Sabe aquele miojo que fica pronto em 3 minutos? O biscoito recheado que comemos "só um" e depois percebemos na embalagem muitas coisas adicionadas? Ou aquele suco de caixinha com gosto de infância, mas que na realidade nunca viu uma fruta de perto? Pois é, esses são excelentes exemplos clássicos do que a ciência chama de alimentos ultraprocessados. E hoje eu quero compartilhar algumas ideias sobre como esses produtos estão presentes no nosso dia a dia podem estar sabotando nossa fome, o nosso peso e até o nosso humor, tudo isso sem percebermos.
Mas calma que eu vou te explicar tudo, de um jeito que seja facilmente entendido e de um jeito que possa refletir do que você está comendo, depois que você entender o que está por trás desses produtos, é difícil não ficar indignado.
Antes de tudo, vamos entender o que significa "ultraprocessado", o termo que virou moda nos últimos anos, mas que ainda causa confusão. Muitos acham que é só comida industrializada, mas não é bem assim. O que diferencia um alimento ultraprocessado de um simples arroz de saquinho é o grau e o tipo de transformação que ele sofreu. Pão de forma industrial, nuggets, salgadinhos de pacote, cereais matinais, refrigerantes, macarrão instantâneo, hambúrguer congelado, molho pronto, tudo isso entra na categoria dos ultraprocessados. São produtos feitos com ingredientes que nem reconhecemos: isolados de proteína, xaropes, emulsificantes, corantes, aromatizantes, estabilizantes, espessantes e outras coisas que nem nunca vimos na vida. Eles são práticos, gostosos, nos dá satisfação? Com certeza, sim, mas aí que mora o perigo.
Imagine passar 28 dias no hospital, comendo exclusivamente o que te oferece, sem sair para pedir delivery, sem dar aquela escapadinha para o lanche da madrugada. Foi isso que 20 adultos aceitaram fazer pela ciência. A missão era simples, duas semanas comendo só alimentos ultraprocessados e outras duas semanas só com comida de verdade, como arroz, feijão, legumes, carnes, frutas, ovos, etc. O mais incrível é as quantidades de caloria, açúcar, gordura, fibra e sal era praticamente as mesmas nos dois tipos de dieta. O que mudava era o tipo de alimento: em uma tudo era ultraprocessados, e na outra, tudo era minimamente natural.
E mesmo com essa semelhança no papel, o resultado foi totalmente diferente. As pessoas comeram em média 500 calorias há mais por dia, sem sentir fome ou ingerir mais comida, sem estar mais ativa ou querer fazer alguma atividade e ainda ganharam cerca de 1 kg em 14 dias. Já na outra fase de comida natural ou comida de verdade eles perderam nesses mesmos 14 dias 1 kg.
O estudo mostrou que não era porque os voluntários achavam os alimentos ultraprocessados mais gostosos ou porque estavam com mais fome, era algo mais sutil e mais traiçoeiro: eles comiam mais rápido e comia mais antes de o corpo avisar "chega". Sabe aquela sensação de estar satisfeito, de barriga cheia ou vontade de parar de comer? Ela vem com certo atraso. E quando comemos devagar, mastigar bem, sentir o sabor, e respeitar o ritmo do corpo, esse ritmo chega a tempo e nos dá satisfação. Mas no caso dos ultraprocessados que normalmente são mais moles, fáceis de mastigar engolir, esse tempo entre o garfo e o sinal de saciedade são curta demais e quando o corpo percebe isso já comemos demais.
Além disso, a densidade calórica desses produtos é absurda, ou seja, pouco volume e muita energia. Um pacote pequeno de biscoito recheado pode ter mais caloria do que um pratão de arroz, feijão, bife e salada. Eles também são pobres em fibras, o que também atrasa a sensação de saciedade e isso sem contar os aditivos que afetam o cérebro, o paladar, e o nosso desejo de repetir a dose.
Durante o estudo, os pesquisadores acompanham de perto tudo que acontecia no corpo dos participantes: peso, gordura, glicose, hormônios da fome e da saciedade, entre outros. O que acontece foi o seguinte: Que comeu ultraprocessados ganhou peso e gordura corporal. Quem comeu comida de verdade perdeu peso e gordura. O hormônio da saciedade aumento com a comida natural, e o da fome(grelina) diminuiu. O gasto energético naqueles que comeram ultraprocessados não mudou, foi o excesso de comida mesmo.
Um detalhe interessante é que o corpo dos participantes ficou com mais retenção de líquidos, provavelmente devido ao excesso de açúcar e poderia ter sido influenciado pelo excesso de peso ou volume corporal.
Mas aí você pode estar pensando: "Ah, mas eu como miojo e biscoitos todos os dias e não engordo". Ok, mas o peso na balança não é a única coisa que importa.
A maioria desses produtos tem efeito inflamatório, aumenta a resistência à insulina, desorganizam a flora intestinal e, com o tempo, aumentam o risco de diabete, hipertensão, doenças do coração e até alguns tipos de câncer. Isso tudo pode acontecer mesmo sem a pessoa ganhar peso. O corpo sofre em silêncio. Nem sempre as consequências podem chegar na hora, mas depois dos 30 anos ou 40 anos a conta pode chegar.
Existem pessoas que acham que a luta contra os ultraprocessados é coisa de quem quer fazer dieta ou ficar no estilo fitness. Grande engano, essa situação é sobre saúde pública, qualidade de vida e até justiça social. Alimentos ultraprocessados são mais baratos, mais acessíveis e mais "vendidos" para quem tem menos dinheiro e menos tempo. Enquanto isso, cozinhar em casa virou luxo, fazer feira virou privilégio, e o que sobra na prateleira do mercado é para quem tem só uns trocados e é justamente o que mais adoece. O estudo mostra que preparar uma dieta natural custa bem mais caro que uma baseada em ultraprocessados. Isso sem contar o tempo para cozinhar, o gás, a louça, o transporte até a feira, ou seja, vivemos num sistema que empurra a população para comida que engorda, adoece e ainda gera lucro para indústrias.
Mas o que podemos fazer? A resposta parece ser simples, mas não é fácil. Comer menos ultraprocessados e mais comida de verdade, mas isso só será possível se houver mudança em vários níveis, como na educação, na política, na indústria, nos rótulos, na propaganda, no acesso à alimentação de qualidade. Enquanto isso é tentar cozinhar um pouco mais em casa, ler rótulos e evitar ingredientes que não conhecemos, trocar salgadinhos por uma fruta ou castanha, fazer feira ao invés de supermercado, quando possível, e sempre questionar comida ruim e mais barata.
A realidade é que a indústria não se preocupa com nossa saúde, eles querem na maioria das vezes só lucrar. Os alimentos ultraprocessados não foram feitos para nutrir ninguém, eles foram feitos para dar lucro, quanto mais você come, melhor para quem os vende. Eles são projetados para serem irresistíveis, b ratos, duráveis e práticos. Mas tudo isso tem um preço: a nossa saúde. O estudo que descrevi é mais um sinal e alerta, uma confirmação científica do que muitos já sentia: comida industrializada nos adoece.
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