A linguagem, pensamento, cultura e o desenvolvimento sócio-histórico

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Uma das coisas mais fascinantes no ser humano é a linguagem e seu desenvolvimento. Quando falamos uma língua, concordamos que as palavras são representações de ideias, lugares, objetos e eventos. A língua que as crianças aprendem está conectada à sua cultura e ao seu ambiente. Mas será que as palavras em si podem moldar a maneira como pensamos sobre as coisas? Psicólogos têm investigado há muito tempo se a linguagem molda os pensamentos e ações ou se nossos pensamentos e crenças moldam nossa linguagem. Dentre os mais influentes, destacam-se Lev Vygotsky, Alexei Leontiev e Alexander Luria, cujas contribuições formam a base de uma compreensão histórico-cultural desses processos. Vamos abordar um pouco sobre eles neste artigo.

O desenvolvimento

Lev Vygotsky é reconhecido por sua teoria sócio-histórica, que enfatiza a importância do contexto social e cultural no desenvolvimento cognitivo. Segundo ele, o pensamento e a linguagem são inicialmente independentes e gradualmente se fundem através das interações sociais. A linguagem é um instrumento fundamental de mediação que permite a internalização de processos culturais, facilitando o desenvolvimento do pensamento abstrato e do conhecimento. Quando a criança cresce a linguagem é relacionada aos pensamentos. Vygotsky introduziu o conceito de "Zona de Desenvolvimento Proximal" (ZDP), que descreve a diferença entre o que uma criança pode fazer sozinha e o que pode fazer com a ajuda de um adulto ou de pares mais capazes. A ZDP demonstra como a interação social e a linguagem mediada são cruciais para o desenvolvimento cognitivo, permitindo que as crianças alcancem níveis mais elevados de pensamento e conhecimento.

O desenvolvimento dos estudos da linguagem e pensamento foi continuado pelo seu discípulo Alexei Leontiev com sua teoria de atividade. Leontiev argumentou que a atividade humana é a unidade básica da vida psicológica, na qual a linguagem e o pensamento são moldados através da prática social e cultural.  Quanto mais indivíduos têm uma prática social ou interrelações sociais, mais existe desenvolvimento da linguagem. Ele enfatizou a importância da motivação e das necessidades individuais, sugerindo que o desenvolvimento cognitivo é impulsionado pela realização de atividades significativas, o que faz o indivíduo ter um melhor desenvolvimento de conhecimento. A teoria da atividade de Leontiev destaca a importância do contexto e das interações sociais no desenvolvimento cognitivo. Ele sugeriu que o conhecimento é construído através da participação ativa em práticas sociais, onde a linguagem serve como um meio de comunicação e reflexão que mediam o pensamento e a compreensão do mundo. A linguagem é uma representação tanto do mundo externo como uma expressão de um mundo interno do indivíduo. É através da linguagem que os indivíduos podem se expressar ativamente.

Outro importante colaborador de Vygotsky é Alexander Luria, que fez significativos avanços na neuropsicologia, explorando como os processos cognitivos são mediados pelo cérebro. Luria investigou as bases neurológicas do comportamento humano, demonstrando como as funções cognitivas complexas, como a linguagem e o pensamento, são organizadas no cérebro. O seu conceitos de "sistema funcional" foi desenvolvido para explicar como diferentes áreas do cérebro colaboram para realizar funções cognitivas. E que a linguagem desempenha um papel central na organização das funções mentais superiores, mediando a formação de conceitos e o pensamento lógico. Suas pesquisas destacaram a interdependência entre o desenvolvimento neurológico e a experiência social e cultural, sugerindo que o conhecimento é construído através da interação dinâmica entre o cérebro e o ambiente social. Quanto mais se tem uma interação social em seu ambiente, mas as funções cognitivas são desenvolvidas, um importante papel para o desenvolvimento cognitivo e o conhecimento em geral.

Reflexão

A linguagem pode de fato influenciar a maneira como pensamos, uma busca por ideia, uma definição ou outros. Uma demonstração recente desse fenômeno envolveu diferenças na maneira como falantes de inglês e mandarim pensam e falam sobre o tempo. Falantes de inglês tendem a falar sobre o tempo usando termos que descrevem mudanças ao longo de uma dimensão horizontal, por exemplo, dizendo algo como “I’m running behind schedule” ou “Don’t get ahead of yourself”. Enquanto falantes de mandarim também descrevem o tempo em termos verticais, não é incomum usar termos associados a um arranjo vertical. Por exemplo, em estrutura vertical o passado pode ser descrito como 上 (shàng)  “acima”, o presente  como 中 (zhōng) como "meio" e o futuro 下 (xià) significando abaixo.

Outro exemplo muito interessante, é dos povos Pirahã, que são uma tribo que vive na Amazônia brasileiras. Eles são conhecidos como sua linguagem única e têm sido objeto de muitos estudos linguísticos devido a suas características peculiares. A língua Pirahã possui um número extremamente pequeno de fonemas, o que a torna fonologicamente simples. Não existem palavras para números e eles utilizam conceitos relativos como "poucos" e "muitos", mas não há palavras específicas para contar, algo que seja muito curioso. Vamos analisar sua cultura, os Pirahã vivem no presente e não possuem mitos de criação e não se preocupam com o futuro ou o passado além do que é necessário para sua sobrevivência imediata e isso se expressa em sua linguagem.

Conclusão

Ao refletir sobre as experiências com diferentes línguas, podemos observar como a escolha de palavras, a estrutura e até mesmo a fonética podem influenciar nosso pensamento e nossa comunicação e até mesmo nossa cultura. Cada palavra pode expressar uma riqueza de significados expressa pelos pensamentos e que podem encaixar em determinadas situações. E isso pode refletir e muito na cultura. Os estudos de Vygotsky, Leontiev, e Luria fornecem uma base importante para entendermos como a linguagem, o pensamento,  o conhecimento e a cultura se desenvolvem de forma interdependente. O que mais você pode entender em nossa cultura atual, meu caro leitor? É fascinante este entendimento sobre como a linguagem nos possibilitou muitas coisas.

Referências

Zona de desenvolvimento proximal: https://www.ceale.fae.ufmg.br/glossarioceale/verbetes/zona-de-desenvolvimento-proximal

Teoria da Atividade: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8657702

Teoria do Sistema Funcional: https://portaldapsicologia.com/2019/06/08/teoria-do-sistema-funcional-de-luria/

Povo Pirahãs: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Pirah%C3%A3




As bases biológicas do comportamento

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As bases biológicas do comportamento é um campo fascinante que estuda como os aspectos psicológicos se relacionam com a biologia do corpo. É onde podemos investigar como os processos cerebrais e neuronais influenciam nossas ações, emoções e pensamentos. Vamos conhecer um pouco sobre ela neste artigo e explorar os principais conceitos.

Para começarmos, é fundamental entendermos a estrutura do sistema nervoso central (SNC). O SNC, composto pelo cérebro e pela medula espinhal, é protegido por três camadas de meninges: dura-máter, aracnoide e pia-máter. Ele é organizado em várias regiões, cada uma com funções específicas. Já o tronco encefálico, por exemplo, é relacionado com as funções vitais como a respiração e o controle cardíaco, enquanto o cerebelo é relacionado com a coordenação motora e o equilíbrio. O diencéfalo, que inclui o tálamo e o hipotálamo, atua como um centro de retransmissão para informações sensoriais e regula funções autonômicas e endócrinas. O telencéfalo, que engloba os hemisférios cerebrais, é responsável por funções cognitivas superiores, como pensamento, memória e linguagem.

Com base nessas principais informações podemos relacionar elas a alguns aspectos comportamentais. O SNC é muito importante para a regulação e execução de diferentes comportamentos, ele que “gerencia” muitas funções em geral do corpo. O cerebelo é outro ponto importante, ele é fundamental para a coordenação motora e o equilíbrio, permitindo movimentos suaves e coordenados, danos a ele resultam em ataxia, prejudicando a mobilidade e tarefas diárias. No diencéfalo, com o tálamo e hipotálamo, influencia comportamentos ao retransmitir informações sensoriais e regular funções autonômicas e endócrinas; lesões no tálamo alteram percepções sensoriais, enquanto desequilíbrios no hipotálamo afetam sono, fome, sede e temperatura corporal. Já no telencéfalo, abrangendo os hemisférios cerebrais, lida com funções cognitivas superiores como pensamento, memória, linguagem e tomada de decisões; danos específicos podem causar dificuldades de fala, memória, personalidade e julgamento. 

Continuando nossa parte de neurofisiologia, vamos agora examinar como os neurônios e as células nervosas se comunicam. A comunicação dos neurônios ocorre via sinapses, onde sinais elétricos são convertidos em mensageiros químicos chamados neurotransmissores. Entre os principais neurotransmissores estão a acetilcolina, envolvida na memória e na aprendizagem; a dopamina, relacionada à motivação e à recompensa; a serotonina, que afeta o humor e a regulação emocional; o GABA, que é o principal neurotransmissor inibitório e ajuda a reduzir a excitabilidade neuronal; e o glutamato, o principal neurotransmissor excitatório, fundamental para a plasticidade sináptica e a aprendizagem.

Os comportamentos reprodutivos são regulados por uma complexa interação de hormônios e estruturas cerebrais. Hormônios sexuais como estrogênio e testosterona têm um impacto significativo no comportamento sexual e na diferenciação sexual. O hipotálamo regula a liberação de hormônios gonadotróficos que influenciam a função das glândulas sexuais, enquanto a amígdala está envolvida na resposta emocional associada ao comportamento sexual. A regulação do comportamento alimentar é governada por uma rede de sinais hormonais e neurais que equilibram a necessidade de energia e a satisfação. O hipotálamo é o principal centro de controle do apetite, e hormônios como a leptina e a grelina sinalizam saciedade e fome, respectivamente. Alguns medicamentos relacionados à alimentação tentam gerenciar tanto neurotransmissores como hormônios para evitar o apetite. Já a ingestão de alimentos é influenciada por fatores motivacionais e sensoriais, bem como pelo controle hormonal. Distúrbios alimentares como obesidade, bulimia e anorexia nervosa resultam de desequilíbrios nesses mecanismos regulatórios.

Uma das partes que eu acho mais interessante em entender as bases biológicas do comportamento é relacionado ao aprendizado. A aprendizagem e a memória são funções críticas do cérebro que envolvem a plasticidade sináptica – a capacidade dos neurônios de fortalecer ou enfraquecer suas conexões com base na atividade. A memória pode ser classificada em vários tipos: memória declarativa, que armazena informações factuais e eventos; memória procedural, que retém habilidades motoras e hábitos; memória de curto prazo, para armazenamento temporário de informações; e memória de longo prazo, para armazenamento duradouro. Ambas são muito importantes para se ter um aprendizado ou manter o que se aprendeu.

Outra parte importante são as emoções, e de como o nosso corpo processa elas. As emoções são reguladas por um complexo sistema de estruturas cerebrais e neurotransmissores. As respostas emocionais são essenciais para a sobrevivência e a interação social. Quando você sente alegria ou tristeza existe um grande e complexo processo em seu corpo. O sistema límbico, que inclui a amígdala e o hipocampo, é fundamental para a regulação emocional, enquanto o córtex pré-frontal está envolvido na modulação das respostas emocionais e no controle dos impulsos.

A percepção da dor é um processo complexo que envolve a integração de sinais sensoriais e emocionais. A dor é modulada por diversos neurotransmissores e vias neurais. O sistema opioide regula a resposta ao estresse e à dor através da liberação de endorfinas, e a serotonina influencia a modulação da dor e a analgesia. A dor crônica pode resultar em alterações neuroquímicas e estruturais no cérebro, levando a um impacto significativo na qualidade de vida.

A atenção é um processo fundamental para a percepção e a cognição, envolvendo a regulação da atividade cortical e a integração de informações sensoriais. Na formação reticular mantém o estado de alerta e atenção, enquanto o córtex pré-frontal é crucial para o foco e a concentração. Distúrbios como o déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) são caracterizados por dificuldades na regulação da atenção e controle dos impulsos.

Os processos biológicos do pensamento de como surge é bem interessante.  Resumidamente o  pensamento envolve a integração de várias áreas do cérebro, incluindo aquelas responsáveis pela percepção, memória e emoção. Distúrbios do pensamento, como a esquizofrenia, são caracterizados por desorganização do pensamento e percepções distorcidas. Transtornos de ansiedade podem impactar significativamente a capacidade de pensamento racional e claro.

A linguagem é uma função complexa que envolve a coordenação de várias áreas cerebrais. A lateralização hemisférica desempenha um papel importante na produção e compreensão da linguagem. Na área de Broca é responsável pela produção da fala, enquanto a área de Wernicke é importante para a compreensão da linguagem. Distúrbios da linguagem, como afasias e gagueira, resultam de danos ou disfunções nessas áreas específicas do cérebro.

A consciência é um ponto muito interessante de entender. Ela é um estado de percepção do ambiente e de si, envolvendo a coordenação de várias funções cerebrais. A regulação circadiana do sono e dos sonhos é fundamental para a restauração cerebral e o bem-estar geral. A cronobiologia estuda os ritmos biológicos e sua influência na função cerebral e no comportamento. Distúrbios afetivos, como depressão e transtorno bipolar, são frequentemente associados a desequilíbrios nos ritmos circadianos e nos processos neuroquímicos subjacentes.

E agora terminamos, com isso, meu caro leitor, você já tem um conhecimento abrangente de como a biologia influencia o comportamento. É muito fascinante esse mundo interno do corpo, não é? Cada aspecto do comportamento, desde os movimentos básicos até as emoções mais profundas, é governado por uma rede de neurônios e neurotransmissores. Agora é só ir em busca de se aprofundar ainda mais em cada um dos tópicos, e assim você vai compreender ainda mais como funciona o comportamento.

 

Referências:

Sistema nervoso central: https://www.oncoguia.org.br/conteudo/o-sistema-nervoso-central/881/176/

Neurônios: https://sanarmed.com/resumo-sobre-neuronios/

Hormônios: https://eurofarma.com.br/artigos/a-importancia-do-bom-funcionamento-dos-hormonios#:~:text=Os%20horm%C3%B4nios%20s%C3%A3o%20subst%C3%A2ncias%20qu%C3%ADmicas,as%20atividades%20biol%C3%B3gicas%20do%20corpo

Glândulas endócrinas: https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-hormonais-e-metab%C3%B3licos/biologia-do-sistema-end%C3%B3crino/gl%C3%A2ndulas-end%C3%B3crinas

Neutrotransmissão: https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/neurotransmiss%C3%A3o/neurotransmiss%C3%A3o

Aspectos neurobiológicos do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH): http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-58212010000100019

Neuroanatomia: https://sanarmed.com/resumo-de-neuroanatomia/#:~:text=A%20neuroanatomia%20estuda%20o%20sistema,fun%C3%A7%C3%B5es%20sensoriais%20e%20motoras%20complexas.

 

Perspectiva Histórico-Cultural de Lev Vygotsky

 


 

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Quando pensamos em teorias que moldaram a educação moderna, não podemos ignorar Lev Semenovich Vygotsky e sua contribuição para a psicologia e pedagogia. Vamos abordar um pouco sua importância.

Lev Vygotsky nasceu em 17 de novembro de 1896, em Orsha, uma pequena cidade na Bielo-Rússia. Vindo de uma família judaica, ele cresceu em um ambiente rico em estímulos intelectuais. Sua educação inicial foi realizada em casa por tutores particulares, o que fomentou seu gosto precoce pela leitura e estudo. Aos 15 anos, Vygotsky ingressou em um colégio privado, onde seu desempenho brilhante lhe rendeu uma medalha de ouro. Mais tarde, ele estudou Direito e Literatura na Universidade de Moscou e, paralelamente, participou de cursos de História e Filosofia na Universidade Popular de Shanyavskii. Após a Revolução Russa de 1917, começou sua carreira em Gomel, lecionando, escrevendo críticas literárias e dando palestras. Seu interesse pela psicologia acadêmica se aprofundou quando começou a trabalhar com crianças portadoras de deficiências. Esta experiência o motivou a buscar alternativas para ajudar no desenvolvimento dessas crianças, estabelecendo as bases para seu futuro trabalho em psicologia.

O ano de 1924 foi um grande marco em sua carreira e após apresentar uma palestra no II Congresso de Psicologia em Leningrado, ele foi convidado a trabalhar no Instituto de Psicologia de Moscou. Lá, fundou o Instituto de Estudos das Deficiências e liderou um grupo de jovens cientistas, incluindo Alexander Luria e Alexei Leontiev, seus principais colaboradores. Ele buscava superar as limitações das correntes psicológicas de sua época, que eram dominadas por abordagens empiristas e idealistas. Propondo uma nova psicologia baseada nos princípios do materialismo dialético, integrando o corpo e a psique, o biológico e o social, o individual e o histórico.

A sua teoria histórico-cultural, também conhecida como abordagem sociointeracionista, tem como objetivo central caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e como eles se formam ao longo da história e do desenvolvimento individual. Focando nas funções psicológicas superiores, como a capacidade de planejamento, memória voluntária e pensamento abstrato, que diferem dos processos psicológicos elementares, de origem biológica. Essas funções superiores, segundo Vygotsky, não são inatas, mas se originam nas interações sociais e culturais e se desenvolvem através da internalização de formas culturais de comportamento. Para ele, a cultura é parte constitutiva da natureza humana, moldando as características psicológicas por meio da internalização de modos de operar com informações.

Um dos conceitos centrais em sua teoria é a mediação. Ele argumentou que a relação do homem com o mundo é mediada por instrumentos e signos, que são construídos historicamente. Instrumentos são ferramentas físicas usadas para modificar o ambiente, enquanto signos são ferramentas psicológicas que regulam os processos mentais. A linguagem, em particular, desempenha um papel importante como sistema simbólico que permite a comunicação, a abstração e a generalização. Investigou como a internalização de sistemas de signos culturalmente produzidos altera o comportamento humano, destacando a importância da linguagem no desenvolvimento psicológico.

A educação desempenha um papel muito importante no desenvolvimento humano. Vygotsky acreditava que a educação deve ser vista como um processo social, onde o desenvolvimento das funções psicológicas superiores ocorre através da interação com outras pessoas e da internalização de práticas culturais. A educação deve fornecer oportunidades para que as crianças participem ativamente de práticas sociais e culturais, facilitando a internalização de ferramentas e signos culturais. Através dessa participação ativa, as crianças desenvolvem suas capacidades cognitivas e psicológicas, tornando-se indivíduos plenamente integrados em sua cultura.

A obra de Vygotsky, embora incompleta devido à sua morte precoce, deixou uma importante contribuição que continua a influenciar a educação e a psicologia. Seus conceitos de mediação, internalização e Zona de desenvolvimento proximal são amplamente utilizados em práticas educacionais modernas, enfatizando a importância da interação social e da cultura no desenvolvimento cognitivo. Educadores e psicólogos continuam a explorar e expandir suas ideias, aplicando seus princípios para criar ambientes de aprendizagem que promovam o desenvolvimento integral das crianças. Sua obra destaca a necessidade de uma abordagem que considere tanto os aspectos biológicos quanto culturais no desenvolvimento humano, oferecendo uma visão integrada e dinâmica da educação.

Referências: 

Lev Vygotsky: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lev_Vygotsky

Teoria socioconstrutivista de Lev Vygotsky: aprendizagem por meio das relações e interações sociais: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/10/teoria-socioconstrutivista-de-lev-vygotsky-aprendizagem-por-meio-das-relacoes-e-interacoes-sociais

Superando limites: a contribuição de Vygotsky para a educação especial: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862006000300007

Significação e mediação por signo e instrumento: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X1993000100005

 

 

 

Entendendo "Big Data"

 


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 Vamos abordar um pouco sobre o surgimento de Big Data e como ela se comporta hoje em dia. Assuntos técnicos também serão abordados caso precise, mas garanto que vão ser de fácil entendimento.

Início

O conceito de Big Data não surgiu da noite para o dia, mas sim evoluiu ao longo do tempo à medida que a capacidade de armazenamento de dados e as informações foram se desenvolvendo. Na década de 1960, com o advento dos computadores, a capacidade de armazenar e processar dados começou a crescer - claro que em épocas anteriores eram usados cartões perfurados para manter os dados. Mesmo na década de 1960 e com os computadores evoluindo, os dados armazenados ainda eram muito pequenos, as fitas magnéticas e discos de armazenamento eram muito limitados. O processamento de dados era feito por computadores próprios para isso, os famosos mainframes - que até nos dias de hoje ainda são bem usados. Muitos deles eram grandes, caros e limitados a uma pequena parte de empresas. Foi nesta mesma época que começaram a surgir os primeiros bancos de dados para gerenciar informações.

Nos anos de 1980 e 1990, houve um grande salto com a popularização dos computadores pessoais e o avanço da tecnologia de rede, e a quantidade de dados começou a aumentar consideravelmente. Os primeiros bancos de dados começaram a se popularizar também, e a IBM e a Oracle já começaram a dominar esta área.

O verdadeiro ponto de partida foi nos anos 1990, com a ascensão da internet e a digitalização da informação. A conectividade global resultou em um grande aumento no processamento de dados gerados. As empresas começaram a ver o valor e o potencial nos dados e necessitavam de ferramentas mais avançadas para suas análises. Os bancos de dados foram evoluindo por causa dessas necessidades constantes. Isso foi um fator importante para o surgimento de vários outros bancos de dados, e principalmente a popularização do modelo de bancos de dados não relacional como os NoSQL, que foram projetados para lidar com dados não estruturados e semiestruturados.

Mas qual é a diferença entre dados estruturados e não estruturados? Vou explicar de forma bem simples. Os bancos de dados relacionais, também chamados de SQL, são bancos de dados estruturados, organizados em linhas e colunas. Eles organizam os dados separadamente, e cada dado pode ser categorizado, separado por formatos, etc. A consulta fica muito mais fácil. Os bancos de dados não relacionais, ou NoSQL, não são estruturados. Eles não utilizam o modelo de tabela para separar os dados e, em geral, não separam os dados. Eles também podem armazenar grandes quantidades de dados, tendo alta velocidade de processamento e podendo armazenar vários formatos de dados todos juntos.

Já no início dos anos 2000, o termo "Big Data" começou a ganhar popularidade. As empresas estavam gerando quantidades enormes de dados a partir de várias fontes, como transações comerciais, mídias sociais, sensores e muito mais. O Google foi pioneiro no desenvolvimento de tecnologias de Big Data, como o Google File System (GFS) e o MapReduce - que hoje em dia são muito usados em seus produtos - e influenciou diretamente o desenvolvimento do Hadoop. O GFS foi projetado para suportar aplicações que necessitavam de grande capacidade de armazenamento e acesso rápido aos dados. O MapReduce, por sua vez, é um modelo de programação que permite o processamento paralelo de grandes volumes de dados em um cluster de computadores. Para a maioria que usa "Big Data", o Hadoop está lá no meio de outros serviços. O Hadoop, que é um software open-source desenvolvido pela Apache Software Foundation, é um dos mais populares softwares para "Big Data". Ele permite o processamento distribuído de grandes conjuntos de dados em clusters de computadores (computação em paralelo) usando modelos de computação simples, o que facilita e agiliza muito a implementação de Big Data.

Na década de 2010, o Big Data se tornou um componente muito importante para muitas empresas. A quantidade de dados gerados continuou a crescer, impulsionada pelo aumento de vários dispositivos, principalmente os smartphones, mídias sociais e outros serviços. Além do Hadoop, surgiram outras tecnologias para compor mais esse processamento de dados, como o Apache Spark e o Apache Flink, ambos oferecendo um processamento de dados em tempo real muito mais rápido - já que os dados estavam crescendo cada vez mais e muitas empresas estavam com necessidade de softwares com poder de processamento muito mais rápido.

Essa década foi marcada pelo surgimento de vários conceitos relacionados a Big Data, entre eles o Data Lake e o Data Warehouse, que também ganharam popularidade. O Data Lake consiste em um armazenamento de dados de forma bruta que depois podem ser estruturados, semiestruturados ou não estruturados conforme a necessidade. Ou seja, você pode projetá-lo e separá-lo, e caso precise organizá-lo de acordo com sua necessidade. E o Data Warehouse, que é fundamental para suportar relatórios empresariais, análises de dados e processos de tomada de decisão. Ambos os sistemas são para grandes volumes de processamento de dados.

Finalmente, chegamos na década de 2020, e o Big Data ficou mais integrado com a tecnologia de Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning (ML). Essa combinação permite que as empresas e organizações possam automatizar, organizar, analisar e processar dados de forma muito mais fácil e rápida, fornecendo informações que podem ser úteis em determinadas situações. É muito mais rápido com IA e ML analisar o gosto dos usuários e oferecer um produto do que fazer isso manualmente.

Para facilitar e oferecer esses serviços a qualquer empresa que necessite, surgiram os serviços de cloud computing, ou em nuvem. A Amazon Web Services (AWS) foi uma das primeiras a oferecer serviços de Big Data sem precisar comprar equipamentos. Você entra no site deles, escolhe um serviço, utiliza conforme suas necessidades e, caso não queira mais, cancela de maneira rápida. Existem mais de 200 serviços em nuvem dentro da AWS e muitos deles podem complementar sua necessidade em Big Data. Vendo essas soluções que a Amazon criou, outras empresas começaram a oferecer serviços semelhantes, como o Microsoft Azure, Google Cloud Platform (GCP) e outras. Muitas delas oferecendo serviços semelhantes ao da AWS, às vezes mais baratos ou com melhores funcionalidades.

Privacidade

Toda essa coleta e armazenamento de dados levantaram sérias preocupações sobre privacidade e segurança. Quanto as empresas de Big Data coletam e armazenam dessas informações sobre o usuário? E como esses dados são utilizados? São perguntas cujas respostas não são fáceis de obter. Hoje em dia, os dados e sua coleta são muito importantes para várias tomadas de decisões. Empresas de Big Data podem coletar enormes quantidades de dados de várias fontes, como seu navegador, interações em mídias sociais, dados de dispositivos móveis, histórico de compras etc. É uma grande variedade de dados que elas podem armazenar e manter em seus servidores para serem utilizados. E esses dados, quando analisados, podem revelar padrões, tendências do usuário, do mercado e de muitas outras coisas. Quantas vezes já te ofereceram um produto na internet que você nem queria, mas ficou interessado em comprar? E muitas das empresas, mesmo com o histórico deletado de serviços online, podem ainda armazenar os dados em seus servidores. Várias regulamentações foram criadas globalmente, como a GDPR (Regulamento Geral de Proteção de Dados) na Europa e a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) no Brasil. Ambas são uma maneira de tentar garantir proteção e segurança dos dados que são coletados e armazenados, mas podem não ser suficientes para garantir os direitos à privacidade.

Conclusão

A Big Data está cada dia mais evoluindo com o avanço da tecnologia, e a coleta massiva de dados não vai parar, e sua integração será cada vez mais presente em vários serviços. Levanto a questão para sempre ficarmos atentos e observar como os dados são utilizados, e quando eles ocorrem vazamentos na internet.

 

Um pouco sobre Guerras Híbridas

 


 

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Você já ouviu falar em "conflitos híbridos" ou "guerra da informação"? Parece coisa de filme de espionagem e ficção científica, não é? Mas acredite, isso está sendo uma realidade e está acontecendo em nossa sociedade. Vamos analisar esse tema e entender o que está acontecendo em nossa sociedade.

Os conflitos híbridos são o tipo de guerra moderna que mistura várias formas de confronto, tanto militar quanto não militar. Com o desenvolvimento de nossa tecnologia, e o surgimento da computação, as guerras se tornaram algo diferente, não é mais direta em um campo de batalha e sim na base da informação. Hoje, ela envolve desde ciberataques, até propaganda na mídia social.  Vamos imaginar a situação: além dos tanques e soldados, temos hackers invadindo sistemas e infraestrutura de governos, fake news espalhando desinformação e até empresas sendo usadas como ferramenta de influência. É um tipo de grande tabuleiro de xadrez, onde cada peça tem um importante papel e o jogo é muito mais complexo do que se imagina. Parece teoria da conspiração? Sim, mas é a realidade que está acontecendo.

O termo “hibridismo” não é novo, mas ganhou um novo sentido nos últimos anos. Em tempos antigos a guerra era no campo de batalha, era confronto direito, ou era “guerra” ou “paz". Agora com toda a tecnologia, e globalização, a linha entre esses dois estados ficou bem mais borrada. Esse conceito de ” guerras híbridas" é uma resposta rápida a esse processo de guerras modernas.

Agora, vamos falar das chamadas "revoluções coloridas". Esse termo é usado para descrever uma série de protestos que ocorreram em países da antiga União Soviética, como a Revolução Laranja na Ucrânia. Esses movimentos foram vistos pela Rússia como uma forma de guerra híbrida, onde a subversão política e os protestos populares se misturam com táticas militares encobertas. Para os russos, essas revoluções são um exemplo clássico de como o Ocidente, especialmente os EUA, utiliza essas táticas híbridas para desestabilizar governos que não são seus aliados. Eles veem isso como uma ameaça direta e um novo tipo de guerra que vai além dos métodos tradicionais.

Falando na Rússia, eles têm uma abordagem bem única sobre tudo isso. O pensamento militar russo é muito influenciado pela experiência soviética. Eles desenvolveram uma doutrina que combina métodos militares e não militares para alcançar objetivos políticos e militares sem recorrer à guerra aberta. A Rússia tem usado essas táticas de forma bem eficaz, como vimos na anexação da Crimeia e nos conflitos no leste da Ucrânia. Usando uma mistura de forças regulares e irregulares, propaganda e ciberataques, eles conseguiram atingir seus objetivos sem desencadear uma guerra total.

No mundo de hoje, a guerra da informação é uma parte importante dos conflitos híbridos. É tudo sobre controlar a narrativa e influenciar corações e mentes. Com a internet e as mídias sociais, a manipulação de informações se tornou uma ferramenta poderosa e perigosa. Indo para os EUA, podemos ver eles usando todo o seu potencial informacional para influenciar a opinião pública mundial sobre a Rússia no conflito da Rússia X Ucrânia. Várias empresas de mídia e propaganda, diferentes narrativas a fim de influenciar tanto a opinião pública de fora ou de dentro da Rússia.

Então, meu caro leitor, entender os conflitos híbridos e a guerra da informação é essencial para compreendermos a dinâmica do mundo atual. Não é mais apenas sobre quem tem o maior exército ou as melhores armas, mas sobre quem pode controlar a narrativa e influenciar as mentes das pessoas. Vivemos em uma Era onde a informação é poder, e saber como ela é usada pode nos ajudar a navegar melhor por esse cenário complicado.

 


Explorando as raízes da ciência

 


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A ciência, a doce ciência que traz luz para a nossa sociedade, a cada nova comprovação científica. Vemos que nossa sociedade se desenvolve, ou melhora, à medida que a ciência e a tecnologia se desenvolvem. Acreditamos que isso poderia proporcionar melhores direitos e oportunidades para todos nós. Ora, tendo uma sociedade com ciência e tecnologia, é lógico que isso poderia acontecer. No entanto, à medida que nos aprofundamos e entendemos os reais interesses que estão por detrás das pesquisas científicas, vemos que essas melhorias estão reservadas apenas a uma minoria de pessoas. O avanço científico, por mais impressionante que possa parecer aos nossos olhos, tem claros interesses políticos e militares por trás. A ciência sempre teve um patrocínio político e militar.

Por um longo tempo, Isaac Newton foi frequentemente retratado como um gênio singular que transformou a ciência com sua obra "Principia Mathematica". Esta obra tem um importante papel no desenvolvimento da física e da ciência em geral. Newton abordou questões fundamentais como as leis do movimento, o comportamento de corpos em meios resistentes e os princípios de hidrostática, entre outros, que são até hoje muito importantes nos estudos da engenharia.

Mas como se deu esse desenvolvimento nos tempos de Newton? Se analisarmos a época em que a Europa se encontrava, podemos entender precisamente essa necessidade do desenvolvimento científico. Durante os séculos XVI e XVII, a Europa passou por uma grande transformação. Com a dissolução do feudalismo e o surgimento do capitalismo, houve a necessidade de melhorias e inovações em várias áreas de exploração, navegação, construção e engenharia em geral.

A Revolução Inglesa teve um papel importante na vida e no trabalho de Newton, ocorrendo em um período de grande turbulência social e política. Ele testemunhou a ascensão da burguesia ao poder e sua luta contra o absolutismo e o feudalismo, que foi também a luta por uma ciência que pudesse servir aos interesses do desenvolvimento industrial e comercial da época.

E mesmo em nossa época atual, podemos ver nitidamente a ciência crescer de acordo com seus interesses, principalmente lucrativos. O investimento em determinadas áreas da ciência é frequentemente direcionado para aquelas que prometem um retorno financeiro. Mesmo em áreas como medicina, farmacêutica e saúde em geral, espera-se um retorno significativo. Muitos investidores esperam esse retorno e priorizam pesquisas que possam beneficiar economicamente, mas não socialmente, e isso é frequentemente negligenciado.

Evidentemente, isso não vai mudar facilmente. A ciência, sob o capitalismo, se torna uma ferramenta de lucro, e não um processo social que possa beneficiar a todos. A prioridade das pesquisas é determinada pelos interesses de seus investidores e não pelas necessidades da sociedade em geral. E como podemos mudar isso? Esse é um problema que devemos tratar com urgência...

 


Referências:
The Social and Economic Roots of Newton’s Principia, em russo: Социально-экономические корни механики Ньютона, em português:  As Raízes Sociais e Econômicas dos “Principia” de Newton - de Boris Hessen

Devaneios

 


 

O sol parecia quente quando Antônio via as ruas de sua janela. Carros passando e a cidade toda cheia, todos indo de um lado para o outro. Ao observar tudo isso, Antônio permitia que sua mente divagasse um caminho desconhecido, era uma sensação boa pensava ele. Era como uma brisa refrescante em que dava para sentir momentos antigos e fantásticos. O sol, o céu azulado, o verde das planícies permitiu isso.  Ele sorri enquanto sua mente dança em um balé de devaneios, uma bela sinfonia de pensamentos livres de realidades. Que sensação gostosa essa, pensava ele enquanto deixava seus pensamentos fluírem.

Você já se pegou sonhando acordado, imaginando cenários hipotéticos ou fantásticos, ou aqueles suaves momentos em que passou antigamente? Esses momentos nos transportam para um mundo de imaginação, nos proporcionando reflexão. Uma sutil sensação que vem a nós de uma maneira que não sabemos o motivo. Mas que sensação é essa? Devaneios são processos mentais nos quais a imaginação humana se liberta das restrições da realidade e cria cenários alternativos, fantasias ou desejos ou até mesmo uma visualização de momentos passados. Eles são uma parte essencial da experiência do ser humano, pois permitem que as pessoas explorem diferentes possibilidades, expressem sua criatividade e encontrem soluções para problemas que enfrentam no cotidiano. Muitos deles podem ter benefícios emocionais, como aliviar o estresse, aumentar a autoestima e melhorar o humor. Não são apenas uma forma de escapismo, mas também uma ferramenta cognitiva que pode ajudar as pessoas a alcançarem seus objetivos e a se adaptarem às mudanças.

Os devaneios são definidos como pensamentos que não estão relacionados ao que estamos fazendo ou ao ambiente em que estamos. Eles podem ser voluntários ou involuntários, positivos ou negativos, realistas ou fantasiosos. Podem ser sobre pessoas, lugares, eventos ou objetos que conhecemos ou nunca vimos. e também podem ser curto ou durar alguns minutos. Os devaneios são diferentes dos sonhos que temos enquanto dormimos porque mantemos algum nível de consciência e controle sobre eles. Também podemos interrompê-los se precisarmos nos concentrar em algo mais importante. No entanto, assim como os sonhos, os devaneios podem revelar aspectos do nosso subconsciente, nossos desejos, medos, emoções e personalidade.

Uma das funções dos devaneios é servir como uma forma de escapismo, ou seja, uma maneira de se afastar dos problemas ou das dificuldades da vida cotidiana. Eles podem proporcionar um alívio de estresse, pois permitem que a pessoa se imagine em situações mais agradáveis, divertidas ou gratificantes. Por exemplo, alguém que está insatisfeito com o seu trabalho pode devanear sobre uma viagem dos sonhos, um novo emprego ou uma mudança de carreira.

Os psicólogos classificam os devaneios em dois tipos principais: positivos e negativos. Os devaneios positivos são aqueles que nos fazem sentir bem, relaxados, felizes ou inspirados.  Podem incluir cenários agradáveis ​​como estar em uma praia paradisíaca, ganhar na loteria ou conhecer o amor da nossa vida e também podem ser uma forma de planejar o futuro, como imaginar como será nossa carreira, família ou casa ideal. Já os devaneios negativos são aqueles que nos fazem sentir mal, ansiosos, tristes ou irritados, podendo envolver cenários desagradáveis, como estar em uma situação perigosa, perder alguém querido ou fracassar em algo importante. Muitos deles podem ser uma forma de reviver o passado, como lembrar de experiências traumáticas, arrependimentos ou conflitos.

Em suas raízes biológicas podemos destacar que durante esses momentos, várias regiões cerebrais, incluindo o córtex pré-frontal, o córtex cingulado posterior e o hipocampo, se comunicam, construindo narrativas imaginativas. A liberação de dopamina, neurotransmissor ligado à recompensa, pode contribuir para a sensação prazerosa associada aos devaneios.  Ao mesmo tempo, a desativação temporária do córtex sensorial permite que a mente se desligue do ambiente externo, mergulhando em pensamentos internos.  Os devaneios ocorrem frequentemente durante períodos de descanso, indicando que a ausência de estímulos externos permite ao cérebro explorar funções internas, revelando os complexos processos biológicos por trás desta forma única de expressão mental.

Mais do que apenas um processo, os devaneios podem desempenhar um papel na exploração de si próprio e no processamento emocional, explorando suas emoções, suas ideias, novas experiências, podendo refletir os interesses, os valores, as aspirações ou até mesmo os conflitos da pessoa, e podem ajudá-la a conhecer-se melhor, a expressar-se criativamente ou a integrar as suas experiências em sua realidade. Por exemplo, você pode adquirir uma nova ideia para um projeto futuro ou encontrar inspiração para uma variedade de atividades criativas e  isso pode ajudá-lo a encontrar soluções para problemas ou até mesmo explorar diferentes possibilidades.

É importante destacar que os devaneios não se tornem prejudiciais ou interferindo na atenção, na memória, no desempenho ou na satisfação com a realidade. Nesse caso, pode ser necessário buscar ajuda profissional para compreender e resolver as causas dos devaneios.  O importante é ter consciência dos seus devaneios e de seus efeitos na vida, e usar essa informação para escolher os que lhe fazem bem e evitar os que lhe fazem mal.  De todo mundo devaneios são uma viagem fantástica para um mundo maravilhoso da imaginação, e aí meu caro leitor você já se parou em um devaneio?

 

Links:

What is daydreaming? Parts of the brain show sleep-like activity when your mind wanders
https://theconversation.com/what-is-daydreaming-parts-of-the-brain-show-sleep-like-activity-when-your-mind-wanders-163642

Brain's Problem-solving Function At Work When We Daydream https://www.sciencedaily.com/releases/2009/05/090511180702.htm

Your Mind Wanders Because Your Brain Whispers https://neurosciencenews.com/daydreaming-memory-hippocampus-21669/

Creative Types Reserve a Special Corner of the Brain for Dreaming Big https://www.scientificamerican.com/article/creative-types-reserve-a-special-corner-of-the-brain-for-dreaming-big/