Empatia é uma das coisas, se não for a mais fascinantes que nós, seres humanos, sentimos. Talvez seja algo que realmente nos faz sermos humanos. Mas você já parou para pensar sobre o que significa realmente "sentir" a dor de outra pessoa? Ela é frequentemente usada no nosso cotidiano, mas o que a ciência moderna nos diz sobre isso? Recentemente, a neurociência começou a tentar desvendar os verdadeiros mistérios por trás dessa capacidade humana. Vamos explorar como nosso cérebro processa essas emoções compartilhadas e como isso pode ter um impacto em nossas ações.
Você já se preocupou com alguma pessoa em sua volta, dela está triste ou desanimada e isso te incomodou? A maioria das vezes é a "empatia" agindo em seus processos cerebrais, tentando criar um sentimento pela outra pessoa, ou tentando entender o sentimento dela. Mais do que uma simples reação emocional, ela envolve uma série de processos cerebrais complexos, todos eles interrelacionando. Quando observamos alguém em sofrimento, certas regiões do nosso cérebro são ativadas de forma semelhante à quando estamos sofrendo também. Isso significa que, em um nível neurológico, nós realmente "sentimos" o que a outra pessoa está passando.
A empatia não é um fenômeno uniforme, ela varia de acordo com fatores como o contexto, o tipo de relacionamento com a pessoa que está sofrendo e até a emoção que estamos sentindo na hora. Você pode sentir uma empatia mais forte por uma pessoa e ter uma mais moderada por outra e isso varia também até do momento. Embora a empatia pareça ser uma resposta automática e mecânica, é, na verdade, um fenômeno flexível e moldado por diferentes influências que estamos sentindo.
Em estudos de neuroimagem, como a ressonância magnética funcional, foi mostrado que a empatia envolve a ativação de várias regiões cerebrais, alguma delas como a ínsula anterior e o córtex cingulado anterior. Estas áreas estão envolvidas na experiência direta de emoções e na percepção da dor. Quando vemos alguém se machucar, ou precisando de ajuda, não apenas imaginamos a dor, mas também ativamos os circuitos cerebrais associados à dor, ou seja, sentimos também a dor de outra pessoa em nosso próprio corpo.
Ela também envolve um processamento cognitivo, como a capacidade de imaginar a perspectiva da outra pessoa diante a situação. Isso permite que ajustemos nossa resposta empática naquele dado momento e dependendo de quem é o alvo ou do contexto em que se ocorre. Assim, o cérebro funciona coordenando diferentes sistemas para gerar uma resposta empática adequada.
Um dos maiores interesses na pesquisa sobre empatia é entender como ela se relaciona com o comportamento social. Afinal, sentir a dor do outro é apenas o primeiro passo. A empatia, muitas vezes, leva ao que é conhecido como "preocupação empática" ou "compaixão", que é um sentimento orientado para ajudar o outro. Alguns estudos têm mostrado que há uma conexão clara entre a preocupação empática e comportamentos pró-sociais, como ajudar ou confortar alguém em necessidade. E isso pode ter um benefício social.
No entanto, essa conexão não é sempre direta. Um excesso de empatia pode, paradoxalmente, levar a uma resposta de angústia pessoal, onde o indivíduo se sente tão angustiado com o sofrimento do outro que prefere se afastar para aliviar seu próprio desconforto. Nem sempre a empatia resulta em ações altruístas, às vezes, pode levar ao egoísmo e à fuga do sofrimento percebido.
Um campo de pesquisa especialmente interessante é a investigação sobre as diferenças individuais na capacidade de sentir empatia. Por que algumas pessoas parecem ser naturalmente mais empáticas do que outras? A neurociência sugere que essas variações podem estar ligadas a diversos fatores, como a genética, os níveis hormonais, as experiências e crenças vividas ao longo da vida. Também há indícios de que certas características de personalidade, como a extroversão ou o estilo de apego, possa desempenhar um papel importante em como as pessoas percebem e reagem às emoções dos outros. Exemplificando, pessoas mais extrovertidas tendem a demonstrar maior empatia, possivelmente porque têm uma habilidade mais desenvolvida para se conectar socialmente e se colocar no lugar do outro. Em outros casos semelhantes, indivíduos com estilos de apegos mais fortes, geralmente mostram uma resposta mais forte e consistente em ajudar.
Dado o papel central da empatia na vida social, muitos pesquisadores estão interessados em saber se é possível treinar a empatia. Alguns sugerem que sim, mas o tipo de treinamento que poderia ser mais eficaz continua a ser debatido. Treinamentos que focam em aumentar a consciência sensorial e o compartilhamento afetivo entre as pessoas, ou que desenvolvem sentimentos compassivos positivos para reduzir a angústia pessoal, parecem mostrar ser promissores. Contudo, esses treinamentos podem variar muito conforme a idade, personalidade e experiência do indivíduo e não dá para saber totalmente a eficácia ou o melhor treinamento.
A empatia é um fenômeno fascinante e no mesmo tempo bem complexo para entendermos, ela é moldada por fatores biológicos, psicológicos e sociais. Os avançamos na nossa compreensão deste fascinante aspecto da natureza humana, podemos começar a explorar formas de cultivá-la para construir sociedades mais conectadas. Esse foi apenas um resumo das pesquisas, e novas vão surgir, e nosso entendimento de cada mecanismo não foi bem estabelecido. Afinal, a empatia não é apenas sobre sentir a dor do outro, mas também sobre agir para aliviar essa dor e promover o bem-estar coletivo.
Referências
Sinto como você se sente, mas nem sempre: o cérebro empático e sua modulação: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18692571/
O substrato neural da empatia humana: efeitos da tomada de perspectiva e da avaliação cognitiva: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17214562/
A questão do altruísmo: Rumo a uma resposta sócio-psicológica: https://psycnet.apa.org/record/1991-98405-000
A questão do altruísmo: Rumo a uma resposta sócio-psicológica: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16998603/
A base neural da empatia: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22715878/
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