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Já reparou como algumas das suas escolhas parecem seguir um padrão? Talvez você sempre opte por fazer uma caminhada pela manhã ou acabe procrastinando em um projeto importante, mesmo sabendo que deveria começar logo. Mas por que isso acontece? A resposta pode estar no impacto que nossas ações passadas têm sobre nossas decisões futuras.
Acredite ou não, a psicologia tem estudado profundamente como o que fazemos em um momento da nossa vida pode afetar o que faremos depois. Essa influência não é apenas sobre grandes escolhas de vida, ela permeia desde a decisão de tomar um café extra durante o dia até como você lida com situações sociais complexas.
Muitas vezes, o comportamento passado age como um guia invisível para nossas futuras ações. Muitos estudos vêm sendo desenvolvidos com base nesta pesquisa e tem demonstrado que quando as pessoas realizam uma determinada ação, como votar em uma eleição ou expressar apoio a uma política, elas tendem a repetir esse comportamento, mesmo que de forma inconsciente. Esse fenômeno ocorre porque o ato de realizar uma ação cria uma espécie de "memória comportamental" que influencia nossas decisões futuras.
Imagine que você foi convencido, talvez sem perceber, de que já apoiou uma determinada política em algum momento. Mesmo que essa informação não seja totalmente precisa ou que você nem se lembre de ter feito isso, a crença de que você agiu dessa forma no passado pode moldar suas futuras opiniões e ações. Isso acontece porque, muitas vezes, nosso cérebro usa o comportamento passado como uma referência, uma espécie de atalho mental, para decidir o que fazer em seguida.
A repetição de comportamentos está ligada a diversos fatores, entre eles, a consistência e a redução da dissonância cognitiva. Quando agimos de uma determinada maneira, tendemos a justificar essa ação para manter uma coerência interna. Essa coerência é uma forma de aliviar o desconforto que sentimos quando nossas ações não estão alinhadas com nossas crenças ou atitudes.
A dissonância cognitiva é uma das teorias mais conhecidas quando falamos de comportamentos e decisões. Ela ocorre quando há um conflito entre nossas ações e nossas crenças. Esse desconforto é tão incômodo que buscamos formas de reduzi-lo, seja mudando nossas crenças, seja alterando nossos comportamentos futuros para alinhar tudo em um sistema mais coerente.
Vamos exemplificar um pouco, se alguém se vê como uma pessoa saudável, mas percebe que tem hábitos alimentares ruins, essa dissonância gera desconforto. Para aliviar esse incômodo, a pessoa pode tentar mudar seus hábitos ou, de forma mais comum, justificar suas ações de uma maneira que faça sentido para ela. Esse processo de ajuste mental é uma tentativa de alinhar comportamento e crenças, criando um ciclo que fortalece certos comportamentos ao longo do tempo.
Outro exemplo é, imagine que você acredita ser uma pessoa preocupada com o bem-estar animal e adota uma postura de consumo consciente ou se torna vegetariano, mas ainda sente vontade de comer carne ou come carne em algumas ocasiões, como festa que é convidado. Esse conflito entre sua ação (comer carne) e sua crença (preocupação com o bem-estar animal) cria uma dissonância. Para reduzir esse desconforto, você pode começar a justificar o consumo de várias formas, como dizendo para si que precisa de proteína animal ou que compensa comendo menos carne ou optando por produtos de origem animal de fontes mais sustentáveis.
Quando confrontados com uma escolha, nosso cérebro muitas vezes pensa: “Já fiz isso antes, então é provavelmente a coisa certa a fazer novamente.” Essa tendência economiza esforço cognitivo e nos ajuda a lidar com decisões diárias sem precisar repensar cada detalhe.
Usar o comportamento passado como um atalho para decisões futuras pode ser uma faca de dois gumes. Por um lado, simplifica a vida e reduz o esforço mental necessário para tomar decisões e por outro, pode levar à repetição de comportamentos prejudiciais ou desatualizados, simplesmente porque parecem ser a coisa certa a se fazer.
Quando tomamos decisões com base em comportamentos passados, nem sempre avaliamos se as condições que levaram àquela escolha. Uma pessoa pode continuar a frequentar um restaurante que gosta, sem perceber que a qualidade dos pratos caiu com o tempo. A memória de boas experiências anteriores serve como um atalho que evita uma reavaliação da situação atual.
Uma das descobertas mais curiosas na psicologia do comportamento é a ideia de que a percepção do passado pode ser moldada, e isso, por sua vez, altera nossas decisões futuras. Em estudos experimentais, foi mostrado que, ao fazer com que as pessoas acreditem que tomaram certas decisões no passado (mesmo que não tenham), é possível influenciar significativamente suas escolhas futuras.
Esse tipo de moldagem da memória comportamental explora uma falha em como lidamos com nossas lembranças: nem sempre elas são precisas. Ao criar uma percepção alterada do que aconteceu, as futuras decisões das pessoas são moldadas de acordo com esse passado fabricado. Essa é uma técnica que, embora utilizada de forma ética em pesquisas, levanta questões sobre como nossa memória pode ser vulnerável a influências externas.
No final das contas, entender como o comportamento passado influencia nossas decisões futuras é um passo essencial para termos mais controle sobre nossas escolhas. Muitas vezes, agimos sem perceber que estamos apenas repetindo padrões que, embora familiares, nem sempre são os melhores. A próxima vez que você se pegar repetindo um comportamento, pare e se pergunte: estou agindo assim porque é o melhor para mim agora ou porque já fiz isso antes? Essa simples reflexão pode ser o primeiro passo para escolhas mais conscientes e alinhadas com quem você deseja se tornar.
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