já participei muito de grupos de bate-papo de astronomia, ciência e afins. Talvez, eu possa me considerar um "saganista", mas acredito que Carl Sagan não iria gostar dessa definição, ou será que ia?

Recentemente, tive uma reflexão sobre o nosso lugar no universo. O que acontece quando a gente olha para o Cosmos e percebe que tudo parece seguir um curso inevitável? A Via Láctea, o Sol, a Terra… é como se tudo estivesse destinado a ser assim desde o começo. Mas, será que é assim mesmo?

Apesar das coisas seguirem leis físicas, o universo é cheio de caos e aleatoriedade que impressiona todos nós. A formação dos planetas, por exemplo, envolveu colisões e eventos imprevisíveis que poderiam ter mudado completamente o que conhecemos hoje. Isso nos leva a questionar: temos realmente controle sobre nossas vidas, ou somos apenas uma consequência inevitável de tudo o que veio antes?

Essa ideia de sermos insignificantes no contexto do universo é reforçada quando pensamos na Terra como aquele pequeno ponto azul pálido, perdido na imensidão do Cosmos. Grande parte do universo é composta de matéria escura e energia escura, coisas que não podemos ver ou interagir diretamente. Na verdade, a matéria que compõe tudo o que conhecemos representa apenas uma fração mínima do universo.

Apesar de sermos tão pequenos e insignificantes, é inspirador pensar que temos a capacidade de aprender e entender tudo em nossa volta, ou melhor, entender o Cosmos. Somos uma parte do universo que, de certa forma, estamos buscando entender cada coisa dentro dele, cada aspecto que ele se comporta. Não estamos apenas observando de fora, somos parte integrante desse imenso e fascinante mistério que é o universo.

Um pouco sobre a neuroplasticidade

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Neuroplasticidade é um daqueles conceitos que sempre me fascinaram. Basicamente, é a capacidade do nosso cérebro de se adaptar e mudar em resposta a diferentes estímulos, sejam eles internos ou externos. Esse processo pode ser incrível para a recuperação de funções perdidas após uma lesão, como um AVC ou um trauma craniano, mas também pode trazer alguns desafios quando as mudanças não são tão positivas.

O processo de neuroplasticidade pode ser observado em diferentes situações do dia a dia, quando aprendemos uma nova habilidade, seja tocando um instrumento musical, aprender um novo idioma, ou até mesmo um novo esporte, nosso cérebro vai criando novas conexões neurais. Essas novas conexões se fortalecem à medida que vamos praticando ou nos desenvolvendo, e assim tornando a execução bem mais fácil e automática com o tempo. É como se estivéssemos moldando o cérebro, treinando-o para ser mais eficiente em tarefas, essa é uma das formas positivas que podemos observar dentro da neuroplasticidade.

O que realmente chama atenção dela é como o cérebro pode reagir a lesões, como acidente vascular cerebral (AVC), ou algum trauma no cérebro. Nessas situações, a neuroplasticidade se torna um verdadeiro mecanismo no qual é para sobrevivência. Quando uma parte do cérebro é danificada, ele tenta compensar essa perda de função utilizando outras áreas que não foram afetadas. Nos primeiros dias, após a lesão, o cérebro já começa a ativar esse mecanismo para manter as funções vitais. Com o passar do tempo, ele continua a se adaptar, formando novas conexões e reorganizando para tentar restaurar ao máximo as funções perdidas.

Essa ideia de que o cérebro pode continuar a se desenvolver e mudar ao longo da vida é relativamente nova dentro da ciência. Antigamente, acreditava-se que o cérebro era "fixo" após a infância e as conexões neurais que não fossem estabelecidas durante os primeiros anos de vida estavam perdidas. Mas pesquisas recentes mostraram que, mesmo em adultos, o cérebro continua a ser altamente plástico. Ou seja, isso significa que nunca é tarde para aprender algo novo ou para se recuperar de uma lesão cerebral.

Claro, a neuroplasticidade não é sempre algo positivo. Em alguns casos as mudanças no cérebro podem levar a resultados indesejados, um fenômeno conhecido como plasticidade má adaptativa. Um fenômeno curioso é a dor fantasmas, que muitas pessoas experimentam após a amputação de um membro, apesar do membro não estar presente, o cérebro ainda "sente" dor, como se o membro ainda estivesse lá. Isso ocorre porque as áreas do cérebro que antes eram responsáveis por sentir o membro amputado se reorganizam de maneira errada, levando a sensações dolorosas. Outro exemplo de plasticidade má adaptativa é a distonia, uma condição onde os músculos se contraem involuntariamente, causando movimentos repetitivos e dolorosos. 

As dietas relacionada a neuroplasticidade do cérebro são muito importante também, elas podem ter um grande impacto na neuroplasticidade. Certos suplementos alimentares estão sendo estudados por seu potencial de estimular a criação de novas conexões neurais. Mas talvez o mais importante seja reduzir o estresse e garantir uma boa qualidade de sono. Muitos estudos têm mostrado que o estresse crônico e a privação de sono podem prejudicar seriamente a memória e a capacidade de atenção, o que sugere que um ambiente calmo e uma boa noite de sono são essenciais para manter o cérebro funcionando de forma ideal.

O papel da neuroplasticidade na recuperação e na manutenção da saúde cerebral é enorme, e o que sabemos até agora é só o começo. Cada descoberta sobre como o cérebro se adapta e muda abre portas para novas terapias e tratamentos que podem melhorar a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. E o mais empolgante é pensar que, à medida que continuamos a explorar esse campo, podemos desenvolver intervenções cada vez melhores para ajudar o cérebro a se curar e se adaptar, não apenas após lesões, mas também ao longo da vida.

O que mais me encanta na neuroplasticidade é essa grande capacidade de aprendizado e adaptação. Poder aprender, e adaptar o cérebro ao longo da vida é algo verdadeiramente fascinante de observar. A neuroplasticidade nos mostra que nunca é tarde para mudar, aprender algo novo ou se recuperar de uma adversidade que ocorre. O cérebro, com toda a sua complexidade, continua a ser um dos maiores mistérios da ciência, e a neuroplasticidade é uma das chaves para desvendar esses mistérios.



Referências:

Neuroplasticidade https://jornal.usp.br/radio-usp/cerebro-tem-capacidade-de-se-reconfigurar-e-ser-treinado-para-melhores-resultados/

Neuroplasticidade em Lesões Cerebrais: https://bjihs.emnuvens.com.br/bjihs/article/view/2238

A gênese cerebral da imagem corporal: algumas considerações sobre o fenômeno dos membros fantasmas em Ramachandran: https://www.scielo.br/j/physis/a/kVsCRLQk3Xy3YZy9dwkv6fD/ 

Distonias: https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/transtornos-de-movimento-e-cerebelares/distonias

O curioso caso de Phineas Gage: https://pintofscience.com.br/blog/o-curioso-caso-de-phineas-gage/

As influências combinadas do exercício, dieta e sono na neuroplasticidade: https://www.frontiersin.org/journals/psychology/articles/10.3389/fpsyg.2022.831819/full

As interações sociais

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Nós, seres humanos, somos essencialmente sociais. Desde os primórdios da nossa existência, a capacidade de viver em grupos, colaborar e construir comunidades foi o que nos permitiu sobreviver e prosperar. Não apenas sobrevivemos, mas também moldamos o mundo ao nosso redor, criando civilizações, desenvolvendo culturas e dominando quase todos os habitats que o planeta Terra tem a oferecer. Mas o que muitas vezes não percebemos é o quanto essa sociabilidade influencia nossos corpos e comportamentos de maneiras sutis e profundas. Vamos entender um pouco essa natureza.

Ser social é mais do que apenas compartilhar momentos com amigos ou trabalhar com pessoas em nossa volta. Envolve uma troca constante e invisível de energia, emoções e até mesmo estados fisiológicos. A ciência vem descobrindo cada vez mais como a nossa interação com os outros regula o nosso comportamento social – ou seja, como o nosso cérebro pode gerenciar os recursos do nosso corpo, como energia, hormônios e outros processos fisiológicos quando estamos interagindo com outros em nosso ambiente.

Essa regulação não é algo que fazemos apenas por nós mesmos. Pelo contrário, ela é, na maioria, influenciada pelas pessoas ao nosso redor. Pense em quantas vezes você já se sentiu melhor apenas por estar perto de alguém de quem gosta. Ou, inversamente, quantas vezes o seu humor piorou por estar em um ambiente carregado de tensão ou negatividade. Essas reações não são coincidências, elas são manifestações diretas de como os seres humanos influenciam mutualmente em um nível profundo, até mesmo biológico.

Um dos aspectos mais fascinantes dessa interação constante é como ela molda o nosso cérebro ao longo do tempo. O cérebro humano tem uma incrível plasticidade, o que significa que ele está em constante mudança, adaptando-se a novas experiências, aprendizados e interações. Essa plasticidade é evidente em como as conexões entre os neurônios, chamadas sinapses, se fortalecem ou enfraquecem dependendo das nossas experiências diárias.

Quando interagimos com outras pessoas, especialmente aquelas com quem temos uma conexão mais forte, como familiares e amigos próximos, essas experiências influenciam diretamente a estrutura e o funcionamento do nosso cérebro. Pode parecer incrível, e isso acontece constantemente em nosso cérebro. Pequenas alterações ocorrem em várias ramificações cerebrais. Com o tempo, essa interação contínua ajuda a refinar e afinar o funcionamento do nosso cérebro, melhorando nossa capacidade de responder e nos adaptar ao ambiente ao nosso redor.

Essas mudanças, no entanto, não são uniformes para todos. Algumas pessoas têm cérebros mais sensíveis às interações sociais, enquanto outras podem ser menos afetadas. Ainda assim, todos nós, sem exceção, somos moldados, em algum grau, pelas pessoas com quem convivemos. Seja através de conversas profundas, momentos de diversão, ou até mesmo conflitos, essas interações ajudam a esculpir o nosso cérebro e, por extensão, como percebemos e reagimos ao mundo.

Outro aspecto interessante é da nossa sociabilidade e o impacto que as palavras têm sobre nós. Já se sabe há muito tempo que as palavras têm poder – elas podem consolar, motivar, ferir e até destruir. Mas o que talvez não esteja tão claro é como esse poder se manifesta fisicamente em nossos corpos.

Quando alguém nos faz um elogio sincero, isso não apenas nos faz sentir bem emocionalmente, mas também pode causar mudanças fisiológicas positivas, como a redução da pressão arterial ou a liberação de hormônios do bem-estar, como a oxitocina. Por outro lado, palavras cruéis ou ameaçadoras podem desencadear uma resposta de estresse em nosso corpo, aumentando a frequência cardíaca, a pressão arterial e liberando hormônios como o cortisol, que, em excesso, pode ser prejudicial à saúde.

Essas respostas não se limitam a interações face a face. Palavras escritas ou faladas, como um texto carinhoso de um amigo ou uma mensagem de voz agressiva, podem ter efeitos semelhantes. E o mais intrigante é que esses efeitos podem atravessar grandes distâncias e até mesmo o tempo.

Chegamos a um ponto interessante: o mesmo que pode ser o melhor para o nosso sistema nervoso – ou seja, nossas interações com outros seres humanos – também pode ser o pior. Esse é o grande dilema da condição humana. Nossas interações sociais são fundamentais para nossa saúde e bem-estar, mas também podem ser uma fonte de estresse e sofrimento. Ou seja, é algo bem complexo de poder lidar.

O que podemos fazer, então, para maximizar os benefícios e minimizar os danos? A resposta não é simples, mas começa com a conscientização. Precisamos estar cientes de como nossas palavras e ações afetam os outros e a nós mesmos. Isso inclui ser mais cuidadoso com o que dizemos e como tratamos as pessoas ao nosso redor, sabendo que nossas interações têm um impacto real e duradouro.

Em última análise, temos a liberdade de falar e agir como quisermos, mas essa liberdade vem com responsabilidade. Não podemos controlar completamente as consequências do que dizemos e fazemos, mas podemos fazer a nossa parte para garantir que essas consequências sejam positivas, tanto para nós quanto para os outros.