Quando comecei meu interesse sobre entender o comportamento, me chegou algumas vertentes interessante sobre psicologia e comportamento, deparei-me com o interbehaviorismo de J. R. Kantor. Essa abordagem me deu um certo interesse de entender profundamente como concebe o comportamento humano em interações constante com o ambiente. Kantor propôs uma visão, talvez, revolucionária, mas também complexa, que vai além da simples observação do comportamento isolado, ele enfatizava a importância do contexto completo em que ocorre o evento. Essa perspectiva me fez pensar sobre como podemos entender e analisar as ações humanas no dia a dia. Vamos explorar um pouco o interbehaviorismo de Kantor.
Ao mergulhar em sua história, percebi que seu desenvolvimento foi um processo bem gradual e meticuloso. Kantor, influenciado pelas ciências naturais e pelo pragmatismo filosófico, buscou criar uma psicologia verdadeiramente científica, livre de pressuposto metafísico — assim como a ciência do comportamento em geral. Ele acreditava que o comportamento não poderia ser compreendido sem considerar o ambiente e o contexto temporal em que ocorria. Essa perspectiva levou à formulação de um sistema teórico abrangente, oferecendo uma alternativa bem detalhada para o estudo do comportamento.
Os princípios centrais do interbehaviorismo giram em torno da ideia de que o comportamento é um evento interativo, não algo que ocorre dentro do organismo de forma isolada. Kantor propôs que devêssemos estudar o comportamento como uma função das interações entre organismo e ambiente, considerando todos os fatores envolvidos. Isso pode incluir não apenas os estímulos imediatos, mas também a história do indivíduo, o contexto cultural e as condições ambientais presentes. Essa abordagem sistêmica nos permite compreender melhor a complexidade das ações humanas, evitando reducionismo que possam limitar nossa compreensão.
Um dos conceitos é o campo intercomportamental, que enfatiza a relação dinâmica entre o comportamento e o ambiente em um contexto temporal específico. Isso significa que não podemos analisar o comportamento sem levar em conta o momento e o ambiente em que ele ocorre. Cada evento comportamental é único do indivíduo e o resultado de múltiplas interações simultâneas. Por exemplo, a reação de uma pessoa a uma situação estressante não é apenas uma resposta ao estímulo presente, mas também pode ser influenciada por experiências passadas, expectativas futuras e o ambiente físico e social imediato. Ou seja, tudo isso podendo influenciar para ações atuais.
Outro conceito do interbehaviorismo é o evento comportamental, ele envolve uma série de fatores interrelacionados, incluindo estímulos, respostas e o meio ambiente. Não é apenas a reação a um estímulo, mas todo o processo que envolve a história do indivíduo, o contexto presente e suas possíveis consequências futuras. Essa visão nos permite entender comportamentos complexos de maneira mais aprofundada. Ao analisar por que alguém desenvolveu um hábito prejudicial, o interbehaviorismo nos incentiva a considerar todas as influências ambientais e históricas que contribuíram para este comportamento, e não apenas só uma.
Comparando o interbehaviorismo de Kantor com o behaviorismo radical de Skinner, encontramos tanto semelhanças quanto diferenças significativas. Ambas as vertentes sobre ciência do comportamento enfatizam o comportamento observável e a importância do ambiente na formação das ações humanas. No entanto, enquanto Skinner concentra-se nas contingências de reforço e no condicionamento operante como principais mecanismos, Kantor amplia a análise para incluir o contexto completo do evento comportamental, incluindo fatores históricos, culturais e situacionais. Enquanto Skinner buscava princípios universais de comportamento, Kantor enfatizava a singularidade de cada evento comportamental. O que tornava o interbehaviorismo muito mais completo que o behaviorismo radical.
Nas práticas empíricas, Skinner é muito conhecido por seus experimentos controlados e pela aplicação prática em ambientes como salas de aula e clínicas, desenvolvendo estudos empíricos aprofundados do comportamento. Já Kantor adotou uma abordagem mais teórica e filosófica, enfatizando a necessidade de uma metodologia que capture a complexidade das interações comportamentais. Isso torna o interbehaviorismo menos aplicado em contextos experimentais tradicionais, mas oferece uma visão mais profunda que pode enriquecer a compreensão teórica e a análise dos comportamentos. A sua complexidade contribuiu muito para o desinteresse acadêmico para experimentações.
Agora, ao compararmos o interbehaviorismo com a terapia cognitivo-comportamental (TCC), percebemos que ambos reconhecem a influência do ambiente no comportamento. Contudo, a TCC incorpora processos cognitivos como pensamentos, crenças e emoções como fatores mediadores entre estímulos e respostas. Enquanto isso, o interbehaviorismo mantém o foco nas interações observáveis e no contexto ambiental, sem recorrer a construtores mentais internos. Essa diferença destaca como cada abordagem lida com aspectos internos versus externos do comportamento, e como isso possa influenciar as estratégias de intervenções.
As aplicações práticas do interbehaviorismo na psicoterapia geral podem ser significativas. Ao considerarmos o contexto completo do comportamento, os terapeutas podem identificar fatores ambientais que contribuem para comportamentos problemáticos, permitindo intervenções mais eficazes, direcionadas não apenas ao indivíduo, mas também às mudanças no ambiente que podem facilitar a modificação comportamental. Em casos de ansiedade social, ao invés de focar apenas nos sintomas internos, o interbehaviorismo encorajaria uma análise das interações sociais específicas e dos contextos que desencadeiam a ansiedade.
No mundo atual, o interbehaviorismo torna-se muito importante no estudo do comportamento digital. As interações constantes com a tecnologia cria novos ambientes que influenciam nosso comportamento de maneiras sem precedentes. Ao analisarmos essas interações através da perspectiva interbehaviorista nos ajuda a compreender fenômenos como dependência digital, cyberbullying e a maneira como as redes sociais moldam nossa visão e ações. Ao considerar o contexto tecnológico do campo intercomportamental, podemos desenvolver estratégias para lidar com os desafios comportamentais emergentes.
Essa perspectiva oferece novas maneiras de abordar problemas como saúde mental e vício em tecnologia e redes sociais. Quando entendemos o comportamento como resultado de interações complexas com o ambiente digital, podemos desenvolver estratégias de intervenção que consideram o contexto tecnológico em que vivemos. Programas de reeducação digital podem ser estruturados para modificar não apenas o uso individual da tecnologia, mas também para influenciar o design das plataformas digitais de maneira a promover interações mais saudáveis.
Para ilustrar o interbehaviorismo, pense em como reagimos às notificações no smartphone. Cada vez que ouvimos o som de uma notificação de nova mensagem, não é apenas um estímulo isolado, envolve nossa história com o dispositivo, a expectativa de comunicação, o contexto social (por exemplo, se estamos esperando uma mensagem importante) e o ambiente físico em que estamos. Compreender isso pode ajudar a explicar por que é tão difícil ignorar essas notificações e como elas podem influenciar nosso comportamento de maneira profunda, afetando nossa atenção e produtividade.
Claro, o interbehaviorismo não está isento de críticas. Alguns argumentam que sua complexidade teórica dificulta a aplicação prática e a falta de ênfase em processos internos limita sua capacidade explicativa em relação a fenômenos como pensamentos e emoções - assim como a ciência do comportamento em geral. Sua abordagem abrangente pode ser vista como menos objetiva em comparação com métodos mais experimentais, como de Skinner, o que pode dificultar a validação empírica de seus princípios. Essas críticas podem destacar algumas necessidades do equilíbrio entre teoria e aplicabilidade.
Apesar das críticas, o legado de Kantor é inegável. Sua contribuição para a psicologia e ciência do comportamento abriu novas perspectivas e influenciou outros pensadores a considerar o comportamento humano de maneira mais integrada e contextualizada. Seu trabalho continua a inspirar debates e pesquisas sobre como melhor compreender a complexidade das interações humanas.
O interbehaviorismo tem uma clareza nos estudos e descreve muitos fatores responsáveis pelo comportamento, ele nos convida a entender o comportamento de forma ampla no espectro de influências que moldam nossas ações. Essa perspectiva pode nos dá uma compreensão de nós mesmo e do ambiente em nossa volta. Agora, façamos uma reflexão: Como podemos aplicar essa perspectiva em nossa vida diária? Quais comportamentos podemos reavaliar ao considerar o contexto completo em que eles ocorrem? Fica o convite para refletirmos sobre essas questões e aprofundarmos nosso entendimento sobre nós mesmos e o mundo ao nosso redor.
Referências:
J. R. Kantor: https://en.wikipedia.org/wiki/J._R._Kantor
Psicologia intercomportamental e behaviorismo radical: algumas semelhanças e diferenças: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2741757/
Behaviorismo: https://en.wikipedia.org/wiki/Behaviorism
Uma Introdução ao Interbehaviorismo: Contribuições para uma Ciência Natural do Comportamento: https://periodicos.ufpa.br/index.php/rebac/article/view/16582
A origem e evolução da psicologia intercomportamental: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4294585/mod_resource/content/1/The%20origin%20and%20evolution%20of%20interbehavioral%20psychology%20_%20Kantor%201973.pdf
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