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Imagine navegar em um oceano onde as ondas oscilam entre calmas e tranquilas para tempestades turbulentas e sem aviso. Assim é a jornada diária no cérebro de uma pessoa com transtorno bipolar. Vamos entender um pouco neste artigo do que a ciência sabe sobre o que acontece no cérebro de uma pessoa que sofre de transtorno bipolar
O que é o Transtorno Bipolar?
O transtorno bipolar, conforme definido pelo DSM (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), é caracterizado por uma mudança significativa no humor e na atividade, oscilando entre dois extremos, ou seja, episódios de mania ou episódios de depressão. Durante a fase maníaca, a pessoa pode experimentar um aumento de energia, euforia, pensamentos acelerados, uma diminuição de sono, ela se sente com uma grande vontade de fazer diferentes atividades. Já na fase depressiva, a pessoa tem sentimentos de tristeza profunda, falta de energia, alterações no apetite e até mesmo pensamentos suicidas, ela não sente vontade de fazer qualquer atividade.
Essas oscilações de humor que a pessoa vivencia podem ser bastante extremas em alguns casos, e até mesmo imprevisíveis, o que torna o transtorno bipolar um grande desafio para ser enfrentado para familiares e amigos em sua volta É muito importante compreender o que acontece no cérebro durante cada uma das fases e entender de como vem cada uma delas, e isso tanto o paciente poder desenvolver estratégias para se manter estável como também para desenvolver tratamentos.
Em muitos estudos é indicado que o transtorno bipolar afeta cerca de 1% a 2% da população mundial. No Brasil, a prevalência é semelhante à média mundial, com estudo apontando que 1,5% da população brasileira pode ser afetada por esse transtorno.
Entendendo o transtorno bipolar
O papel da genética, do ambiente e fatores psicossociais é muito importante para entender o transtorno bipolar. Evidências apontam que há uma herdabilidade de 70% a 80% nos casos de transtorno bipolar, ou seja, isso significa que das vezes que uma pessoa tem o diagnóstico, alguém muito próximo, como um pai, filho ou irmão também terá o diagnóstico. Em estudos do genoma, porém, ainda não identificaram genes específicos que expliquem de forma cala as alterações de comportamentos e de humor no transtorno bipolar. Os diferentes fatores como estresse, problemas familiares, dificuldades em relacionamento ou no trabalho podem desencadear diferentes episódios como maníaco ou depressivo em pessoas predispostas geneticamente.
Um ponto interessante de observar, é que, tem sido identificado em diferentes estudos a alteração nos níveis de neutrofinas no cérebro, essas moléculas são muito importante para o funcionamento correto do cérebro. Especificamente, há uma diminuição nos níveis do Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF) em pessoas com transtorno bipolar. O BDNF é muito importante para a manutenção cerebral, ele promove a homeostase neuronal, e sobrevivência dessas células. Em estudos tem mostrado que a utilização de estabilizadores de humor tem aumentado o BDNF e assim contribuindo para melhoria em muitos pacientes. Isso sugere que uma parte das alterações de humor está relacionado com um desequilíbrio nos níveis de neutrofinas no cérebro.
Outro ponto fundamental no cérebro de uma pessoa bipolar é a alteração do ritmo circadiano. O ritmo circadiano refere-se ao ciclo biológico natural de aproximadamente 24 horas que regula muitas funções fisiológicas do corpo humano. Este ritmo influencia processos como o ciclo sono-vigília, a regulação da temperatura corporal, a secreção de hormônios, o metabolismo e até o comportamento. Em alterações de sono, por exemplo, as funções cerebrais podem se alterar, e pacientes com transtorno bipolar tem alterações no ciclo de sono e vigília no ritmo circadiano. Umas das principais alterações são quando a pessoa pode começar a sentir sono mais tarde e acordar mais tarde também, ou também ela pode sentir sono durante o dia. Durante episódios maníacos é comum que se tenha uma diminuição na necessidade de sono, enquanto na fase depressiva pode haver uma grande necessidade de dormir por longos períodos.
Outro ponto que estudos tem demonstrado é que a mudança na forma como diferentes partes do cérebro se comunicam pode influenciar nas manifestações dos diferentes episódios. No sistema límbico, que lida com nossas emoções e memórias estão a amígdala, o hipocampo, e a ínsula. A amígdala ajuda a processar emoções como medo, o hipocampo é importante para formar nossas memórias, e a ínsula percebe o estado interno do corpo e emoções. No córtex pré-frontal, responsável pelo planejamento, tomada de decisões e controle sobre comportamentos que regula nossas emoções, em pessoas com transtorno bipolar, essas áreas do cérebro não se comunicam bem entre si, causando problemas nos processamentos de emoções e no controle de comportamento
Durante a fase depressiva do transtorno bipolar, a pessoa pode ter mais pensamentos negativos e sentimentos profundos de tristeza, pois a amígdala e o hipocampo funcionam de maneira que reforçam essas emoções negativas. As dificuldades em planejar e tomar decisões é resultado do córtex pré-frontal não funcionar devidamente correto. Na fase maníaca, a pessoa pode se sentir extremamente animada e impulsiva devido à amígdala enviar sinais de euforia e prazer de forma exagerada, e o córtex pré-frontal ter dificuldades para controlar esse comportamento, levando a ações impulsivas e até irritabilidade. Essas mudanças no cérebro explicam por que as pessoas com transtorno bipolar experimentam oscilações tão intensas de humor.
Considerações finais
O transtorno bipolar é uma condição muito complexa que envolve mudanças significativas no humor e na atividade, influenciado por diferentes fatores, sejam ele genéticos, ambientais ou sociais. A neurociência tem avançado no entendimento dessa condição, mas ainda há muito a ser descoberto. Pesquisas continuarão a se desenvolver para entender melhor essa condição. Se você tem interesse por este tema, faça uma pesquisa na internet sobre ele, e não deixe de consultar as referências como complemento.
Referências:
Transtorno bipolar afeta 140 milhões de pessoas no mundo e tem difícil diagnóstico: https://jornal.usp.br/radio-usp/transtorno-bipolar-afeta-140-milhoes-de-pessoas-no-mundo-e-tem-dificil-diagnostico/
Fator neurotrófico derivado do cérebro: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fator_neurotr%C3%B3fico_derivado_do_c%C3%A9rebro
Neurotrofina: https://pt.wikipedia.org/wiki/Neurotrofina
Fatores genéticos e ambientais na manifestação do transtorno bipolar: https://www.scielo.br/j/rpc/a/DCqstVXbfKrJnSqQFxmvjmw/
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