Entendendo o cortisol

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Quando se fala em estresse, um nome surge imediatamente na conversa: o cortisol. Essa palavra tem sido cada vez mais mencionada quando o assunto é saúde mental e física, especialmente em tempos de tanta pressão e rotina acelerada que a maioria tem atualmente. E é verdade, o cortisol tem um papel central nas nossas respostas ao estresse, mas o que muitas vezes passa despercebido é o quanto ele influencia várias áreas do nosso corpo, especialmente o cérebro. Neste texto, vamos explorar um pouco o que é o cortisol, como ele age no corpo e, mais especificamente, no cérebro, além dos seus impactos tanto a curto quanto a longo prazo. Vamos entender, também, como o excesso desse hormônio pode afetar o nosso comportamento, memória, cognição e até levar a problemas mais sérios como depressão, ansiedade e impulsividade.

O hormônio do estresse

Primeiro, o que é exatamente o cortisol? O cortisol é um hormônio esteróide produzido pelas glândulas suprarrenais, que ficam logo acima dos rins. Ele é liberado no sangue em resposta a situações de estresse ou baixa glicose no corpo. É o hormônio que prepara o corpo para reagir, fornecendo energia extra e ajudando o organismo a lidar com uma situação desafiadora. Porém, ele não é liberado apenas em momentos de tensão, o cortisol também é essencial para funções básicas do nosso corpo, como a regulação do metabolismo, o controle do ciclo sono-vigília e até o funcionamento do sistema imunológico.

A função do cortisol vai muito além de apenas ser um hormônio do estresse. Ele tem um papel essencial em várias funções fisiológicas do nosso corpo. Uma de suas principais funções é a regulação da glicose no sangue. Quando o corpo está em uma situação de estresse, o cortisol age garantindo que o cérebro receba glicose suficiente para funcionar bem. Ele também é responsável por suprimir inflamações e controlar o equilíbrio de sal e água no organismo. Inclusive o cortisol participa ativamente da resposta do sistema imunológico, ajudando o corpo a combater infecções. Ou seja, ele é um regulador de sistemas importantes e mantém a homeostase – o equilíbrio interno necessário para a sobrevivência.

Quando falamos especificamente do cérebro, o cortisol desempenha uma função ainda mais complexa. Ele interage diretamente com os receptores nas células do cérebro, principalmente em áreas relacionadas à memória e à resposta emocional, como o hipocampo e a amígdala. Em situações de estresse, o cérebro libera uma série de neurotransmissores, e o cortisol faz parte desse processo, ajudando o cérebro a reagir rapidamente ao perigo. É como se o cortisol fosse o "despertador" do cérebro, mantendo-o alerta e preparado para agir. Porém, quando em níveis elevados por muito tempo, esse "alerta" contínuo pode se tornar problemático, afetando o funcionamento normal das funções cerebrais.

Como o cérebro lida com o cortisol

E como o cérebro reage ao estresse? A resposta é complexa e envolve várias áreas trabalhando em conjunto. Assim que o corpo percebe uma ameaça – seja ela física ou psicológica – o cérebro ativa um sistema de resposta ao estresse, conhecido como eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA). Esse sistema começa no hipotálamo, que envia sinais à hipófise, e esta, por sua vez, estimula as glândulas suprarrenais a liberar cortisol. O cortisol, então, ajuda o corpo a se preparar para a famosa reação de "lutar ou fugir", aumentando a frequência cardíaca, liberando glicose e desligando temporariamente funções não essenciais, como a digestão e a resposta imune.

Diversas regiões do cérebro são afetadas diretamente pelo cortisol durante esse processo. A amígdala, é uma das principais responsáveis pela resposta emocional ao estresse, identificando o perigo e gerando sentimentos de medo e ansiedade. O hipotálamo, como já mencionei, é o responsável por iniciar todo o processo de resposta ao estresse. O hipocampo, por outro lado, é fundamental para a formação de novas memórias e está diretamente envolvido na regulação do cortisol – ele ajuda a controlar a quantidade de cortisol liberada, garantindo que os níveis não fiquem muito altos. No entanto, o hipocampo é também uma das áreas mais vulneráveis ao excesso de cortisol, o que pode prejudicar a memória a longo prazo. O córtex pré-frontal, por fim, é a parte do cérebro responsável pelas tomadas de decisões e pelo comportamento racional. Ele também é sensível ao cortisol e, quando exposto a níveis elevados desse hormônio por muito tempo, pode sofrer alterações que afetam a nossa capacidade de fazer escolhas ponderadas.

O cortisol e o comportamento

Os efeitos do cortisol no comportamento são diversos e podem variar de pessoa para pessoa. Em curto prazo, o cortisol é o que nos mantém focados e prontos para agir, o que pode ser útil em algumas situações, como uma entrevista de emprego ou uma prova importante. Porém, em níveis elevados e contínuos, o cortisol pode nos deixar mais irritáveis, ansiosos e até agressivos. Ele também pode alterar a maneira como nos relacionamos com os outros, tornando-nos mais propensos a reagir de maneira defensiva ou impulsiva. É interessante notar que o cortisol pode ter tanto um efeito motivador quanto desmotivador, dependendo da situação e dos níveis em que está presente no corpo.

A curto prazo, o cortisol tem efeitos bastante claros e imediatos. Durante uma situação de estresse, ele nos ajuda a permanecer alerta, focados e prontos para agir. Aumenta a frequência cardíaca, dilata as pupilas e desvia energia para os músculos, preparando o corpo para uma ação rápida. Isso é útil em situações de perigo imediato, como um acidente ou uma emergência. No entanto, essa mesma resposta pode ser ativada em situações cotidianas, como durante um trânsito caótico ou um prazo de trabalho apertado, e é aí que começam os problemas. O aumento temporário de cortisol pode fazer com que nos sintamos ansiosos, irritados e sobrecarregados, o que pode prejudicar nossa capacidade de lidar com desafios de maneira saudável.

O impacto do cortisol a longo prazo, no entanto, pode ser bem mais preocupante. Quando estamos constantemente expostos ao estresse, nossos níveis de cortisol permanecem elevados por um período prolongado, o que pode trazer sérias consequências para a saúde física e mental. O estresse crônico está associado a uma série de problemas de saúde, como pressão alta, ganho de peso, enfraquecimento do sistema imunológico e até doenças cardíacas. O excesso de cortisol pode começar a prejudicar áreas-chave do cérebro, como o hipocampo, resultando em problemas de memória e dificuldade de concentração. A longo prazo, o cortisol cronicamente elevado pode levar ao esgotamento emocional e físico, um estado em que o corpo simplesmente não consegue mais lidar com o estresse.

O excesso de cortisol na saúde

A relação entre o excesso de cortisol e problemas como depressão e ansiedade também é muito discutida. Quando os níveis de cortisol permanecem altos por muito tempo, isso pode alterar o equilíbrio químico do cérebro, prejudicando a produção de neurotransmissores importantes como a serotonina, que está ligada à sensação de bem-estar. Esse desequilíbrio pode levar ao desenvolvimento de transtornos de humor, como depressão e ansiedade. Pessoas que sofrem de depressão, muitas vezes têm níveis elevados de cortisol, o que pode agravar os sintomas de tristeza, desânimo e falta de energia. Da mesma forma, o excesso de cortisol pode intensificar os sintomas de ansiedade, deixando a pessoa em um estado constante de alerta e preocupação.

Os problemas de memória e cognição também estão intimamente ligados ao excesso de cortisol. Como mencionado anteriormente, o hipocampo é uma das áreas mais afetadas pelo estresse crônico. Essa região do cérebro é fundamental para a formação e o armazenamento de novas memórias, e quando o cortisol está elevado por longos períodos, o hipocampo pode encolher e perder parte de sua capacidade funcional. Isso se traduz em dificuldade para lembrar de informações recentes e para aprender novas habilidades. Inclusive o estresse prolongado pode prejudicar a capacidade de concentração e o raciocínio lógico, afetando o desempenho em tarefas cotidianas e profissionais.

Outro aspecto interessante é como o estresse crônico afeta as tomadas de decisões. O córtex pré-frontal, que é a área responsável por nos ajudar a tomar decisões racionais e equilibradas, também é muito sensível ao cortisol. Em situações de estresse prolongado, o córtex pré-frontal pode ser "desligado", por assim dizer, enquanto outras áreas mais primitivas do cérebro, como a amígdala, assumem o controle. Isso significa que, em vez de tomarmos decisões ponderadas e racionais, somos mais propensos a reagir de maneira emocional e impulsiva. Isso pode afetar nossas escolhas em situações cotidianas, levando a arrependimentos e decisões das quais podemos nos arrepender mais tarde.

O estresse crônico e o excesso de cortisol também estão associados as mudanças de humor e comportamentos impulsivos. Quando estamos sob constante pressão, nossa capacidade de regular as emoções fica prejudicada, o que pode resultar em oscilações de humor, irritabilidade e até explosões de raiva. Como o córtex pré-frontal fica comprometido, ficamos mais propensos a agir impulsivamente, sem pensar nas consequências a longo prazo de nossas ações. Isso pode afetar não apenas nossa vida pessoal, mas também nossos relacionamentos e desempenho no trabalho.

Agora que entendemos melhor o papel do cortisol no corpo e no cérebro, fica claro que, embora ele seja essencial para nossa sobrevivência, o excesso desse hormônio pode trazer consequências sérias para nossa saúde mental e física. Por isso, é fundamental aprender a gerenciar o estresse e buscar maneiras de manter os níveis de cortisol equilibrados,

Controlando o cortisol

Uma das estratégias mais eficazes para reduzir o cortisol é o exercício físico. Quando nos exercitamos, nosso corpo libera uma série de hormônios que ajudam a aliviar o estresse, como as endorfinas, que promovem sensações de bem-estar e prazer. O exercício físico também pode ajudar a regular o cortisol, especialmente se for realizado de forma regular e moderada. Atividades como caminhada, corrida leve, yoga e até mesmo musculação podem ser ótimas maneiras de manter os níveis de cortisol sob controle. No entanto, é importante destacar que o excesso de atividade física também pode ter o efeito oposto, elevando o cortisol. Por isso, encontrar um equilíbrio é fundamental. Praticar exercícios de forma consciente e respeitando os limites do corpo é uma das chaves para evitar que o estresse do cotidiano afete nossa saúde.

Além do exercício físico, práticas como a meditação e o mindfulness têm se mostrado extremamente eficazes na redução do cortisol. A meditação, especialmente a meditação focada na respiração, ajuda a acalmar a mente e a diminuir a atividade da amígdala, responsável por processar o medo e o estresse. Ao praticar a meditação, ou seja, a atenção plena no momento presente, conseguimos desviar nossa mente de preocupações e ansiedades futuras, o que contribui diretamente para a redução dos níveis de cortisol. Não é necessário meditar por longos períodos para sentir os benefícios, apenas alguns minutos por dia de foco na respiração ou de meditação guiada já podem fazer uma grande diferença.

O sono de qualidade também é uma estratégia para controlar o cortisol. Quando dormimos mal, nosso corpo tende a liberar mais cortisol na manhã seguinte, em um ciclo que pode se tornar prejudicial a longo prazo. A privação de sono aumenta o estresse e a ansiedade, enquanto o sono reparador ajuda a regular o sistema de resposta ao estresse. Para garantir uma boa noite de sono, é importante criar uma rotina relaxante antes de deitar. Isso inclui evitar o uso de aparelhos eletrônicos pouco antes de dormir, reduzir o consumo de cafeína ao longo do dia e manter o ambiente do quarto escuro e silencioso. É recomendável tentar manter horários regulares para dormir e acordar, o que ajuda a estabilizar o ritmo circadiano e reduzir a liberação desnecessária de cortisol.

Uma alimentação equilibrada é outra peça fundamental no controle do cortisol. Certos alimentos têm o poder de reduzir os níveis de estresse no corpo, enquanto outros podem aumentá-los. Alimentos ricos em antioxidantes ajudam a combater os radicais livres que o estresse gera no corpo, enquanto o consumo de gorduras saudáveis, como as encontradas no abacate e no salmão, óleo de coco podem auxiliar na regulação hormonal. O magnésio, por exemplo, é um mineral que ajuda a relaxar os músculos, e pode ser encontrado em alimentos como espinafre, amêndoas. Por outro lado, é bom evitar alimentos processados, ricos em açúcar, que podem levar a picos de insulina e aumentar o estresse no organismo. Manter uma dieta balanceada, com refeições regulares ao longo do dia, também ajuda a estabilizar o nível de glicose no sangue e, consequentemente, a reduzir o cortisol.

Outra estratégia poderosa para controlar o cortisol envolve as interações sociais saudáveis. Estar cercado por pessoas com quem temos uma conexão positiva pode ter um impacto profundo no nosso bem-estar emocional.  Conversas significativas, momentos de lazer em grupo e até mesmo o simples ato de abraçar alguém liberam ocitocina, o chamado "hormônio do amor", que tem efeito calmante e contrabalança os níveis de cortisol no corpo. Portanto, investir tempo em fortalecer laços sociais, compartilhar emoções e experiências com outras pessoas e buscar apoio emocional quando necessário são atitudes que podem fazer uma grande diferença no manejo do estresse. Isso nos lembra o quanto somos seres sociais, e como o contato humano pode ser uma ferramenta poderosa na promoção do bem-estar.

Considerações finais

Agora o caro eleitor entende como o cortisol, um hormônio essencial par ao corpo pode influenciar tanto nosso comportamento, e que seu excesso pode encadear vários problemas para todos nós. Uma das peças-chaveara controlar o cortisol é entender de como ele funciona e sua consistência. Não adianta tentar aplicar todas essas estratégias de uma só vez ou esperar resultados imediatos. Reduzir o estresse e equilibrar o cortisol é um processo contínuo, que requer um pouco de paciência e atenção aos sinais que é dado pelo nosso corpo e como pessoa reage de maneira diferente ao estresse, e pode ser necessário experimentar diferentes abordagens até encontrar o que funciona melhor para você. Se você está sofrendo de estresse crônico é sempre bom consultar um médico também para saber a opinião de um profissional de saúde. Com certeza isso pode ser controlado, mas requer tornar parte de uma rotina diária, e sempre ficar atento sobre os sinais que o corpo pode dar em nossa rotina.



Referências:

O que é cortisol?: https://www.mdsaude.com/um-minuto/o-que-e-cortisol/

Cortisol: efeito anti-inflamatório e imunodepressor: https://sanarmed.com/cortisol-efeito-anti-inflamatorio-e-imunodepressor/

Estudos neuropsicológicos e de neuroimagem associados ao estresse emocional na infância e adolescência: https://www.scielo.br/j/rpc/a/JLsvNHV9zQXQFM39GPMt5Xx/

Estresse, depressão e hipocampo: https://www.scielo.br/j/rbp/a/qbDTWLYkGg6VkXRQnYRVStF/

Cérebro: o órgão central do estresse e da adaptação ao longo da vida: https://www.enciclopedia-crianca.com/cerebro/segundo-especialistas/cerebro-o-orgao-central-do-estresse-e-da-adaptacao-ao-longo-da-vida

Compreendendo a resposta ao estresse: https://www.health.harvard.edu/staying-healthy/understanding-the-stress-response

Efeitos do estresse na estrutura neuronal: hipocampo, amígdala e córtex pré-frontal: https://www.nature.com/articles/npp2015171.pdf

Impacto do cortisol na função cerebral: como o estresse afeta a memória e o desempenho cognitivo: https://neurolaunch.com/cortisol-effect-on-brain-function/

Compreendendo as relações entre estresse fisiológico e psicossocial, cortisol e cognição: https://www.frontiersin.org/journals/endocrinology/articles/10.3389/fendo.2023.1085950/full

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